18.2.09

Quando nem a fome sensibiliza

O texto abaixo á atribuído ao genial Neto da Bullet Propaganda, uma grande agência de publicidade brasileira. Fui checar sua veracidade e não achei uma ligação direta entre o texto e seu suposto autor, mas acabei encontrando outros materiais do Neto que se assemelham um pouco em grau de sensibilidade e crítica. Caso esteja cometendo um engano, favor avisem para que eu possa reparar o crédito.


Eu poderia colocar uma imagem chocante dessas citadas dentro do texto, mas preferi deixar por conta da imaginação de vocês. Se quiserem refrescar suas memórias, basta procurar por fome ou starvation no Google que vai se lembrar rapidamente.

Vou fazer um slideshow para você.
Está preparado?
É comum, você já viu essas imagens antes.
Quem sabe até já se acostumou com elas.
Começa com aquelas crianças famintas da África.
Aquelas com os ossos visíveis por baixo da pele.
Aquelas com moscas nos olhos.
Os slides se sucedem.
Êxodos de populações inteiras.
Gente faminta.
Gente pobre.
Gente sem futuro..
Durante décadas, vimos essas imagens.
No Discovery Channel, na National Geographic, nos concursos de foto.
Algumas viraram até objetos de arte, em livros de fotógrafos renomados.
São imagens de miséria que comovem.
São imagens que criam plataformas de governo.
Criam ONGs.
Criam entidades.
Criam movimentos sociais.
A miséria pelo mundo, seja em Uganda ou no Ceará, na Índia ou em Bogotá sensibiliza.
Ano após ano, discutiu-se o que fazer.
Anos de pressão para sensibilizar uma infinidade de líderes que se sucederam nas nações mais poderosas do planeta.
Dizem que 40 bilhões de dóares seriam necessários para resolver o problema da fome no mundo.
Resolver, capicce?
Extinguir.
Não haveria mais nenhum menininho terrivelmente magro e sem futuro, em nenhum canto do planeta.
Não sei como calcularam este número.
Mas digamos que esteja subestimado. Digamos que seja o dobro.
Ou o triplo.
Com 120 bilhões o mundo seria um lugar mais justo.
Não houve passeata, discurso político ou filosófico ou foto que sensibilizasse.
Não houve documentário, ONG, lobby ou pressão que resolvesse.
Mas em uma semana, os mesmos líderes, as mesmas potências, tiraram da cartola 2.2 trilhões de dólares (700 bi nos EUA, 1.5 tri na Europa) para salvar da fome quem já estava de barriga cheia. Bancos e investidores...

Aproveito o momento para pedir que ajudem os Médicos sem Fronteiras, uma organização humanitária internacional que leva cuidados de saúde a vítimas de catástrofes, conflitos, epidemias e exclusão social, independentemente de raça, política ou crenças. Faça uma doação e ajude-os a dar um fim ao que o descaso econômico insiste em ignorar a existência. Clique no logo abaixo para ir direto ao formulário de doação.

12.2.09

Charles Darwin

Hoje, dia 12 de fevereiro, comemora-se o aniversário daquele que pôs a segunda grande laje de pedra sobre o túmulo do cadáver insepulto do criacionismo. Nascia em Shresbury em 1809 Charles Darwin, naturalista britânico que alcançou fama ao convencer a comunidade científica da ocorrência da evolução e propor uma teoria para explicar como ela se dá por meio da seleção natural. Esta teoria se desenvolveu no que é agora considerado o paradigma central para explicação de diversos fenômenos na biologia, desbancando deus, pelo menos para aqueles com visão materialista, do cargo de explicação única para a variedade de vida encontrada em nosso planeta.

Segue abaixo um recorte de um artigo publicado na ATEA, Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos, sobre a proposta de criação do Dia do Orgulho Ateu e Agnóstico (nome ainda em discussão), e de como a ONG pretende torná-lo popular na mídia.

É um costume antigo escolhermos um dia do ano para celebrar aquilo que achamos importante. Além das datas de eventos históricos relevantes, existe um extenso calendário de dias com motivos religiosos, além de datas cívicas e comerciais para lembrar pessoas, profissões, atividades e idéias. Como resultado, todos os dias do calendário têm coisas a serem comemoradas, com graus de mérito bastante variáveis.

Reconhecendo esse fato, grupos minoritários há muito vêm lançando datas para marcar sua luta pela igualdade e pelo respeito, e contra o preconceito e a discriminação, como é o caso do dia da Consciência Negra e o dia do Orgulho Gay. À peimeira vista, a palavra orgulho pode parecer fora de contexto, mas ela é uma tradição sólida entre as minorias, ao menos desde que se começou usar a expressão black pride (orgulho negro) nos Estados Unidos, há mais de quarenta anos. A ela se associou um dos slogans fortes da época, "I'm black and I'm proud" (sou negro e tenho orgulho disso), eternizada em 1968 pela homônima canção de James Brown.

Nesse contexto, falar em orgulho não é uma maneira de se dizer superior, apenas uma maneira de afirmar que não somos inferiores. Falar em orgulho é importante quando existe uma idéia socialmente difundida de que a sua identidade é intrinsecamente negativa e deve ser motivo de vergonha. Esse é o caso dos negros, é o caso dos homossexuais, e também o caso dos ateus. Falar em "orgulho ateu" é dizer que temos orgulho de sermos quem somos. É dizer que nosso ateísmo é uma parte integrante de nossas posições perante o mundo, e que é uma vergonha que muitos de nós se sintam obrigados a esconder sua identidade para serem plenamente aceitos em seu círculo familiar, social ou profissional. É dizer que os ateus também são cidadãos e merecem, sim, respeito.

Cabe lembrar aqui uma importante distinção entre pessoas e idéias. Muitos ateus entendem que algumas crenças religiosas, ou todas elas, não merecem respeito. E isso é um direito deles. Há idéias que simplesmente não são respeitáveis, como a de que negros são inferiores, ou a de que a Terra é plana -- embora possamos, é claro, discordar de quais idéias exatamente não são respeitáveis. Da mesma maneira, os religiosos podem crer que o ateísmo não é uma posição respeitável, no sentido de que ela não se sustenta, não corresponde à verdade ou coisa similar. Mas isso é coisa muito diversa de dizer que os ateus não merecem respeito, o que é tão errado quanto dizer que os cristãos não merecem respeito.

Já existe uma comunidade no Orkut dedicada ao dia do orgulho ateu, onde se votou por estabelecer o dia do ateu em 12 de fevereiro, aniversário de nascimento de Charles Darwin, o eminente biólogo que deu uma das mais significativas contribuições isoladas ao conhecimento humano, que ao mesmo tempo o impeliu do cristianismo ao agnosticismo. É claro que essa escolha pode ser criticada, e há várias outras opções. Mas isso não importa. Em última análise, a escolha de um dia é perfeitamente arbitrária e qualquer parte do calendário é tão boa quanto as demais.

O importante é trazer o assunto à discussão, na sociedade e na imprensa. É termos um dia para refletirmos e fazermos refletir, para falarmos com amigos e lhes enviarmos mensagens de email, para sair do armário e parar de sentir vergonha, para lembrar que você não está sozinho e que existem pessoas como você lutando por um mundo melhor.

7.2.09

As Raízes da Intolerância Religiosa

Aqui no Rio de Janeiro um jornal chamado Extra saiu com um especial na semana retrasada sobre intolerância religiosa, mostrando como umbandistas são alvo de hostilidades por parte sobretudo de evangélicos, algumas vezes perdendo oportunidades de emprego e até tendo a dignidade desprezada. Um dos casos relatados é o de um garoto no colégio que enquanto cultivava suas obrigações religiosas e usava adereços típicos da sua cultura religiosa africana como guia de contas e colar de palha, foi chamado de “filho do capeta” pela professora na frente de todos e encaminhado à direção.

Mais recentemente hove um caso de exemplo de laicidade no poder público que deveria servir de exemplo. O novo presidente do Tribunal de Justiça (TJ) do Rio, Luiz Zveiter, mandou retirar o crucifixo que estava na sala do Órgão Especial, o que logo revoltou os católicos, mas que agradou espíritas, judeus e até evangélicos (sem contar ateus e agnósticos, não mencionados pela reportagem).


Entre retirada de crucifixos, estátuas de gesso de condomínios, construções de monumentos de cunho religioso e até em escala mais grave a de guerras sangrentas na Faixa de Gaza e Irlanda, reside algo em comum, o estopim cego da religião.

Há um movimento em busca da tolerância entre os praticantes de diferentes religiões, sobretudo no Rio, mas é impossível não notar um certo ar de intransigência, sobretudo no olhar dos adeptos de religiões de matriz abrâmicas como o cristianismo, o judaísmo e o islamismo. Esse entrave dá-se por causa do monoteísmo radical que os textos sagrados dessas religiões, que oscilam entre não aceitar o direito alheio à diversificação de adoração (e também ao direito alheio de não areditar) ao ódio por aquilo que vai de encontro ao que considera sagrado.

Eu me pergunto se há realmente possibilidade de diálogo entre cristãos e adeptos de qualquer outra religião quando a primeira lei deles começa com “não terás outros deuses além de mim”. E quando os reflexos dessa lei recaem, dependendo da denominação, em apenas um preconceito velado por aquilo que não se acredita até atos extremados como guerras civis, execução de inocentes e tudo o mais que acontece em função de uma crença que é cega quato a justiça deve ser. Ouso dizer que o maior causador de conflitos cegos pelo mundo (excluindo aí variações modernas de expansionismo econômico predatório, esse ao menos tem um propósito concreto, mesmo que escuso) é o monoteísmo, a forma mais insegura e ciumenta que os amigos imaginários podem assumir.