10.5.07

Capelão do Diabo - REDUX

"A razão pela qual a religião organizada merece franca hostilidade é que ela é poderosa, influente, isenta de impostos e, além disso, sistematicamente transmitida a crianças que não têm idade suficiente para se defender."


Da série "coisas que eu gostaria de ter dito/escrito". O citado é Richard Dawkins, biólogo, em seu Livro O Capelão do Diabo. Invejo profundamente pois ele disse, em exata medida, minha idéia sobre a religião como um todo. Aliás, em tempo: eu não sou radicalmente contra as religiões e até mesmo contra o conceito da existência confortadora de um deus oni-qualquercoisa, embora seu papel principal tenha se esgotado nas primeiras eras de nossa breve existência nesse planeta. Deus só serviu para explicar aquilo que nós não conhecíamos, o ápice que nossa mente pouco mais que simiana conseguiu fazer para pôr ordem nos mistérios físicos. Deus é filho do medo, da estupidez.

Uma vez evoluídos (não muito, é verdade), as crenças em algo sublime e superior deveriam evanescer e soçobrar nas areias do tempo, mas o que foi visto foi justamente a manutenção de tais mitos e crendices com o fim de dominação. A igreja sempre foi um moto-perpétuo movido pelo rico óleo negro da ignorância. Hoje ela ainda tem seu papel. A religião e as crenças em algo superior e transcedente a nossa própria natureza terrena, servem de muleta moral para aqueles que, seja motivados por uma criação inadequada ou por uma índole naturalmente deturpada. E assim como uma muleta, pode causar dependência, como aquele homem que por modo de cair de novo, não desgarra de seu apoio mesmo tendo seus dois pés fluentes na sua alternância empurrando chão para trás.

9.5.07

Gerin Oil

"O Gerin Oil (ou Óleo de Gerin/Geriniol para dar o seu nome científico) é uma droga poderosa que age diretamente no sistema nervoso central e produz uma variedade de sintomas, frequentemente do tipo anti-social ou auto-destrutivo. Se administrada por longos períodos na infância, o óleo de Géria pode, permanentemente, afetar o cérebro e produzir enfermidades no adulto, incluindo arriscadas ilusões, que se provaram muito difíceis de tratar. Os quatros aviões condenados do dia 11 de setembro foram, em realidade, êxtases produzidos pelo óleo de Géria: todos os 19 seqüestradores estavam sob a ação deste estupefaciente. Historicamente, a intoxicação deste agente foi responsável por atrocidades como a caça às bruxas de Salém e os massacres de índios sul-americanos pelos conquistadores. O óleo de Géria estimulou a maioria das
guerras na Idade Média européia e, em tempos mais recentes, a carnificina que se seguiu com a divisão do subcontinente indiano e, em menor escala, do território irlandês.

A dependência ao Gerin Oil pode levar, anteriormente, indivíduos sãos a escapar da normalidade da vida humana e se recolher em comunidades fechadas em que todos as outras pessoas, que não comungam a droga, estão excluídas. Estas comunidades são quase que limitadas a apenas um gênero sexual, com freqüência obsessiva, proíbem a atividade sexual. De fato, a tendência ao sexo torturantemente proibitivo emerge tristemente como um tema recorrente da sintomatologia variegada do Gerin Oil. Ele não parece reduzir a libido "per se", mas, frequentemente leva a um lascivo desejo de interferir, e preferencialmente reduzir, no desejo sexual dos outros. Um exemplo comum é a abominação que os usuários do Gerin Oil sentem pelos homossexuais, mesmo quando se deparam com os que têm uma longa, e amorosa, relação.

Como outras drogas conhecidas, o Gerin Oil refinado em doses pequenas é largamente considerado não prejudicial, e serve como fator de coesão em ocasiões como casamentos, funerais e cerimônias de estado. Especialistas diferem quanto ao uso social da droga, que embora inofensivo em si mesmo, possa ser um fator de risco dando azo a dosagens cada vez maiores e, por fim, o vício.

Doses medianas de Gerin Oil, embora não sejam perigosas exatamente, podem distorcer a percepção de realidade. Crenças que não estão baseadas em fatos podem acabar imunizadas de evidências do mundo real pelo efeito direto da droga no sistema nervoso.

Agerinados podem ser vistos falando com as paredes ou murmurando consigo mesmos, aparentemente crentes que seus desejos particulares, assim expressos, se tornarão realidade, mesmo com o custo do bem estar do próximo e branda violação das leis da Física. Esta desordem auto-locutória é frequentemente acompanhada por tiques estranhos e gestos com a mão, estereótipos insanos tais como menear a cabeça na frente de muros, ou Síndrome da Orientação Compulsiva Obsessiva (SOCO: se virar para o leste, cinco vezes por dia).

Gerin Oil em altas doses pode ser alucinogênico. Usuários crônicos podem ouvir vozes em suas mentes, ou ter visões que parecem, aos viciados, tão reais que frequentemente acaba por persuadi-los de sua tangibilidade. Um indivíduo que se mantêm, sempre, sobre o pico de alucinações pode ser venerado como líder de discípulos que se consideram menos equipados. Tal subseqüente patologia pode ser levada adiante mesmo que o líder venha a falecer, e pode se propagar na forma de bizarra psicodelia, tal como a fantasia canibalística de "beber o sangue e comer a carne" do líder.

O uso continuado de Gerin Oil pode acarretar "viagens ruins"; nas quais o usuário pode sofrer de ilusões mórbidas e pavores, medo de sofrer torturas principalmente, não no mundo real, mas em um mundo "post mortem" de fantasia. "Viagens ruins" deste tipo são ligadas a uma cultura de punição na qual é característica da droga é a o temor obsessivo da sexualidade, já apresentado aqui. A Cultura da punição, incrementada pelo Gerin Oil vai desde o "ósculo", passando pelo "flagelo" até a "pedra", (utilizada especialmente contra adúlteras e mulheres violadas), a "desmanificação" (amputação de uma das mãos), e culmina em uma sinistra fantasia induzida pela droga que "allo-punição" ou "resgate pelo sacrifício do puro": a execução de um indivíduo pelos pecados de outros.

Você poderia pensar que dado o potencial da droga, para a dependência e periculosidade, ela deveria estar no topo da lista de tóxicos proscritos, com sentenças exemplares para quem a traficasse. Mas não, é facilmente obtida em qualquer lugar do mundo e nem de receita se precisa. Traficantes profissionais são em grande número, e se organizam em cartéis, comercializando abertamente nas esquinas e lugares erigidos com este fim. Alguns destes cartéis são adeptos de "tosquiar" pessoas pobres e desesperadas para satisfazer seus costumes. Seus chefes ocupam altos postos, onde exercem grande influência, e são ouvidos por reis, presidentes e primeiros ministros. Governos não apenas são permissivos com eles, mas, ainda lhes garantem isenção de impostos. Pior, os governos subsidiam suas escolas, fundadas com a intenção específica das crianças saírem de lá já viciadas."


Mais uma da série "coisas que eu gostaria de ter dito/escrito" e também mais uma pérola de Richard Dawkins, professor de popularização da Ciência em Oxford, e um ateísta engajado. Este artigo foi anteriormente publicado pela revista “Free Inquiry” com o título "Opiate of the Masses" (Gerin Oil). Soberbo em sua criatividade, Dawkins dá um parecer "bio-químico" de como a religião organizada insufla o ódio, a discriminação e a intolerância por onde quer que esteja. Alheios à razão, os sacerdotes e líderes eclesiásticos só enxergam como únicos e intransponíveis seus valores morais e de como enxergar a vida. São todos "Ateus-1". Um dia escrevo sobre isso.

Créditos a Hrrr, da comuna Ateus - BR, por compartilhar o texto.

8.5.07

Murphy era uma Poliana otimista

O que parecia impossível, improvável ou mesmo impensável, acaba de acontecer. Esqueci a senha do meu blog. Já não bastasse isso aqui viver às moscas com minhas postagens erraticamente sazonais, o mané aqui ainda consegue quase acabar com tudo. Contudo, tive facilidade em refazer o layout antigo usando o source original. Prometo que esse será mais habilmente gerido e freqüentemente atualizado. Se nada mais der errado...

E vai dar.

7.5.07

Performance

"É mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito", já dizia Herr Einstein. Em instâncias que não cabem aqui serem descritas, fui informado que minha performance tem que melhorar. Seja lá o que isso signifique, me parece mais uma boa e velha demagogia clerical transportada para um ambiente que deveria, antes de todos os outros, valorizar um impresso pela qualidade linhas escritas, e não pela reles tinta que mancha as páginas. Isso me deixou muito puto.

6.5.07

If She Wants Me

"You are too young to put all of your hopes in just one envelope"


Trecho de uma musiquinha grudenta que uma amiga me indicou, If She Wants Me - Belle & Sebastian. Não é nem um pouco meu tipo de música, nem para os momentos de calmaria, mas esse verso me lembrou sobremaneira de uma menina maravilhosa que conheci lá pelos idos de 1900 e segundo grau (o que hoje chamam de Ensino Básico, no jargão pedagógico...), e que me balançou alguns graus além do que o velho Richter previra ser possível. Embora apaixonado, fiz muito mal àquela que, por razões absolutamente compreensíveis, não quis me ver nem cromado e polido.

Ano passado, no aniversário dela (29 de Junho), madei-lhe uma carta felicitando-a pela data e falando tudo aquilo que queria ter dito antes, abrindo minha camisa pro pelotão executar sem dó. Talvez não me sentisse mais tão jovem para por esperanças em um envelope (mesmo que digital. Outros tempos...), embora a sensação de angústia tão logo cliquei para enviar me tenha tirado o sono nas noites seguintes. Não escrevi pretendendo tê-la pra mim, pois sei que eu mesmo teria dificuldades de relevar. E além disso, 140Kg de rudeza medieval é pesado para qualquer uma. Entendo, compreendo e aceito. (Explico essa expressão outro dia). Apenas escrevi com o intuito de elucidar e dar vasão aos litros reprimidos na pleura. Mas, bem lá no fundo, tudo que eu sempre sonhei (e ainda sonho) é que ela me veja sob o mesmo prisma que eu a vejo.

5.5.07

Caneca Orbital?

O estranho nome desse blog é devido a uma metáfora bem-humorada de Bertrand Russell. Este pensador, matemático e filósofo inglês costumava dizer que não há nenhuma evidência concreta da existência de deuses, e que afirmar o contrário era o mesmo que dizer que há um bule de chá em órbita do Sol, entre a Terra e Marte, mas ninguém pode detectá-la. Tanto divindades quanto a tal peça de porcelana voadora são hipóteses impossíveis de serem provadas, dada as condições fantásticas inerentes a ambas. Como o dragão na garagem de Sagan, só que com apenas uma asa. Nas palavras do próprio Russel

Muitos indivíduos ortodoxos dão a entender que é papel dos céticos refutar os dogmas apresentados – em vez de os dogmáticos terem de prová-los. Essa idéia, obviamente, é um erro. De minha parte, poderia sugerir que entre a Terra e Marte há um pote de chá chinês girando em torno do Sol em uma órbita elíptica, e ninguém seria capaz de refutar minha asserção, tendo em vista que teria o cuidado de acrescentar que o pote de chá é pequeno demais para ser observado mesmo pelos nossos telescópios mais poderosos. Mas se afirmasse que, devido à minha asserção não poder ser refutada, seria uma presunção intolerável da razão humana duvidar dela, com razão pensariam que estou falando uma tolice. Entretanto, se a existência de tal pote de chá fosse afirmada em livros antigos, ensinada como a verdade sagrada todo domingo e instilada nas mentes das crianças na escola, a hesitação de crer em sua existência seria sinal de excentricidade.

Além de algumas perfumarias mais pessoais, os (poucos) leitores vão encontrar aqui reflexões e ensaios curtos sobre religião, esse conceito criado na aurora da nossa existência pouco mais que simiesca nessa terra, buscando desesperadamente uma explicação corfortadora para um sem-número de fenômenos que ocorriam à nossa volta, que sempre viveu da ignorância e do medo, aquele que Petrônio já conhecia como nossa pedra fundamental. Esse conceito sobreviveu ao tempo na mente medrosa que esses mesmos deuses inventados pudessem nos castigar por não acreditarmos nas suas palavras inventadas por nós mesmos.