29.9.08

A Aposta de Pascal

Mais uma dos texanos do programa de televisão à cabo americano The Atheist Experience, que recebe ligações de religiosos tentando convencê-los de que milagres acontecem por interferência divina, deuses existem entre outras. Já havia algum tempo que queria escrever algo sobre a Aposta de Pascal (não a linguagem de programação), mas os caras tornariam qualquer palavra minha meramente redundante, pois não sobrou muito muro pra derrubar depois dessa. De qualquer forma, podem conferir esse link para mais detalhes históricos sobre o filósofo francês Blaise Pascal e sua infeliz "argumentação". Está em inglês pois a versão em língua portuguesa é uma mera sombra do completíssimo artigo original.

Depois desse vídeo percebo que sou muito gentil debatendo...

Mais uma vez, crédito para o FBI pelo excelente trabalho de legendagem e distribuição.

22.9.08

Edir Macedo prega que evangélicos tomem o poder

Neste domingo (21/09) o jornal O Globo publicou uma matéria que fala do lançamento do novo livro do Edir Macedo, Plano de Poder, onde ele afirma que deus teria um suposto plano de governo onde a IURD e quaisquer denominações protestantes à ela filiadas, seriam exortadas à apoiar Igreja Universal nessa empreitada rumo ao Planalto.


A jornalista Tatiana Farah entrevistou Roberto Romano, cientista político e professor de ética da Unicamp que afirmou que o momento é propício para o lançamento do livro, mas a liderança de Macedo está longe de ser unânime entre os ceca de 40 milhões de evangélicos no país.

Silvana Suaiden, professora titular de Teologia da PUC - Campinas, disse que Macedo faz uma leitura fundamentalista do Velho Testamento. Ele dá uma relevância descabida ao papel dos evangélicos nessa tomada de poder, deixando de lado de fora os adeptos do catolicismo. Isso em uma época que só haviam hebreus primitivos e judeus, sem nem sombra messiânica da imagem de Jesus.

Ler essa reportagem (também disponível no site do Instituto Humanitas Unisinos) me deu uma sensação desagradável de impotência perante os acontecimentos. Embora realmente uma unipartidarização evangélica ainda é uma utopia dentro das fileiras protestantes, ainda assim têm voz ativa para eleger senadores, governadores e tentar ascender à prefeitura. Realmente a época dos pastores/vereadores com suas ovelhinhas locais acabou e, em face aos prognósticos futuros, deixa saudade.

Talvez isso nem venha a se concretizar, mas é um absurdo um tipo de manobra como essa. E mais absurdo ainda é constatar que cerca de 20 ou 30% da parcela da população brasileira não tem escrúpulos de afirmar que votaria em um candidato apenas pela sua afiliação religiosa evangélica. Basta ver o que está acontecendo em São Paulo com a candidata à prefeitura Marta Suplicy e como ela tem sido alvo da estupidez evangélica daquela cidade.

Aproveitando: sei que é fora do meu domicílio eleitoral, mas como ateu não votaria na Marta apenas porque ela está sendo hostilizada pelos protestantes, como forma de mostrar meu repúdio. Tampouco votaria em um candidato ateu apenas por ele ser ateu, o que seria um erro tão crasso e da mesma família, apenas com sinal invertido, da insólita frase "irmão vota em irmão", que o velho Macedo está tentando levar à um assustador patamar ainda não visto no Brasil.

12.9.08

#4 - MORAL

Moral, basicamente, é o conjunto de regras de conduta, consensos de comportamento e atitude tomadas como sendo adequadas para uma determinada sociedade e em determinado local. Tal definição é relativa pois o tipo de atitude esperada de uma pessoa em geral está em conformidade com a cultura na qual ela está imersa. Não há, pois, um parâmetro pelo qual podemos julgar que determinada ação está correta ou não, apenas que determinada ação está ou não dentro do que consideramos justo, aplicável ou mesmo bom. É, portanto, um valor subjetivo. É possível, entretanto, impor um conjunto de regras a uma sociedade, desde que essa imposição advenha de um poder político forte, de uma sub-cultura influente ou de um ou mais indivíduos carismáticos. Percebam que o fato de que algo é disseminado, influente ou comum não é obrigatoriamente reflexo da verdade.

Levamos milhares de anos de história ocidental para chegarmos ao patamar que estamos hoje. Pode não ser o melhor exemplo do mundo, mas sem dúvida é o melhor que pudemos fazer e o mais inclusivo de todos os códigos de conduta já criados do nosso lado do planeta. Em tempo: excluí o resto do mundo desse grupo pois é sabido que em alguns tópicos eles são muito diferentes de nosso agir e compreender o mundo. Culturalmente são bem divergentes, mesmo que com muitas semelhantes inerentes à nossa espécie. Por esse motivo, e também por familiaridade, optei por estancar apenas no nosso paradigma e na religião com que tenho mais familiaridade, o cristianismo. Após esse longo período de evolução cultural, onde abandonamos práticas hoje tomadas como cruéis e indignas, ainda assim algumas pessoas insistem em uma leitura literal de cânones primitivos e leis ultrapassadas. Nossa sociedade está prenhe de exemplos de códigos de conduta específicos que estão fora de sintonia com o que convencionamos chamar de bom-senso, respeito à vida e liberdade de escolha. As Testemunhas de Jeová tem tradicionalmente um ponto de vista interpretativo das escrituras bíblicas cujo principal reflexo é a intolerância religiosa à doação de sangue e órgãos. Imagino quantas vidas já não foram perdidas em casos onde um simples gesto poderia ter salvo centenas delas anualmente. Há aqueles que acreditam em uma concepção literalista de todo o conteúdo, com uma Terra criada por um ser superior dotado de características divinas e que foi responsável por tudo que existe no universo. Essa mesma discussão foi debatida em júri em Dover, Pensilvânia, EUA, onde protestantes queriam espaço para que suas crenças travestidas de ciência fossem ensinadas em sala de aula junto com a teoria da evolução darwinista. A decisão, aliás, foi a favor dos evolucionistas.

Onde realmente quero chegar é no critério que os religiosos costumam ter para tomar a Bíblia como sendo um reflexo literal da verdade. É comum dentro do dogma de todas as religiões a confiança na capacidade de seus escritos serem totalmente corretos e sábios. Baseado em evidências observáveis, testáveis e reproduzíveis me parece claro que o criacionismo, bem como as partes onde a Bíblia fornece informações de cunho científico estão quase todas erradas. O que é justo já que seu conhecimento está estagnado na idade do bronze, onde pouco se conhecia do mundo além de técnicas agrárias e do fabrico de instrumentos e ferramentas. Histórias fantasiosas e metafóricas como o dilúvio, inferno, o sol de Josué e outras não merecem mais atenção do que como alegorias folclóricas que são. Se o que eles consideram de mais sagrado não é infalível, não representa a verdade, não poderia ser também incompatível com o que conhecemos como moral? Já que a Bíblia é inconteste algo que está muito aquém de ser um guia de biologia, estaria a altura de ser um guia moral?

Eu diria que não. É comum dentro da Bíblia versículos onde são relatados destrato à mulheres (do mesmo jeito que seus primos do Islã...), prega injustiças, constrói valores arbitrários que acabam por arruinar de famílias a cidades, comete e incentiva crueldades contra pessoas e animais e é intolerante contra aquilo que é diferente. Já debati com pessoas que recorreram ao seguinte argumento quando menciono esses fatos: "Mas isso era correto para oa povos daquele tempo. Hoje é bem diferente". Relatividade moral/cultural, lembram? E de onde saiu nosso moderno modo de viver? Por que "hoje é diferente"? Está na Bíblia? Não, não está. Falando a verdade, em todos os lugares onde a religião foi o cerne de códigos morais, foi exatamente onde atrocidades maiores foram cometidas. Sempre em nome de deus.

Desenvolvemos nossa moral, nosso comportamento e nosso estilo de vida fora de qualquer escritura. Através de ramos como filosofia, que nos ajudou a entender o homem. História que nos deu os registros do que deu certo e o que deu errado com nossos antepassados. Ciências como sociologia, psicologia, biologia que nos forneceram pistas sobre quem somos na realidade. Pressões sociais expontâneas. Política. Comunicação. Isso sim formou nossas diferentes morais modernas e garante que podemos existir em um Estado de laicismo absoluto sem intervenções infantis de crédulos atemorizados pelo que não conhecem. Chamar a Bíblia de livro santo ou de guia moral é uma afronta à decência e a dignidade. Pretender que ela seja a verdade absoluta é subestimar o intelecto humano*.


*Retirado do site Bíblia da Cético.


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Parte 1 - DEFINIÇÃO
Parte 2 - ORIGENS
Parte 3 - EVOLUÇÃO
Parte 4 - MORAL