30.12.09

Simpatia de Ano-Novo

"Ainda sou da opinião de que simpatia que funciona é a de uns para com os outros." O resto é babaquice, acrescentaria.

Direto do O Melhor do Twitter, retuitado do Renato Alt.

25.12.09

Então é Natal...

Não adianta, e que me perdoem aqueles que tem que conviver comigo, não tenho o hábito de comprar presentes, mandar cartões ou mensagens piscantes natalinas, de aspirar o insípido clima de bondade no ar e muito menos observar o fiapo de significado religioso/cultural [1] [2] [3] e demais efemérides hagiográficas que sobreviveram ao potente domínio comercial que assola a data. Prefiro presentear quem eu amo o ano todo, quando dá vontade. Se der vontade. Quendo o faço nem sempre acerto, mas o tempo e as tentativas vão me calibrando.

Gosto de dizer que eu adimiro, que estimo, o quanto me agrada a presença e a companhia de alguém diretamente. Sob efeito do álcool ou não, saibam que é sempre sincero. Só muda a articulação melíflua com que as palavras são ditas, mas o significado não é alterado.

Não sou obrigado, mas se pratico atos que fazem o mundo de alguém melhorar, mesmo que não o conheça, é porque eu quero. Porque sinto-me impelido pela minha própria ética, moral ou impulsos límbicos. Nunca por obrigação social, por medo ou objetivando algo. Se há alguma recompensa nisso é interna, particular e não imposta.

Enfim, feliz dia da rabanada para todos!

29.11.09

Criar igreja e se livrar de imposto custa R$ 418

A Michele Santi, da comunidade Ateus e Agnósticos, postou uma reportagem fresquinha de Hélio Schwartsman, da equipe de articulistas da Folha, mostra que bastam cinco dias úteis e R$ 418,42 para criar uma igreja no Brasil com CNPJ, conta bancária e direito de realizar aplicações financeiras livres de IR (Imposto de Renda) e de IOF (Imposto sobre Operações Financeiras).

A reportagem, publicada neste domingo na Folha (íntegra logo abaixo com grifos meus), informa ainda que não existem requisitos teológicos ou doutrinários para a constituição de uma igreja nem se exige um número mínimo de fiéis — basta o registro de sua assembleia de fundação e estatuto social num cartório.

Além de IR e IOF, igrejas estão dispensadas de IPTU (imóveis urbanos), ITR (imóveis rurais), IPVA (veículos) e ISS (serviços), entre outros impostos. Se a Lei Geral das Religiões, já aprovada pela Câmara e aguardando votação no Senado, se materializar, mais vantagens serão incorporadas.

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Bastaram dois dias úteis e R$ 218,42 em despesas de cartório para a reportagem da Folha criar uma igreja. Com mais três dias e R$ 200, a Igreja Heliocêntrica do Sagrado EvangÉlio já tinha CNPJ, o que permitiu aos seus três fundadores abrir uma conta bancária e realizar aplicações financeiras livres de IR (Imposto de Renda) e de IOF (Imposto sobre Operações Financeiras).

Seria um crime perfeito, se a prática não estivesse totalmente dentro da lei. Não existem requisitos teológicos ou doutrinários para a constituição de uma igreja. Tampouco se exige um número mínimo de fiéis. Basta o registro de sua assembleia de fundação e estatuto social num cartório. Melhor ainda, o Estado está legalmente impedido de negar-lhes fé. Como reza o parágrafo 1º do artigo 44 do Código Civil: "São livres a criação, a organização, a estruturação interna e o funcionamento das organizações religiosas, sendo vedado ao poder público negar-lhes reconhecimento ou registro dos atos constitutivos e necessários ao seu funcionamento".

A autonomia de cada instituição religiosa é quase total. Desde que seus estatutos não afrontem nenhuma lei do país e sigam uma estrutura jurídica assemelhada à das associações civis, os templos podem tudo.

A Igreja Heliocêntrica do Sagrado EvangÉlio, por exemplo, pode sem muito exagero ser descrita como uma monarquia absolutista e hereditária. Nesse quesito, ela segue os passos da Igreja da Inglaterra (anglicana), que tem como "supremo governador" o monarca britânico.

Livrar-se de tributos é a principal vantagem material da abertura de uma igreja. Nos termos do artigo 150, VI, b da Constituição, templos de qualquer culto são imunes a impostos que incidam sobre o patrimônio, a renda e os serviços, relacionados com suas finalidades essenciais.

Isso significa que, além de IR e IOF, igrejas estão dispensadas de IPTU (imóveis urbanos), ITR (imóveis rurais), IPVA (veículos), ISS (serviços), para citar só alguns dos vários "Is" que assombram a vida dos contribuintes brasileiros. A única condição é que todos os bens estejam em nome do templo e que se relacionem a suas finalidades essenciais — as quais são definidas pela própria igreja.

O caso do ICMS é um pouco mais polêmico. A doutrina e a jurisprudência não são uniformes. Em alguns Estados, como São Paulo, o imposto é cobrado, mas em outros, como o Rio de Janeiro e Paraná, por força de legislação estadual, igrejas não recolhem o ICMS nem sobre as contas de água, luz, gás e telefone que pagam.

Certos autores entendem que associações religiosas, por analogia com o disposto para outras associações civis, estão legalmente proibidas de distribuir patrimônio ou renda a seus controladores. Mas nada impede — aliás é quase uma praxe — que seus diretores sejam também sacerdotes, hipótese em que podem perfeitamente receber proventos.

A questão fiscal não é o único benefício da empreitada. Cada culto determina livremente quem são seus ministros religiosos e, uma vez escolhidos, eles gozam de privilégios como a isenção do serviço militar obrigatório (CF, art. 143) e o direito a prisão especial (Código de Processo Penal, art. 295).

Na dúvida, os filhos varões dos sócios-fundadores da Igreja Heliocêntrica foram sagrados minissacerdotes. Neste caso, o modelo inspirador foi o budismo tibetano, cujos Dalai Lamas (a reencarnação do lama anterior) são escolhidos ainda na infância.
Voltando ao Brasil, há até o caso de cultos religiosos que obtiveram licença especial do poder público para consumir ritualisticamente drogas alucinógenas.

Desde os anos 80, integrantes de igrejas como Santo Daime, União do Vegetal, A Barquinha estão autorizados pelo Ministério da Justiça a cultivar, transportar e ingerir os vegetais utilizados na preparação do chá ayahuasca — proibido para quem não é membro de uma dessas igrejas.

Se a Lei Geral das Religiões, já aprovada pela Câmara e aguardando votação no Senado, se materializar, mais vantagens serão incorporadas. Templos de qualquer culto poderão, por exemplo, reivindicar apoio do Estado na preservação de seus bens, que gozarão de proteção especial contra desapropriação e penhora.

O diploma também reforça disposições relativas ao ensino religioso. Em princípio, a Igreja Heliocêntrica poderá exigir igualdade de representação, ou seja, que o Estado contrate professores de heliocentrismo.


Colaboraram os bispos CLAUDIO ANGELO, editor de Ciência, e RAFAEL GARCIA, da Reportagem Local

28.11.09

Stanislaw Ponte Preta

Um dos maiores cronistas que esse país já leu, Stanislaw Ponte Preta, pseudônimo de Sérgio Porto foi/é profundo conhecedor da gente brasileira, sobretudo daqueles que moravam na capital da Guanabara, do lado de cá da poça d'água. Uma pena que ele tenha ficado um pouco de lado da juventude desse tempo em que vivemos. Sérgio Porto constrói estilo.

Lembro desse ter sido um dos primeiros textos dele que eu li na época do colégio e desde então não o larguei mais. Recomendo todos os livros de sua autoria, sobretudo o FEBEAPÁ, famoso Festival de Besteiras que Assolam o País. Tirando o domínio da verve, muito aquem da grandiosidade do sobrinho da ermitã da Boca do Mato, esse blog não deixa de ser uma espécie de FEBEAPÁ da religião. É muito cocoroca dizendo bobagem pela aí...

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O Milagre

Naquela pequena cidade as romarias começaram quando correu o boato do milagre. É sempre assim. Começa com um simples boato, mas logo o povo - sofredor, coitadinho, e pronto pra acreditar em algo capaz de minorar sua perene chateação - passa a torcer para que o boato se transforme numa realidade, para poder fazer do milagre a sua esperança.

Dizia-se que ali vivera um vigário muito piedoso, homem bom, tranquilo, amigo da gente simples, que fora em vida um misto de sacerdote, conselheiro, médico, financiador dos necessidades e até advogado dos pobres, nas suas eternas questões com os poderosos. Fora, enfim, um sacerdote na expressão do termo: fizera de sua vida um apostolado.

Um dia o vigário morreu. Ficou a saudade morando com a gente do lugar. E era em sinal de reconhecimento que conservavam o quarto onde ele vivera, tal e qual o deixara. Era um quartinho modesto, atrás da venda. Um catre (porque em histórias assim a cama do personagem chama-se catre), uma cadeira, um armário tosco, alguns livros. O quarto do vigário ficou sendo uma espécie de monumento à sua memória, já que a Prefeitura local não tinha verba para erguer sua estátua.

E foi quando um dia...ou melhor, uma noite, deu-se o milagre. No quarto dos fundos da venda, no quarto que fora do padre, na mesma hora em que o padre costumava acender uma vela para ler seu breviário, apareceu uma vela acesa.

— Milagre!!! — quiseram todos.

E milagre ficou sendo, porque uma senhora que tinha o filho doente, logo se ajelhou do lado de fora do quarto, junto à janela, e pediu pela criança. Ao chegar em casa, depois do pedido - conta-se - a senhora encontrou o filho brincando, fagueiro.

— Milagre!!! — repetiram todos.

E o griito de "Milagre!!!" reboou por sobre montes e rios, vales e florestas, indo soar no ouvido de outras gentes, de outros povoados. E logo começaram as romarias. Vinha gente de longe pedir! Chegava povo de tudo quanto é canto e ficava ali plantado, junto à janela, aguardando a luz da vela. Outros padres, coronéis, até deputados, para oficializar o milagre. E quando eram mais ou menos seis da tarde, hora em que o bondoso sacerdote costumava acender sua vela...a vela se acendia e começavam as orações. Ricos e pobres, doentes e saudáveis, homens e mulheres, civis e militares caiam de joelhos, pedindo.

Com o passar do tempo a coisa arrefeceu. Muitos foram os casos de doenças curadas, de heranças conseguidas, de triunfos os mais diversos. Mas, como tudo passa, depois de alguns anos passaram também as romarias. Foi diminuindo a fama do milagre e ficou, apenas, mais folclore na lembrança do povo.

O lugarejo não mudou nada. Continua igualzinho como era, e ainda existe, atrás da venda, o quarto que fora do padre. Passamos outro dia por lá. Entramos na venda e pedimos ao português, seu dono, que vive há muitos anos atrás do balcão, a roubar no peso, que nos servisse uma cerveja.

O português, então, berrou para um pretinho, que arrumava latas de goiabada numa prateleira:

— Ó Milagre, sirva uma cerveja ao freguês!

Achamos o nome engraçado. Qual o padrinho que pusera o nome de Milagre naquele afilhado? E o português explicou que não, que o nome do pretinho era Sebastião. Milagre era apelido.

— E por quê? - perguntamos.

— Porque era ele quem acendia a vela, no quarto do padre.
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PONTE PRETA, Stanislaw
Tia Zulmira e Eu
Editora Agir
224 pág.
2007
ISBN: 9788522007370

19.11.09

Resumão da PLC 122/2006

O texto abaixo é uma compilação das partes mais importantes para a compreensão do conteúdo do PROJETO DE LEI DA CÂMARA, Nº 122 de 2006, que criminaliza a homofobia e que está em tramitação no Senado Federal. O texto na íntegra pode ser baixado nesse link.

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O atual conceito de cidadania está intimamente ligado aos direitos à liberdade e à igualdade, bem como à idéia de que a organização do Estado e da sociedade deve representar o conjunto das forças sociais e se estruturar a partir da mobilização política dos cidadãos e cidadãs. (...)

Segundo a médica, psicanalista e mestre em Antropologia Elizabeth Zambramo, a regulação do sexo e da sexualidade em nossa sociedade vem sendo feita, predominantemente, por algumas instituições como a Igreja, o Judiciário e a Medicina. Historicamente, essas instituições têm limitado a diversidade sexual à existência de apenas dois sexos, o homem e a mulher; dois gêneros – o masculino e o feminino; e a uma única forma considerada “correta” de eles se relacionarem, a heterossexualidade. Dessa forma, o que escapa ao “padrão de normalidade” assim instituído é tratado como pecado, como crime ou como doença, conforme a instituição reguladora acionada. (...) O Substitutivo que ora apresentamos a essa douta Comissão parte de quatro pressupostos:

1. Não discriminação: a Constituição Federal em seu art. 3º, IV, estabelece que constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. Não bastasse, o art. 5º, caput, preordena que “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”. Portanto, nossa Magna Carta não tolera qualquer modalidade de discriminação. Assim, se outras formas de preconceito e discriminação são criminalizadas, por que não a homofobia?

2. Intervenção mínima para um direito penal eficaz: na contramão das correntes conservadoras que pregam um direito penal máximo, um Estado Penal, sustentamos a idéia de que o direito penal, por ser o mais gravoso meio de controle social, deve ser usado sempre em último caso (ultima ratio) e visando tão somente ao interesse social. Nesse sentido, as condutas a serem criminalizadas devem ser apenas aquelas tidas como fundamentais. Ademais, os tipos penais (verbos que definem condutas) devem ser fechados e objetivos.

3. Simplicidade e clareza: o Substitutivo faz a nítida opção por uma redação simples, clara e direta, com pequenas modificações na Lei nº 7.716/1989– e no Código Penal.

4 O Substitutivo amplia o rol dos beneficiários da Lei nº 7.716/1989, que pude os crimes resultantes de preconceito e discriminação. Assim, o texto sugerido visa punir a discriminação ou preconceito de origem, condição de pessoa idosa ou com deficiência, gênero, sexo, orientação sexual ou identidade de gênero.

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Basicamente a PLC 122/2006 apenas deixa mais claro aquilo que já é regido pela nossa Constituição: que é proibido qualquer tipo de proconceito e discriminação, e propõe atribuição penal nesses crimes tipificados. Não deixa de ser "permitido" a pregação de conceitos anti-homossexual, presente na grande maioria das religiões, sobretudo nos três grandes monoteísmos do deserto. Em suma, os pastores, padres, mulás e rabinos ainda vão poder continuar pregar suas ideologias homofóbicas. O que vai ser crime é a obliteração dos direitos do cidadão por meio de uma descriminação de sua preferência sexual.

O que deixa uma pergunta: será que uma igreja poderia ser incriminada indiretamente como cúmplice no caso de uma acusação de preconceito ativo em primeiro grau por, exemplificando, um empresário que frequenta os bancos de uma religião que prega à demonização homossexual?

16.11.09

Ironia, sarcasmo e a arte perdida de interpretar textos

Gostaria realmente de entender porque a quase totalidade das pessoas não é capaz de perceber e lidar com a ironia e o sarcasmo. Seria por uma má formação escolar e portanto um não desenvolvimento pleno da faculdade da leitura clara? Ou talvez por causa da pressa em ler uma massa de palavras organizadas em parágrafos daí a precipitação ao tomar conclusões? Preguiça de digerir algo pouco maior que uma revista em quadrinhos infantil? E olha que nem precisa ser um texto megaelaborado, com referências litarárias ou cinematográficas remotas ou fora do eixo médio, mas quase sempre em exemplos triviais presentes em mídias de massa ordinárias.

Peguei esse texto no blog do Antônio Prata, colunista do Estadão. Os comentários logo abaixo são o que há de melhor na irrascibilidade de comentaristas na web. Acabo por achar que, sei lá, 90% das pessoas não estão preparadas para lidar com um volume tão grande de informação disponível na web, alheias que são aos meandros simples da comunicação moderna.

É de chorar.

Congruências



Catado do Chongas.

26.10.09

Religião FAIL (1)

Catei do Portal Ateu lá de terras lusas, que por sua vez pegou do FailBlog.

"O curso de Profecia foi cancelado devido a um imprevisto"

Quando achar outra desse calibre, posto aqui. Se eu passar umas horinhas lá no FAIL tenho certeza que bomba.

17.10.09

Afinal, quem quer defender a razão o tempo todo?

Palavras do cardeal Antonio Maria Rouco Varela, da ICAR espanhola, sobre uma passeata de 1,5 milhão de pessoas neste sábado contra a lei do aborto.

"porque em determinados momentos da história a Igreja é defensora da razão e de coisas que deveriam ser evidentes".

Ah, e em outros momentos da história a razão pode ser alegremente queimada viva em praça pública e as coisas que deveriam ser evidentes são sumariamente censuradas e combatidas (para depois serem admitidas sob auspícios de "errei sim, e daí?") caso as mesmas se interponham com a visão (estreita) de mundo que a religião promove. Mais recentemente, já que não pode-se vencer um inimigo tão poderoso como a Evolução das Espécies através da seleção natural, agora tentam arranjar trégua pois sabem da fragilidade de sua posição.

O pior é que esse combate além de cego, pois é unilateral e calcado apenas em derivados da mitologia cristã, - não reduzem taxa de aborto, claro. Uma vez que uma mulher sem amparo que seja por acidente ou por violência carrega uma gravidez indesejada, recorre a métodos caseiros ou a terceiros que vão fazer fazer a intervenção abortiva sem segurança para a mesma. Uma radicalização dessa posição só tende a prejudicar as mulheres, principais vítimas desse abandono moral por uma ética alheia à realidae, ao tecido social que se vê cada dia mais impregnado de crianças que se não são rejeitadas antes de nascer, o são após, e de crianças com má formação congênita que deverão carregar sequelas pelo resto da vida, às vezes gravíssimas e mortais.

Só uma doutrinação em massa promovida à crianças pode explicar como mulheres podem abraçar uma causa religiosa. O bom-senso, se nao fosse tão fora de moda, seria suficiente forte para garantir a extinção de qualquer pensamento perigoso com os que habital subrepticiamente o discurso cristão/muçulmano/judeu/watever, disfarçado com a fala mansa de uma figura paternalista de um padre/pastor/rabino.

Se fosse colocar uma grana em um palpite, apostaria facilmente que bastariam três ou quatro gerações para idéias nocivas como essas que se misturam ao caldo cultural da maoria dos países começarem a se tornarem obsoletas, esquecidas ou apenas alegóricas como festas juninas, carnavais ou páscoa.

3.10.09

Bento XVI diz que abuso sexual de crianças pelos padres católicos não É BEM pedofilia...

Reportando via Portal Ateu (autoria do portuga ateu João Canvas, que por sua vez captou a notícia no The Guardian), algo que só não é pra rir de tossir a pleura pois a coisa é grave, prenhe de um cinismo que me dá azia.

Resumão da nova/velha política da Sé. Tara sexual consentida com adolescentes do mesmo sexo, ok. Com crianças, ah, os outros fazem bem pior!

Aqueles que pensavam que o abuso de crianças por padres no seio da ICAR era uma espécie de tabu, ficarão concerteza aliviados por saber que finalmente o Vaticano se decidiu pronunciar sobre o fenómeno.ARchbishopSilvanoTomasi

Mas em vez de assumir as responsabilidades como qualquer outra instituição feita, a ICAR aplicou a velha máxima futebolística que diz ”a melhor defesa é o ataque”. Assim, a Santa Sé, prestando um grande serviço ao ateísmo, informou os jornalistas à saída de uma reunião do Conselho para os Direiros Humanos das Nações Unidas, que o problema era bem maior na casa das religiões concorrentes, leia-se Judeus e Protestantes, onde o abuso de crianças seria algo comum.

Os dados foram apresentados pelo Arcebispo Silvano Tomasi, baseando-se em relatórios de um observatório pseudo-científico do Vaticano. Este iluminado revelou mesmo que na ICAR estes abusos não correspondem a mais do que 1,5-5% do total de padres da instituição.
Fazendo uns cálculos conservadores, partindo de um número global de padres que não deverá ser em nenhum caso menor do que 400.000, e que serão várias as crianças abusadas anualmente por cada um dos “pastores”, chega-se facilmente à número redondo de 250’000 violações de crianças anuais. Nada que cause consternação a uma instituição como a ICAR, nem mesmo tendo em conta o caso exemplar da Irlanda em que um inquérito governamental concluiu que a violação de menores por membros do clero foi algo “endémico” durante décadas e décadas.

O brilhante comunicado recupera também um termo que não se utilizava desde há cerca de 50 anos nas sociedades modernas…a efebofilia. Ao que parece é isto que 80-90% dos abusadores de batina preta fazem, não pedofilia, como alguns querem fazer crer. A efebofilia servia no início do século passado para denominar a preferência homossexual por adolescentes dos 14-18 anos. É portanto uma questão de idades, e de homossexualidade, e tudo está bem, quando a Igreja diz que está bem. Tudo respostas altamente consoladoras para as vítimas.

Recordemos que tudo isto parte da cúpula do Vaticano, do Papa Ratzinger. Recordemos também que o Papa é infalível.

Acho que qualquer membro desta organização deve pelo menos parar e reflectir sobre esta notícia, e mais do que dizer que “a Igreja é feita por homens que erram” deve pensar até que ponto estará ela a contribuir para a perpetuação do abuso e da impunidade das instituições religiosas.

Rebelem-se ovelhinhas!!

Captaram como houve uma política de redução de danos á imagem do Vaticano (já abalada até as estruturas)? Manipulação dos afetos, reordenação e reposicionamento da perspectiva causal em torno de uma resignificação de palavras! Enrolei o que é bem simples: assumiram a culpa pelo que é menos grave e atacaram a concorrência com o argumento de que fora da ICAR o buraco é mais embaixo (provavelmente pelo comprimento das pernas...). Essa troca de farpas [1] [2] [3] entre muçulmanos, judeus, evangélicos e católicos os faz, pelo menos pra mim, comer na mesma gamela como dizia minha vó. O que nos leva a considerar: será que TODAS as religiões majoritárias tem por dogma, escondido lá no fundo das tradições dos povos do deserto, uma quedinha por crianças? Isso é sujo e nojento em tantos níveis que nem saberia por onde começar, mas vale uma investigação.

30.9.09

30 de Setembro: Dia Mundial da Blasfêmia


Hoje fazem exatamente 4 anos que o jornal dinamarquês Jyllands Posten publicou uma série de charges sacaneando o profeta Maomé e a religião muçulmana, que sucedeu uma série de ameaças por parte dos seguidores de Allah, não só com o habitual "queimar no mármore do inferno" mas também com ameaças físicas direcionadas aos diretores da publicação, jornalistas e onde mais os fanáticos achassem conveniente direcionar sua irrascibilidade. Embora o jornal tenha se retratado publicamente em 2006, como forma de protesto, as charges foram republicadas em 2008 por cinco jornais daquele país.

Vale a pena lembrar que a hipocrisia árabe foi tamanha que na semana anterior à referida data em 2005 vários jornais do oriente médio publicou uma charge ofensiva aos judeus, pondo Hitler e Anne Frank na cama, mas que foi convenientemente posta de lado e não chamou a atenção da grande mídia.

Por esse motivo esse dia foi convenientemente escolhido para celebrar a liberdade de opinião, de crítica e, porque não, de humor. Aparentemente só a religião goza desse status que confere essa injustificada imunidade contra críticas, uma vez que políticos, sociedade em geral, celebridades e tudo o mais podem muito bem ser livremente passar pelo mesmo sem dar ataques de violência. Quiçá levar tudo na boa. E mesmo aqueles que não gostarem de ter a imagem posta na roda estejam livres para levar os responsáveis à esfera legal, mas não para a esfera negra da violência física em nome da religião. Não é de se surpreender, já que religiosos só funcionam na base de represálias e ameaças.

Para não perder a piada:

Curso de Astronáutica para Iniciantes

Uma oportunidade interessantíssima para quem gosta de astronáutica, exploração espacial e fãs incondicionais de Cosmos (infelizmente não disponível para venda no mercado brasileiro, mas disponível em sua rede P2P favorita...) de Carl Sagan. O Planetário da Gávea está dando um curso GRATUITO onde os alunos vão aprender a partir de noções de Física (recomenda-se ter tido um bom ensino médio, coisa rara hoje em dia...) como se coloca um satélite em órbita, o funcionamento de um foguete, o que são sondas espaciais e como elas exploram o Sistema Solar. Também será abordada a história da astronáutica desde os primórdios, passando pela corrida espacial até os dias atuais. Ministradas pelo astrônomo Naelton M. Araujo, as aulas contarão com palestras multimídia acompanhadas de atividades práticas - como lançamento de pequenos foguetes caseiros, observação visual de satélites artificiais, entre outras.

Curso:
Astronáutica para Iniciantes

Instituição:
Fundação Planetário da Cidade do Rio de Janeiro

Público Alvo:
Entusiastas em astronomia em geral

Endereço:
Rua Vice-Governador Rubens Berardo, 100 - Gávea - Rio de Janeiro - RJ

Contato:
(21) 2274-0046

Datas/Horários:
19 a 23 de outubro de 19h30 às 21h. As inscrições estarão abertas uma semana antes e permanecerão abertas até o primeiro dia do curso (dependendo do número de vagas disponíveis).

Pena que é no meu horário de aula, senão era certo de estar lá. Sem contar a distância brutal que o planetário fica da minha casa. Enfim, tenho saudades do Planetário. Fui lá com uns amigos em 2007 levar a irmãzinha da Su para um passeio e ela amou o lugar. Acho que essa vai dar pra salvar.

Dica do próprio Naelton, lá na The Big Bang Theory • Série.

10.9.09

Religião como arma de guerra

Ou: Judeus e Palestinos não são diferentes assim, afinal.

Li em algum lugar que o homem à cavalo com estribos foi um dos maiores inventos bélicos já criados pela nossa espécie enquanto outros especulam se não foi o arco e flecha. De qualquer maneira, Gengis Khan fez muito bem uso dos dois, tornando-se um dos maiores conquistadores de território ds história da humanidade. Mas acredito que até mesmo Temudjin teria que dar o braço á torcer se tivesse à mão um coisa chamada ideologia. Uma ideologia direcionada é a arma de destruição mais eficaz já inventada pelo cérebro criativo e cruel do homem, e funciona tão bem aliada à espadas e escudos quanto a bombardeiros B-2 e fuzis HK G3.


Digo isso pois o outrora orgulhoso de seu secularismo exercito israelense rendeu-se de vez ao fundamentalismo religioso, que segura um livro sagrado em uma mão e um fuzil na outra, à exemplo de seus adversários. A arma máxima da dominação e da subjugação, que funciona através do acúmulo de ódio àquilo que é diferente, como a mola que engatilha o cão de um revólver, retendo energia para alimentar sua própria cruzada contra os palestinos, leia-se muçulmanos. O território da Faixa de Gaza é mera mente um detalhe, pois o que mais interessa aos dois lados são os locais sagrados de adoração que se encontram no meio das terras. Religião, mais uma vez, envenenando tudo, pegando carona nas palavra de Cristopher Hitchens.*

Um número cada vez maior de rabinos está sendo formado dentro das forças armadas de Israel e sendo bastante doutrinários em sua mensagem para os soldados. Muitos deles civis, chegam à acompanhar tropas em incursões e patrulhamentos. Há relatos de que estariam distribuindo folhetos com material discriminatório dizendo, entre outras coisas, para tratar qualquer palestino árabe como inimigo, não só os militantes e soldados. Podem saber mais sobre o assunto em uma reportagem da BBC Brasil disponível aqui.

Religião: desde que o mundo é mundo ajudando a separar pessoas e propagar ao ódio sectarista.


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* Só para lembrar que será lançado em breve dia 27 de outubro (não no Brasil, certamente) um DVD do Hitchens em debates com Douglas Wilson chamado Collision. Parece promissor, ainda mais ciente da verve de ambos em defender suas posições, mas difícil vai ser arranjá-lo fora das redes p2p...

9.9.09

R$10mi para reconstruir o templo da Renascer (no mínimo)


Parafraseando o Renato lá da Ateus e Agnósticos: "Um bando de gente dizendo que vai salvar o mundo, mas prefere erguer seu castelo primeiro."

Na minha última postagem eu citei aqui a tramitação pro Senado Federal de um projeto de lei do dia da Marcha Para Jesus, menos grave, pra mim tem o mesmo peso que uma Parada Gay. Direito de expressão. Ok. Mas o que é mais grave, um certo "acerto" da velha lei do convênio da Santa Sé, agora açambarcando na mesma gamela os evangélicos e toda e qualquer religião.

Sejam sinceros. Alguém duvida realmente que o templo de uma igreja não se enquadraria (ou forçariam um) quando é dito dentro do projeto de lei, entre outras, que o Estado deve proteger o patrimônio cultural das instituições religiosas? Imagine 10.000.000 de reais (botei um monte de zero para mostrar o drama) pagos do nosso bolso através do Governo Federal. Se isso não te faz arrepiar todo ou despertar seu senso de decência, meu amigo, não tem mais volta. Você já era, rodou, narcotizado que está e só sai dessa ensacado.

É triste.

7.9.09

Marcha para Jesus oficializada

Não é de hoje que caminhamos á toque de caixa para uma proto-teocracia. Apenas aumentaram o gás para uma marcha digna de espartanos. Aqui e aqui. E um feliz Dia da Independência para os otários que acreditam em qualquer bobagem...

Só pra lembrar sobre o que se trata esse projeto de lei:

- Reforça a validade civil do casamento religioso. (aguardem a palavra OBRIGATORIEDADE em uma emenda futura)

- O ensino religioso de matrícula facultativa nas escolas públicas de ensino fundamental é defendido pelo projeto, mas sem espaço para proselitismo. (minha próxima palavra a ser dissecada e escrotizada aqui)

- Estabelece que o vínculo contraído por fiéis consagrados é de caráter religioso e não gera obrigações trabalhistas. (mais um ponto para as empresas igrejas. Já tem isenção fiscal, porque não despreocupar-se com rescisões trabalhistas?)

- O Estado deve proteger o patrimônio cultural das instituições religiosas. (agora nem gastar dinheiro com a conservação das próprios estabelecimentos comerciais templos vão!)

- Permite manifestações na via pública, desde que não "contrariem a ordem e a tranquilidade". (se já era um saco aturar sem respaldo legal, imagine agora?)


Só metendo o pé. Alguém aí topa rachar apê na Dinamarca? Inglaterra? Uruguai? Esse último pelo menos é mais barato, pertinho e é o país com maior número de ateus na América do Sul!

4.9.09

O Sectarista

O sectarista é antes de tudo um egoísta de mente fechada. Para soar um pouco menos ácido e mais acadêmico, pode-se dizer que sectarismo é o estado de quem é partidário da visão que a verdade é uma coisa tangível, solipsista, única e radicalmente excludente das outras propostas ou visões de mundo que competem com a sua no mesmo terreno.

Geralmente o sectarista é incapaz de parar por alguns segundos e se fazer a cética pergunta "e se eu estiver errado?" Para ele, esse tipo de exercício é algo como uma profunda traição ao seu senso de realidade. Sua mente dispara automaticamente alarmes de perímetro ao menor sinal de racionalidade na questão da suposta verdade religiosa e, temeroso das consequências advindas desse pensamento fortuito que lhe assalta a mente, evita esse tipo de questionamento. Ou antes, não permite nem mesmo que essa pergunta possa ser sequer formulada, dada ao impulso negatório instintivo imediato de sobrevivência. Ele não quer se ver sob o risco de trair suas preciosas convicções. Sente-se intimidado pela recordação da velha imagem do purgatório cristão, com suas alegorias de sofrimento, agonia, desespero e dor por um tempo de execução eterno.

Levar à cabo uma reflexão desse tipo pode vir inclusive a por abaixo todos os mecanismos ideológicos incutidos na tenra infância. E se você não tem mais nada que justifique sua estadia e existência no mundo, você corre o sério risco de ficar sem chão. Por fim, acaba por ser reduzido a um lacaio de seu próprio imaginário. "Se Deus não existe, porque estou aqui? O que me impede de fazer o que quiser?". Se só isso o impede de se tornar um facínora, continue com sua fé. A sociedade agradece.

2.9.09

Ore antes de transar


A igreja católica do reino Unido está querendo incentivar o sexo e editou um manual de sexo manual sobre o assunto. Longe de ser um Kama-Sutra, a cartilha é um manual de rezas e orações à fim de purificar suas intenções antes de afogar o ganso com propriedade. O tutorial de alcova tem 64 páginas e conta com rezinhas bobinhas do tipo

"que permeie o nosso meio com amor que verdadeiramente oferta, ternura que verdadeiramente une, autolibação* que diz a verdade e não engana, perdão que verdadeiramente acolhe, união física de amor que recebe com prazer"

além de outras sugestões 100% aprovadas pela Santa Sé, o livro contém orações para cada estágio da vida a dois e da vida em família, incluindo o noivado (orações pra sexo para casais proibidos de fazê-lo?), planejamento de filhos (oração que substitui camisinhas...), gravidez (para que o aborto aconteça de forma expontânea e não por um herege médico matador de bebês yada-yada-yada)e cuidados com crianças (especial para padres!) e idosos.

Enfim, inútil.

Ao contrário do Page Not Found, de onde pesquei essa notícia, boiando ali no G1.

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Post Scriptum: Eu li alta lubrificação! hahaha

29.8.09

Retratos de um Mundo Ideal

Ou: Da fina arte do copy/paste naquilo que presta...

Há uns dois meses que não sei o que é beber, não com aquela vontade sublime de voltar pra casa carregado ou postar o conteúdo do estômago no ralo mais próximo. Não, apenas sob a égide da confraternização entre amigos, quando se conta causos, contos e mentiras inócuas típicas do protocolo de boteco. Sinto falta do bate-papo sobre uma mesinha de aço meio enferrujada em um antro de ébrios sacanas e malandros da boa e velha Lapa carioca.

Sob esse signo da melancoolia [sic], lembrei desse texto que o Fabio do CBCC postou lá naquela augusta comuna orkutiana de amigos que de virtuais só tem a percepção alheia mais rasa, de um autor que eu gosto muito embora só tenha lido alguns ensaios e textos esparsos. Fiquem com Mencken, ele sabe das coisas.

"Que o álcool numa solução diluída em água, quando tomado pelo organismo humano, atua como depressor e não como estimulante, é hoje um clichê tão batido que até os fisiólogos mais avançados estão começando a tomar conhecimento dele. O leigo inteligente não recorre à garrafa quando tem compromissos importantes a resolver, sejam intelectuais ou manuais; ele deixa a primeira dose para depois do trabalho feito, quando deseja relaxar a tensão e reduzir a pressão de seu mau humor. O álcool, por assim dizer, nos desenreda. Ele levanta o toldo da sensação e nos torna menos sensíveis aos estímulos externos e, particularmente, àqueles que nos são desagradáveis. Ao pôr um freio em todas as qualidades que nos permitem tocar a vida e brilhar diante dos colegas — por exemplo, a combatividade, a agudeza, a diligência, a ambição –, o álcool liberta as qualidades que nos enternecem e fazem com que as pessoas gostem de nós: a afabilidade, a tolerância, a generosidade, o humor, a simpatia. Um homem com dois ou três drinques a bordo não será capaz de amputar a perna de alguém, pilotar um avião ou reger a missa em si menor de Bach, mas será imensamente mais competente para dar uma festa, admirar uma mulher bonita ou ouvir a missa em si menor de Bach. As coisas mais difíceis e úteis do mundo, como extratir dentes ou descascar batatas, ficam melhores quando feitas por pessoas tão sóbrias quando os condenados às vésperas da execução. Mas as coisas mais gostosas, inúteis e divertidas deveriam ficar a cargo daqueles já devidamente lubrificados. O Pithecanthropus erectus era abstêmio, mas os anjos sempre souberam o que lhes convinha às cinco da tarde.

Tudo isto é tão óbvio que me espanto ao ver que nenhum utópico, até hoje, se propôs a abolir todas as lamentações do mundo pelo simples artifício de manter toda a humanidade ligeiramente alta. Note bem, eu não disse bêbada; disse ligeiramente alta — e peço desculpas por não saber como descrever este estado numa frase menos indecorosa. O homem ligeiramente calibrado pelo álcool é capaz de pôr suas melhores qualidades para fora. Ele não é apenas imensamente mais amável do que o indivíduo que vive a seco; é também imensamente mais decente. Reage a todas as situações de maneira expansiva, generosa e humana. Torna-se mais liberal, tolerante e agradável. É melhor cidadão, marido, pai e amigo. As iniciativas que tornam a vida humana insegura e desconfortável nunca são tomadas por este homem: ele não declara guerras, não rouba nem oprime ninguém. Todas as grandes vilanias da História foram perpretadas por homens sóbrios e, principalmente, por abstêmios. Mas todas as coisas belas, do Cântico dos Cânticos à tartaruga à Maryland, das nove sinfonias de Beethoven ao martíni seco, foram concebidas por homens que, na hora certa, trocavam a água da bica por algo mais colorido e com outros ingredientes que não apenas hidrogênio e oxigênio.

Estou ciente, é claro, que manter toda a espécie humana neste paraíso, ano após ano, apresentaria formidáveis dificuldades técnicas. Seria difícil calcular a dosagem diária de cada indivíduo conforme exatamente suas necessidades particulares, e fazê-lo tomá-la precisamente na hora certa. Por um lado, haveria o constante perigo de que grandes minorias se tornassem ocasionalmente sóbrias e, com isso, começassem guerras, disputas ideológicas, reformas morais e outros aborrecimentos. Por outro lado, haveria o perigo de que outras minorias fossem levadas a uma real intoxicação e começassem a nos amolar com suas choraminguices xexelentas. Mas tais obstáculos técnicos não são, de forma alguma, insuperáveis. Talvez pudessem ser resolvidos abandonando-se a idéia da administração do álcool per ora e distribuindo-o mais democraticamente, apenas impregnando o ar com ele. (…)

Pode-se objetar que mesmo pequenas doses de álcool, se uma dose já estiver nos calcanhares da dose predecessora antes que os efeitos desta tenham desanuviado, poderiam ter um efeito deletério sobre a saúde física da espécie — que a taxa de mortalidade aumentaria e que categorias inteiras de seres humanos seriam exterminadas. A resposta é a de que não estou propondo aqui aumentar a longevidade de ninguém, mas aumentar seus prazeres. Suponhamos que a duração da vida seja reduzida em 20%. Minha resposta é a de que suas delícias crescerão em pelo menos 100 %. (…)

Que o homem civilizado médio de hoje é inferior ao civilizado médio de duas ou três gerações atrás é tão claro que dispensa explicações. Ele tem menos iniciativa e coragem; é menos criativo e heterogêneo; está mais para um coelho do que para um leão. Duras repressões tornaram-no o que ele é. Bem, ninguém com dois ou três drinques no fígado é um tirano. Poderá aparecer tolo, mas não cruel, talvez fique um pouco barulhento, mas será também tolerante, generoso e educado. Minha proposta restauraria o cristianismo no mundo. Salvaria a humanidade dos moralistas, dos pedantes e dos ferrabrases."

(H.L. Mencken, 1924 em ” O Livro dos Insultos de H.L. Mencken”).


Ergo uma Caracu a ele. E outra para o jornalista Ricardo Lombardi, do Desculpe a Poeira, de onde esse texto foi criminosamente furtado e atenuadamente creditado aqui.

28.8.09

A História Mundial segundo o Papa


Q1: O ateísmo tem levado a inigualáveis formas de crueldade e injustiças.

Q2: Vamos impor o questionamento racional pela espada!

Q3: Proclame a falsidade* do criacionismo e morrerá rapidamente.

Q4: Mas é claro que a escravidão é justificada: vivemos em um universo amoral e sem deuses!

Q5: Por Richard Dawkins!

Q6: Vamos ler Nietzsche e fazer carinho.

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*Sugestão do comentarista Anônimo.

27.8.09

Classificados [1]

Procura-se crédulo incorrigível que espera o Juízo Final em 2012 para negócio bom para ambos os lados. Aceito doações de tudo o que possui, já que não terá utilidade para você após o arrebatamento/abdução/volta de Jesus. Prometo doar 25% para os Médicos sem Fronteiras. Tratar aqui mesmo nesse blog.

27.4.09

Bingo Falácia é diversão garantida!

Nos mesmos moldes do bingo corporativo, o BINGO FALÁCIA É muito fácil de brincar e você vai garantir um bom tempo de diversão durante a partida e depois comparando resultados com seus amigos! Providencie várias cópias da cartela de bingo e sempre ande com algumas na carteira. Assim que tiver oportunidade de uma troca sadia de idéias, vá marcando na cartela os argumentos que forem sendo utilizados. Quando fechar uma linha horizontal, vertical ou diagonal grite BINGO!

Vergonhosamente chupado da Desciclopédia.

22.4.09

E eu pensando que o Cocadaboa tinha acabado...

Link para a postagem original.

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Ateus, saiam do armário

Outro dia estava vendo aquele filme Milk, com o Sean Penn. Para quem não viu, resumo: é a sobre início do movimento pelos direitos homossexuais em São Fracisco nos anos 70. Matam o cara no final. E como é baseado em fatos reais você não pode reclamar de spoiler. É ignorância sua mesmo. Mesma coisa que reclamar da galera que ficava na porta do cinema avisando que o Titanic afundava no final.

Enfim, em dado momento no filme Milk os gays chegam a conclusão que quanto mais eles se escondem, pior isso é para o reconhecimento de seus direitos. Isso faz todo sentido. Escondidos eles alimentam os mitos de que são bichas promíscuas. Saindo do armário eles mostram que cidadãos normais são gays e o “monstro desconhecido” toma a cara daquele vizinho gente boa ou professor dedicado.

Olhando esta história pensei que a estratégia de “sair do armário” também seria muito útil para os ateus. Até porque se assumir ateu é bem parecido com se assumir homossexual.

Nos dois casos sua mãe vai morrer de desgosto, você elimina qualquer possibilidade de virar presidente e Deus vai te odiar. E nem me venham dizer que o FHC é ateu e virou presidente. O cara não saiu do armário, justamente com medo de perder. Meteram esse terror durante a campanha dele da mesma forma que perguntaram sobre a família do Kassab no ano passado.

Mas é sério, ateus do meu Brasil. Tá na hora de parar de se esconder nos porões. Somos muito mais do que estes 2% declarados em pesquisas. Só assim mostraremos para a sociedade que não somos queimadores de cruzes ou violadores de túmulos. Que na real somos “mó gente boa” e que até respeitamos a grande maioria dos mandamentos divinos (acho que respeito todos, menos o “amar a deus sobre todas as coisas”) porque eles fazem todo o sentido. E isso é bem mais digno do que respeitar algo por medo de ser impalado no inferno.

Vamos subir um pouco o nível dessas manifestações pelo ateísmo de raiz, pelo ateísmo moleque, aquele ateísmo bem jogado pela seleção da União Soviética na copa de 70. Se você se acha um ateu de respeito só porque come churrasco na sexta-feira santa, reveja seus preconceitos. Quem acha que desrespeitar a quaresma é sinal de subversão é tão desprezado pelos ateus de raiz quanto os homossexuais engajados desprezam os pais de família enrustidos que comem travecos só para achar que ali tem alguma coisa que “nem é tão errada assim”.

E sem esse papo de “sou agnóstico”, “acredito em uma força maior que rege o universo”… Na boa, o agnóstico nada mais é do que um gay ativo, que acha que só porque come e nunca dá, ainda tem um pingo de heterossexualidade para tirar onda. Não existe meio-viado, então não tem como aceitar um “meio-ateu”. E é isso que agnósticos são: meio-ateus. Força que rege o universo de cu é rola. Seja homem e assuma uma posição nessa história.

Coloque a mão na consciência e ouça os seus instintos. Você sabe que é ateu. Assuma. Isso está dentro de você desde sua infância, da mesma forma que preferir brincar de boneca em vez de jogar bola estava dentro daquele seu primo que virou gay. Se está inseguro, peça ajuda para primo gay. Ele tem experiência e saberá te dizer como lidar com preconceituosos que gostam de queimar bruxas.

Ps. E se você é religioso ou agnóstico e quer discutir isso, aqui não é o lugar. Não estou dizendo que ateísmo é melhor e que sua fé não vale nada. Estou só falando para os ateus não darem ouvidos a caras como vocês e perderem o medo do que as pessoas vão achar. E, na boa, não perca tempo discutindo religião com um ateu. Isso é a mesma coisa que discutir as melhores tonalidades de Wellaton com um careca.

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À propósito: não entendo lhufas de tinturas de cabelo, é o que posso acrescentar. Valeu, Mr. Manson!

5.4.09

Reflexos do MSN no 1º de Abril

Não, não sigo a tradição do primeiro de abril e sua confusão de calendários na França do século XVI, quando Carlos IX decidiu que o ano novo não seria mais em primeiro de abril, início da primavera, e sim no primeiro dia de janeiro. Como era hábito das pessoas presentearem-se na data revogada, a tradição persistiu mas com presentes zoados, brincadeiras etc.

Mas a data é interessante, pelo menos pra mim, como mais uma forma de brincar com "o que não se brinca" que é a religião. No dia em questão botei no meu MSN a frase "voltei pra igreja". Seis pessoas vieram perguntar se era verdade e tals, mas só uma não resisti e botei pilha.

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Olho-Junto (nick fictício)
?
COMO ASSIM VOLTEI PRA IGREJA?

Rodrigo Souza, a.k.a. Sargento diz:
Estava me sentindo muito deprimido desde que eu me afastei dela. Aí nesse fim de semana fiz as pazes com Jesus.

Olho-Junto
jura
?

Rodrigo Souza, a.k.a. Sargento diz:
Yeap.

Olho-Junto
qual a igreja
?

Rodrigo Souza, a.k.a. Sargento diz:
Lá se vão 15 anos de afastamento.
Congregacional de Campo Grande.

Olho-Junto
eu sou da Congregacional de Paracambi

Rodrigo Souza, a.k.a. Sargento diz:
Estou bastante satisfeito.

Olho-Junto
que bom

Rodrigo Souza, a.k.a. Sargento diz:
Era a mesma igreja que eu frequentava.

Olho-Junto
a igreja conforta
que bom mesmo
fico muito feliz
e sua namorada ja sabe dessa mudança?

Rodrigo Souza, a.k.a. Sargento diz:
Sabe. Ela apoiou, como já era de se esperar.

Olho-Junto
que bom
vc não sabe como fico feliz

Rodrigo Souza, a.k.a. Sargento diz:
É? Que legal.
Sabe,
Não é todo dia que a gente pode falar isso pra todo mundo.

Olho-Junto
verdade
eu fico feliz pq tambem sou da igreja

Rodrigo Souza, a.k.a. Sargento diz:
Só hoje.

Olho-Junto
?
não entendi

Rodrigo Souza, a.k.a. Sargento diz:
Que dia é hoje:?

...

Olho-Junto
rsrs
verdadr
juro que acreditei

Rodrigo Souza, a.k.a. Sargento diz:
hahahahahaha

26.3.09

Piloto que começou a rezar enquanto avião caía é condenado na Itália

Como era mesmo aquele ditado? "Duas mãos trabalhando fazem mais que milhares rezando". (Nesse caso, duas mãos no manche...)
Sabem o que é pior? Aposto que alguém ainda vai dizer que graças a esse ato de fé do piloto 23 pessoas foram salvas!


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Um piloto acusado de ter começado a rezar no lugar de tomar medidas de emergência para evitar que seu avião caísse foi condenado a 10 anos de prisão por um tribunal italiano na última segunda-feira.

O tunisiano Chafik Gharby estava no comando de um avião da companhia aérea Tuninter quando a aeronave teve problemas e acabou caindo no mar na costa da Sicília, em agosto de 2005, matando 16 das 39 pessoas a bordo. O tribunal considerou que um problema no contador de combustível foi em parte responsável pelo acidente. O piloto, no entanto, foi condenado a 10 anos de prisão por homicídio culposo, de acordo o jornal italiano La Repubblica.

Segundo os promotores, quando os motores do avião começaram a falhar, o piloto entrou em pânico, começando a rezar no lugar de tomar as medidas de emergência. Depois disso, ele teria optado por fazer um pouso forçado no mar Mediterrâneo ao invés de tentar alcançar o aeroporto mais próximo. Outras seis pessoas, incluindo o copiloto e o presidente da companhia aérea, foram condenadas a penas que vão de oito a 10 anos de detenção. Os réus, no entanto, ainda podem apelar das sentenças e permanecerão em liberdade até que o processo termine.

O bimotor da companhia Tuninter viajava da cidade italiana de Bari para a ilha de Djerba, na Tunísia, no dia 6 de agosto de 2005. Após ficar sem combustível, a aeronave caiu no mar, a cerca de 13 km da costa da Sicília. Dos 34 passageiros e cinco membros da tripulação, apenas 23 sobreviveram. Muitos tiveram que nadar para se salvar, enquanto outros se agarraram a partes flutuantes da fuselagem.

A Comissão Italiana de Segurança em Voos descobriu em 2007 que o avião ficou sem combustível porque não foi completamente abastecido antes de deixar Bari. Isto teria acontecido por causa de um problema no contador de combustível que, havia sido instalado no dia anterior. O aparelho instalado havia sido fabricado para a utilização em aeronaves do mesmo modelo, mas com tanques de combustível menores.

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Fonte: O Globo. Em tempo: devo crédito ao Marcio U-96, que divulgou antes de mim essa notícia lá na Ex-Evangélicos.

18.3.09

O arcebispo e a manipulação da palavra

Na Veja dessa semana saiu uma entrevista com Dom José Cardoso Sobrinho, arcebispo de Olinda e Recife, onde ele reitera tudo que fez e deixou de fazer no caso da menina estuprada pelo padrasto que passou por um aborto que lhe tirou os gêmeos que gestava. A entrevista é longa e pode ser lida na íntegra aqui.

Apenas parei para citar duas passagens rápidas que não pude deixar de colocar aqui. Opto por não comentar, somente assinalar, pois as palavras são claras o suficiente para que seu sentido seja captado por qualquer leitor mais crítico pouquinha coisa que a média. A entrevista toda é uma aula de Teoria dos Afetos, de manipulação de discurso de malabarismos sintáticos. De fazer Philippe Bretton lamber os beiços.

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Se o senhor ficasse frente a frente com a menina, o que diria a ela?
Eu diria: o que aconteceu já passou. Daqui para a frente, procure praticar a religião com os meninos da sua idade, ir para a igreja e aprender o catecismo. Seria tão bom se as criancinhas fossem como antigamente, quando nem tinham uso da razão mas já sabiam rezar o Pai-Nosso e a Ave-Maria.

Os adversários da Igreja são rápidos em reavivar os erros do passado, como a Inquisição e as perseguições religiosas, e projetá-los no presente. A Igreja raramente rebate. Isso significa que ela se desacostumou do embate de ideias?
Não. O que acontece é que a doutrina teológica diz que qualquer problema teológico, na história da Igreja, tem de ser escutado para ver quais são as opiniões. A diversidade de opiniões é permitida na Igreja. Agora, quando se trata de dogmas, a Igreja não pode admitir que se discorde. Quem não aceita esses dogmas está fora. E não adianta um católico dizer que, porque uma lei brasileira permite tal coisa, ele pode fazer essa coisa, como é o caso do divórcio, e ficar tranquilo. Fica não.

Que esquiva...

4.3.09

Sagram tudo, menos a vida humana

Um recente caso de pedofilia em Pernambuco chocou o país no final do mês passado, onde uma criança de 9 anos era molestada sexualmente pelo padrasto desde os 6 anos. O resultado trágico disso culminou em um gravidez de gêmeos de altíssimo risco segundo os médicos da Casa de Saúde São José. A família já pediu pela interrupção da gravidez e o Ministério Público acatou o pedido com base no risco para a gestante, situação coberta pela lei brasielira.

Acontece que o arcebispo de Olinda e do Recife, Dom José Cardoso Sobrinho, junto com o pároco de Alagoinha, padre Edson Rodrigues, e dois conselheiros tutelares querem embargar o aborto. Para o arcebispo a violência sofrida pela menina não justifica o ato. "A menina engravidou de maneira totalmente injusta, mas devemos salvar vidas", disse. O advogado da Arquidiocese de Olinda e Recife, Márcio Miranda, afirmou que vai denunciar o caso ao Ministério Público de Pernambuco ainda nesta quarta-feira (4). A ideia é impedir que o aborto aconteça.

Eu realmente não me espanto, ainda mais vindo de pessoas que cultuam um instrumento de tortura, que a letra fria de sua litânia seja mais importante que a vida de uma criança. Que leis arcaicas escrita por incultos pastores de cabras cuja moral precisa vir escrita como se fossem divinas para adquirirem um pouco de humanidade. Não se passa um dia sem que através de tais exemplos não tome cada vez mais asco desse tipo de gente fanática. Se "ter deus no coração" significa desprezar a vida em prol de um egoísmo post mortem, fico muito bem com meu ateísmo, obrigado.

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05.03.2009 00h36

Apesar da igreja católica ter feito pressão, foi feita nessa manhã de quarta-feira o aborto na menina. Os dois fetos foram expelidos por meio de medicação, seguido depois de devida curetagem do material excedente.

Como já era esperado, o advogado da Arquidiocese de Olinda e Recife, Márcio Miranda, deve oferecer ao Ministério Público de Pernambuco, ainda nesta quarta-feira, denúncia contra a mãe da menina, pasmem, por assassinato! Segundo o advogado, a mãe estava sendo orientada por entidades, para que o aborto fosse feito. "Essas organizações poderiam orientar e tentar ajudar a mãe o máximo possível para que a gravidez fosse levada adiante, até o momento de uma cesariana", diz Miranda. "É a lei de Deus, 'não matarás'. Consideramos que é um assassinato." Miranda defende ainda que o aborto causará grave impacto na vida da criança.

Impacto? Forçar o nascimento de gêmeos em uma criança de 1,33m e 36Kg que foi estuprada pelo próprio padrasto já não é suficiente? Levar á cabo essa gestação com alto risco para as três vidas diretamente envolvidas em nome de palavras bárbaras que remontam desde antes da Idade do Bronze?

Só duas coisas podem ser estopins de ações tão cruéis como essa de fazer roleta russa com a vida alheia: MEDO e AMORALIDADE. Tenho sérias dúvidas sobre o quanto desses compostos fazem parte da psiquê daqueles que pões suas leis divinas acima de qualquer outro valor humano. Fora a hipocrisia de falar em tirar vidas a instituição responsável por calamidades como a Inquisição, que mandou para a fogueira, não sem antes muita tortura, milhares de pessoas pelos mais diversos motivos, todos injustificáveis.

18.2.09

Quando nem a fome sensibiliza

O texto abaixo á atribuído ao genial Neto da Bullet Propaganda, uma grande agência de publicidade brasileira. Fui checar sua veracidade e não achei uma ligação direta entre o texto e seu suposto autor, mas acabei encontrando outros materiais do Neto que se assemelham um pouco em grau de sensibilidade e crítica. Caso esteja cometendo um engano, favor avisem para que eu possa reparar o crédito.


Eu poderia colocar uma imagem chocante dessas citadas dentro do texto, mas preferi deixar por conta da imaginação de vocês. Se quiserem refrescar suas memórias, basta procurar por fome ou starvation no Google que vai se lembrar rapidamente.

Vou fazer um slideshow para você.
Está preparado?
É comum, você já viu essas imagens antes.
Quem sabe até já se acostumou com elas.
Começa com aquelas crianças famintas da África.
Aquelas com os ossos visíveis por baixo da pele.
Aquelas com moscas nos olhos.
Os slides se sucedem.
Êxodos de populações inteiras.
Gente faminta.
Gente pobre.
Gente sem futuro..
Durante décadas, vimos essas imagens.
No Discovery Channel, na National Geographic, nos concursos de foto.
Algumas viraram até objetos de arte, em livros de fotógrafos renomados.
São imagens de miséria que comovem.
São imagens que criam plataformas de governo.
Criam ONGs.
Criam entidades.
Criam movimentos sociais.
A miséria pelo mundo, seja em Uganda ou no Ceará, na Índia ou em Bogotá sensibiliza.
Ano após ano, discutiu-se o que fazer.
Anos de pressão para sensibilizar uma infinidade de líderes que se sucederam nas nações mais poderosas do planeta.
Dizem que 40 bilhões de dóares seriam necessários para resolver o problema da fome no mundo.
Resolver, capicce?
Extinguir.
Não haveria mais nenhum menininho terrivelmente magro e sem futuro, em nenhum canto do planeta.
Não sei como calcularam este número.
Mas digamos que esteja subestimado. Digamos que seja o dobro.
Ou o triplo.
Com 120 bilhões o mundo seria um lugar mais justo.
Não houve passeata, discurso político ou filosófico ou foto que sensibilizasse.
Não houve documentário, ONG, lobby ou pressão que resolvesse.
Mas em uma semana, os mesmos líderes, as mesmas potências, tiraram da cartola 2.2 trilhões de dólares (700 bi nos EUA, 1.5 tri na Europa) para salvar da fome quem já estava de barriga cheia. Bancos e investidores...

Aproveito o momento para pedir que ajudem os Médicos sem Fronteiras, uma organização humanitária internacional que leva cuidados de saúde a vítimas de catástrofes, conflitos, epidemias e exclusão social, independentemente de raça, política ou crenças. Faça uma doação e ajude-os a dar um fim ao que o descaso econômico insiste em ignorar a existência. Clique no logo abaixo para ir direto ao formulário de doação.

12.2.09

Charles Darwin

Hoje, dia 12 de fevereiro, comemora-se o aniversário daquele que pôs a segunda grande laje de pedra sobre o túmulo do cadáver insepulto do criacionismo. Nascia em Shresbury em 1809 Charles Darwin, naturalista britânico que alcançou fama ao convencer a comunidade científica da ocorrência da evolução e propor uma teoria para explicar como ela se dá por meio da seleção natural. Esta teoria se desenvolveu no que é agora considerado o paradigma central para explicação de diversos fenômenos na biologia, desbancando deus, pelo menos para aqueles com visão materialista, do cargo de explicação única para a variedade de vida encontrada em nosso planeta.

Segue abaixo um recorte de um artigo publicado na ATEA, Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos, sobre a proposta de criação do Dia do Orgulho Ateu e Agnóstico (nome ainda em discussão), e de como a ONG pretende torná-lo popular na mídia.

É um costume antigo escolhermos um dia do ano para celebrar aquilo que achamos importante. Além das datas de eventos históricos relevantes, existe um extenso calendário de dias com motivos religiosos, além de datas cívicas e comerciais para lembrar pessoas, profissões, atividades e idéias. Como resultado, todos os dias do calendário têm coisas a serem comemoradas, com graus de mérito bastante variáveis.

Reconhecendo esse fato, grupos minoritários há muito vêm lançando datas para marcar sua luta pela igualdade e pelo respeito, e contra o preconceito e a discriminação, como é o caso do dia da Consciência Negra e o dia do Orgulho Gay. À peimeira vista, a palavra orgulho pode parecer fora de contexto, mas ela é uma tradição sólida entre as minorias, ao menos desde que se começou usar a expressão black pride (orgulho negro) nos Estados Unidos, há mais de quarenta anos. A ela se associou um dos slogans fortes da época, "I'm black and I'm proud" (sou negro e tenho orgulho disso), eternizada em 1968 pela homônima canção de James Brown.

Nesse contexto, falar em orgulho não é uma maneira de se dizer superior, apenas uma maneira de afirmar que não somos inferiores. Falar em orgulho é importante quando existe uma idéia socialmente difundida de que a sua identidade é intrinsecamente negativa e deve ser motivo de vergonha. Esse é o caso dos negros, é o caso dos homossexuais, e também o caso dos ateus. Falar em "orgulho ateu" é dizer que temos orgulho de sermos quem somos. É dizer que nosso ateísmo é uma parte integrante de nossas posições perante o mundo, e que é uma vergonha que muitos de nós se sintam obrigados a esconder sua identidade para serem plenamente aceitos em seu círculo familiar, social ou profissional. É dizer que os ateus também são cidadãos e merecem, sim, respeito.

Cabe lembrar aqui uma importante distinção entre pessoas e idéias. Muitos ateus entendem que algumas crenças religiosas, ou todas elas, não merecem respeito. E isso é um direito deles. Há idéias que simplesmente não são respeitáveis, como a de que negros são inferiores, ou a de que a Terra é plana -- embora possamos, é claro, discordar de quais idéias exatamente não são respeitáveis. Da mesma maneira, os religiosos podem crer que o ateísmo não é uma posição respeitável, no sentido de que ela não se sustenta, não corresponde à verdade ou coisa similar. Mas isso é coisa muito diversa de dizer que os ateus não merecem respeito, o que é tão errado quanto dizer que os cristãos não merecem respeito.

Já existe uma comunidade no Orkut dedicada ao dia do orgulho ateu, onde se votou por estabelecer o dia do ateu em 12 de fevereiro, aniversário de nascimento de Charles Darwin, o eminente biólogo que deu uma das mais significativas contribuições isoladas ao conhecimento humano, que ao mesmo tempo o impeliu do cristianismo ao agnosticismo. É claro que essa escolha pode ser criticada, e há várias outras opções. Mas isso não importa. Em última análise, a escolha de um dia é perfeitamente arbitrária e qualquer parte do calendário é tão boa quanto as demais.

O importante é trazer o assunto à discussão, na sociedade e na imprensa. É termos um dia para refletirmos e fazermos refletir, para falarmos com amigos e lhes enviarmos mensagens de email, para sair do armário e parar de sentir vergonha, para lembrar que você não está sozinho e que existem pessoas como você lutando por um mundo melhor.

7.2.09

As Raízes da Intolerância Religiosa

Aqui no Rio de Janeiro um jornal chamado Extra saiu com um especial na semana retrasada sobre intolerância religiosa, mostrando como umbandistas são alvo de hostilidades por parte sobretudo de evangélicos, algumas vezes perdendo oportunidades de emprego e até tendo a dignidade desprezada. Um dos casos relatados é o de um garoto no colégio que enquanto cultivava suas obrigações religiosas e usava adereços típicos da sua cultura religiosa africana como guia de contas e colar de palha, foi chamado de “filho do capeta” pela professora na frente de todos e encaminhado à direção.

Mais recentemente hove um caso de exemplo de laicidade no poder público que deveria servir de exemplo. O novo presidente do Tribunal de Justiça (TJ) do Rio, Luiz Zveiter, mandou retirar o crucifixo que estava na sala do Órgão Especial, o que logo revoltou os católicos, mas que agradou espíritas, judeus e até evangélicos (sem contar ateus e agnósticos, não mencionados pela reportagem).


Entre retirada de crucifixos, estátuas de gesso de condomínios, construções de monumentos de cunho religioso e até em escala mais grave a de guerras sangrentas na Faixa de Gaza e Irlanda, reside algo em comum, o estopim cego da religião.

Há um movimento em busca da tolerância entre os praticantes de diferentes religiões, sobretudo no Rio, mas é impossível não notar um certo ar de intransigência, sobretudo no olhar dos adeptos de religiões de matriz abrâmicas como o cristianismo, o judaísmo e o islamismo. Esse entrave dá-se por causa do monoteísmo radical que os textos sagrados dessas religiões, que oscilam entre não aceitar o direito alheio à diversificação de adoração (e também ao direito alheio de não areditar) ao ódio por aquilo que vai de encontro ao que considera sagrado.

Eu me pergunto se há realmente possibilidade de diálogo entre cristãos e adeptos de qualquer outra religião quando a primeira lei deles começa com “não terás outros deuses além de mim”. E quando os reflexos dessa lei recaem, dependendo da denominação, em apenas um preconceito velado por aquilo que não se acredita até atos extremados como guerras civis, execução de inocentes e tudo o mais que acontece em função de uma crença que é cega quato a justiça deve ser. Ouso dizer que o maior causador de conflitos cegos pelo mundo (excluindo aí variações modernas de expansionismo econômico predatório, esse ao menos tem um propósito concreto, mesmo que escuso) é o monoteísmo, a forma mais insegura e ciumenta que os amigos imaginários podem assumir.

24.1.09

Campanha pela adoção do Divinismo

DIVINISMO é a figura de linguagem da classe dos vícios que constitui do hábito, por vezes reflexo, de atribuir a instâncias divinas, superiores ou mesmo místicas, os acontecimentos do dia-a-dia.

Publiquei essa introdução na postagem sobre a igreja da Renascer que tragicamente desabou em São Paulo na semana passada. A Mais recente notícia que chocou o país foi a morte da modelo Mariana Bridi, vítima de uma infecção renal que agravou-se para um quadro generalizado que veio a matá-la na madrugada desse sábado. Uma fatalidade e uma grande perda sobretudo para a família que teve que segurar a imensa barra de acompanhar o modo como a filha definhou dia a dia, tendo as mãos e os pés amputados numa tentativa de salvar-lhe a vida.

Agnaldo Costa, pai da modelo, afirmou, durante o velório da filha, que a morte dela foi uma "decisão de Deus". "Nós perdemos a batalha, mas não a guerra. Deus foi mais forte que eu e, por isso, a escolha dele é levar a Mariana. Mas ela vai estar sempre em nossos corações", disse.

Sem no entanto querer ser hipócrita, entendo perfeitamente que tipo de dor esse pai está passando agora. Perder uma filha com tanto potencial, bela como poucas, de modo tão sofrido é um avassalador baque para qualquer um. Mas não compreendo como prosseguem com essa síndrome de Jó, mulher de malandro (créditos ao Rato da Ex-Evangélicos pelo jocoso apelido). Crentes insistem em continuar submissos às suas ilusões particulares, negar todo o esforço feito por médicos para manterem sua filha viva para no final arrematarem com um simplório e insosso "deus quis assim".

Por essas e muitas outras estou iniciando uma campanha para esse vício de linguagem ser adotado oficialmente pelas gramáticas responsáveis por gerir as regras gramaticais, morfosintáticas e de léxica no Brasil. É um fenômeno muito recorrente para ser ignorado e reflete bem o que meramente é esse barbarismo que é atribuir tudo o que acotece a deus e demais genéricos divino.

Quem tiver algum tipo de conhecimento acerca da maneira como essas decisões são tomadas pelo Ministério da Educação ou qualquer outro órgão que seja responsável pela inclusão de novas regras regentes da nossa língua portuguesa, deixem uma mensagem ou mandem um email para canecaorbital@gmail.com.

20.1.09

Ônibus com slogan ateu são proibidos de circular na Itália

À exemplo de seu vizinho europeu, a Itália estava prestes a ter sua própria campanha pró-ateísta, mas teve sua veiculação cancelada um mês antes do período de veiculação pela concessionária de publicidade nos meios de transporte públicos IgpDecaux. A campanha era da associação italiana União dos Ateus e Agnósticos Racionalistas (UAAR) e a praça de exibição seriam ônibus de Gênova.


La cattiva notizia è che dio non esiste. Quella buona, è che non ne hai bisogno. (A má notícia é que deus não existe. A boa é que você não precisava dele mesmo — tradução livre) era o slogan proposto pela UAAR, mas que foi considerado provocatório e não se enquadraria no código de ética da propaganda italiana.

Perguntada sobre sua opinião, a curia romana alegou ser um "ato de bom senso" a proibição da veiculação da propaganda. Representantes da IgpDecaux afirmaram que não se trata de seguir um ditame religioso, mas tão somente de uma questão de ética.

“Vamos pedir que à prefeitura de Gênova revogue o contrato com a IgpDecaux. A prefeita da cidade, que é laica, tinha se declarado favorável à campanha, realçando o direito de liberdade de expressão. E iremos até a Corte de Justiça Européia se for necessário”, disse Diogo Villella, organizador dos eventos da UAAR e ex-secretário nacional da associação.

Parece que o que eu disse lá na última postagem sobre os bloody britishes vale para os carcamanos. Gente que embarga a liberdade de expressão e é radicalmente contra qualquer um que pense diferente. Para quem não sabe, teve motorista na inglaterra se negando a dirigir um ônibus com propaganda ateísta. Perde dinheiro mas não trai suas convicções frágeis, isso é que é ser um tolo.

Notícia dada primeiro pela Raquel da Ateus e Agnósticos. Link para a BBC com material original pode ser lido aqui.

19.1.09

HotWords

Estava dando uma lida no CetNet, mais precisamente na postagem sobre a provável (?) prisão do Macedão.


O sistema de monetização que André e sua turma usam para rechear suas respectivas contas, o HotWords, dá um vislumbre sobre a verdade por trás das religiões assim que se passa o cursor do mouse sobre determinada palavra no texto. Clique aqui ou na imagem acima para entender.

(Não, não é propaganda. Podem clicar sem susto.)

Divinismo

DIVINISMO é a figura de linguagem da classe dos vícios que constitui do hábito, por vezes reflexo, de atribuir a instâncias divinas, superiores ou mesmo místicas, os acontecimentos do dia-a-dia.*


Como já é comum, o usuario médio de tal vício de linguagem pouco se importa com o verdadeiro sentido que se oculta por detrás de sua ilusãozinha particular: render graças a uma entidade imaginária é no mínimo uma forma mesquinha de egoísmo e uma subvalorização do esforço alheio.

Essa última tragédia em São Paulo, assim como qualquer outra coisa catastrófica que se suceda com alguém, é prato cheio para uma boa olhada pelo que se passa no ambiente ético daqueles que crêem em algo além-matéria. A expressão "Graças à Deus" há muito virou lugar-comum na boca dos cristãos, mais do que "porra" na boca da finada Dercy Gonçalves. Esquecem sempre do trabalho dos bombeiros e médico que dedicam sua vida, sua técnica e seu conhecimento para salvar o próximo, muitas vezes pondo a própria vida em perigo. Apressam-se logo a dizer que foi papai-do-céu que intercedeu e fim de papo.

Nenhuma figura de linguagem merece a subclassificação de vício como o pretenso DIVINISMO. Em uma só palavra estão reunidas o PLEONASMO, ARCAÍSMO e uma pitada generosa de IRONIA sem a menor vontade de afirmar algo que contradiga o sentido denotativo empregado.

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*Não, essa figura de linguagem não existe. De fato deveria ser incluida nas gramáticas da língua portuguesa, dada a frequência com que ela é proferida.