9.11.11

Sagan Day (09/11) #saganday

Nascia nessa data em Nova York Carl Edward Sagan. Além de astrônomo, foi uma das maiores forças de divulgação científica que o mundo já conheceu. Hoje Carl Sagan estaria completando 77 anos se não tivesse sucumbido aos 62 de grave câncer na medula óssea chamado mielodisplasia, depois de uma batalha de dois anos.

Apesar de não aparecer nos TT's (shame on you, worldwide...), como parte da festa a NASA e o SETI Institute prepararam uma trilha sonora especial, que pode ser baixada para relembrar sua obra máxima, o documentário Cosmos. Autor de duas dezenas de livros, entre eles sua obra máxima, Cosmos, adaptado para televisão e que deveria ser obrigatório ser assistido por jovens do Ensino Médio (monstruosidades como as pérolas do Enem seriam reduzidas, sem dúvida). Outros livros importantes foram Os Dragões do Éden, pelo qual recebeu o prêmio Pulitzer de Literatura (e que tenho a honra de ter um exemplar dado por alguém que eu gosto por demais, minha amiga Joyde), O Romance da Ciência, Pálido Ponto Azul e O Mundo Assombrado Pelos Demônios, que através do talento e da voz de Igor Cavalcanti pode ser apreciada e baixada gratuitamente em mp3 na forma de um audiobook.

Escreveu ainda o romance de ficção científica Contato, adaptado para o cinema em 1997 e protagonizado pela Jodie Foster. Sua última obra, Bilhões e Bilhões, foi organizada, compilada e publicada postumamente por sua esposa e colaboradora Ann Druyan. Bilhões e Bilhões é um compêndio de artigos inéditos escritos por Sagan, tendo o capítulo final, O Vale da Sombra, sido escrito por ele enquanto se encontrava no hospital.

Muitos me perguntam como é possível enfrentar a morte sem a certeza de uma vida posterior. Só posso dizer que isso não tem sido um problema. Com ressalvas quanto às "almas fracas", partilho da visão de um dos meus heróis, Albert Einstein:

Não consigo conceber um deus que recompense e puna as suas criaturas, nem que tenha uma vontade do tipo que experimentamos em nós mesmos. Não consigo nem quero conceber um indivíduo que sobreviva à sua morte física; que as almas fracas, por medo ou egoísmo absurdo, alimentam esses pensamentos. Eu me satisfaço com o mistério da eternidade da vida e com um vislumbre da maravilhosa estrutura do mundo real, junto com o esforço diligente de compreender uma parte, por menor que seja, da Razão que se manifesta na natureza.

#saganday

5.8.11

Orgulho para quem não tem do que se orgulhar

O orgulho hétero atual repousa apenas na implicância do "se eles podem, também posso", em alguns casos em prol da "moral e bons costumes". Vamos levar em consideração que o gay/lésbica, apenas por ser gay/lésbica, está submetido aos héteros em diversas escalas sociais, tem tolhidos os seus direitos básico até em cláusulas constitucionais. Em suma o gay/lésbica tem menos privilégios por o ser do jeito que ele ou ela são. Comparativamente falando, é como excluir alguém de importantes direitos sociais por uma característica qualquer, por exemplo, mulheres não podem votar (até 1893, Austrália), negros não podem frequentar o mesmo ambiente que brancos (até 1960-70 nos EUA), judeus são uma sub-raça e não merecem o mesmo que a raça pura ariana (até meados do séc. XX).

Numa comparação talvez exagerada, comparando a exaltação do hétero com a extrema direita européia, movimento político protecionista que vigorou durante meados do século XX em alguns países como a Alemanha e a Itália, tinha por função a manutenção do privilégio através do nacionalismo e o banimento daqueles que são considerados estrangeiros, diferentes, párias sociais, em alguns casos levando à aniquilação sistemática, no caso dos judeus.

Quando alguém brada que tem orgulho de ser hétero, brada também, conscientemente ou não, que tem orgulho de sua posição numérica superior, de seus privilégios segregários, de sua posição social elevada, pois é isso que ser hétero é em nossa sociedade. Ter mais privilégios que a contrapartida. É ter orgulho da dominância, muito diferente do caso gay, que é ter orgulho da perseverança e prosperar em terreno tão hostil como o ocidente de hoje. E quando falo prosperar refiro-me a alçadas tão simples para a orientação dominante, como buscar felicidade com alguém, expressar seu amor em públicomo como qualquer hétero sem ser incomodado com isso, poder ter qualquer profissão que seu talento permita sem ter que se ver tolhido desse direito, construir família, ter filhos, empreender para construir uma vida à dois.

Nada contra se orgulhar. É ótimo para a auto-estima, mas desde que de realizações, não de algo com o qual se nasce naturalmente. Qual tipo de dificuldade você enfrentou para ser hétero? Nenhuma. Qual medalha é merecida quando a vitória chega através de dopping? Nenhuma. Qual o valor de zerar um jogo jogando na mais baixa dificuldade? Nenhum.

Esse panorama social vexatório está mudando sim, sem dúvida (It's gets better![1] [2] [3]), mas ainda longe de ser apenas passado. E não cabe pedir tempo, que a sociedade vai mudar aos poucos. Nenhuma renovação/revolução social começa através de quem oprime, e sim de quem é oprimido. Nunca é de quem detém os privilégios, mas sim de quem os anseia.

A escravidão, condenada hoje, era prática comum no passado. Precisamos de milênios antes de notarem que submeter outro ser humano, negociar sua propriedade e sua liberdade era algo execrável. Para nossa vergonha como brasileiros fomos os últimos a abolir essa prática nas Américas. Foram necessários séculos de rebeliões como a de Spartacus, quilombos como os de Zumbi dos Palmares e luta para que isso acontecesse. Poderíamos dizer para alguém posto à ferros um confortável "dê um tempo"?

O feminismo tem mais de um século e ainda é hostilizado, vilipendiado e discriminado. Se as mulheres dependessem da "boa vontade" masculina em reconhecer a igualdade de gênero, estariam ainda nos servindo humildemente, sendo nossos objetos de prazer e ainda proibidas de frequentar os círculos de poder. Foram necessárias décadas de queima de sutiãs, de luta como a de Sakineh Ashtiani, Ameneh Bahrami, das milhares de meninas com o clitóris extirpado todos os anos para que isso acontecesse. Poderíamos dizer para alguém objetificado um confortável "dê um tempo"?

Esse início de milênio é o tempo da "rebelião" gay, de sua imposição de seu papel social e de seus direitos inalienáveis. Nunca eles tiveram tanta voz, tanta importância e tanta vontade de se emancipar. E não é tão recente, uma vez que homossexualidade simplesmente faz parte da natureza animal, quer gostemos disso ou não. Não há descrição de civilização alguma, de qualquer época, que não faça referência à existência de mulheres e homens homossexuais. Apesar dessa constatação, ainda hoje esse tipo de comportamento é chamado de antinatural, abominável. Não dá para dizer para alguém agredido por ser gay um confortável "dê um tempo"! Não quando muitos são humilhados, espancados, deformados e mortos todos os dias.

Se as pessoas ao menos entendessem o porquê do orgulho gay, não se precipitariam a aventar a possibilidade de um orgulho hétero. Assim como não proporiam uma marcha masculina porque há uma mais ruidosa e necessária pelas ruas. É tão descabido quanto ter orgulho de ser bípede.

Em suma: ser gay, ser mulher ou ser negro é jogar no VERY HARD. Sempre. E tenho uma certa vergonha de ter levado quase três décadas para finalmente compreender que passei a vida toda sendo um n00B.

28.6.11

Sua respiração. Agora.

Você se dá conta que está respirando manualmente, expirando o ar aquecido que você sente atrás do céu da sua boca.

Você se dá conta que cada vez que você engole escuta um pequeno ruído em seus ouvidos. O ar entra mais frio agora e você respira um pouco mais profundamente.

Você percebe seu nariz constantemente nas bordas inferiores de sua visão periférica. Move a cabeça para confirmar.

Você se dá conta que sua língua é incapaz de encontrar um lugar confortável dentro de sua boca. Engole de novo. Escuta o ruído. Abre um vazio na boca e deita a língua na saliva do fundo.

Você se dá conta que vive o tempo todo no piloto automático e não nota quando reage ao invés de pensar. Pare e reflita antes de falar outra merda preconceituosa sobre qualquer coisa.

Sua respiração. Agora.

19.6.11

"Quatro pernas bom, duas pernas ruim"

O que é o preconceito senão a pretensa cura para a própria baixa auto-estima? Diminui-se a importância do outro para que, em proporção, possa parecer maior, mais forte, mais privilegiado. Demoniza-se o diferente para que não haja pena em negar-lhes direitos, em solapar-lhes a liberdade. Compensam a própria impotência em se equiparar com os avatares que sua mente classifica como superiores através da subjugação do alheio, da criação e da manutenção de classes, de classificações, de ordenação e de prioridade. O preconceito contra mulheres, homoafetivos (se bem que Davi e Jônatas eram bem mais que amigos, a despeito dos malabarismos semânticos que tem que fazer para abafarem o caso. Leiam 2 Samuel 1:26), escravos (consequentemente no caso ocidental, historicamente extendido aos negros), todos eles encontram respaldo na Bíblia, cuja matriz é escandalosamente patriarcal, misógina e impositora. Desde seus rabiscos iniciais, inventaram regras cuja única pretensa qualidade é ter convenientemente sobrevivido ao tempo. Se foi inspirada, como alguns dizem, a musa dessa paródia de sabedoria é o medo.

Medo de não ser aceito, de não ser bom o bastante, perfeito o bastante. Medo de ser confrontado, daí doutrinam crianças, pois estas não tem ainda o bom-senso treinado para saber distinguir o certo do errado, para que possam espalhar a semente e sua corrente não seja esquecida. E repetem seu mantra "quatro pernas bom, duas pernas ruim", certo que suas vozes são um coro numeroso, balidas em uníssono. Nas palavras do Maldito: "Criou-se uma situação realmente trágica: ou o sujeito se submete ao idiota ou o idiota o extermina."

16.6.11

Desprazer, irritação e antipatia não define

"Vamos admitir até que a mulher tenha sido violentada, que foi vítima... É muito difícil uma violência sem o consentimento da mulher, é difícil", comenta. O bispo ajeita os cabelos e o crucifixo. "Já vi muitos casos que não posso citar aqui. Tenho 52 anos de padre... Há os casos em que não é bem violência... [A mulher diz] 'Não queria, não queria, mas aconteceu...'", diz. "Então sabe o que eu fazia?" Nesse momento, o bispo pega a tampa da caneta da repórter e mostra como conversava com mulheres. "Eu falava: bota aqui", pedindo, em seguida, para a repórter encaixar o cilindro da caneta no orifício da tampa. O bispo começa a mexer a mão, evitando o encaixe. "Entendeu, né? Tem casos assim., do 'ah, não queria, não queria, mas acabei deixando'. O BO é para não facilitar o aborto", diz.

O bispo continua o raciocínio. "A mulher fala ao médico que foi violentada. Às vezes nem está grávida. Sem exame prévio, sem constatação de estupro, o aborto é liberado", declara, ajeitando o cabelo e o crucifixo.

Luiz Gonzaga Bergonzini, bispo de Guarulhos.


Uma das porras mais nojentas que pude ler recentemente. Ele fala isso do alto de seu "privilégio" masculino e de sua autoridade eclesiástica, da distância de mundos que separa aquilo que ele entende como vida daquilo que é a vida real. Tem que ser um canalha sem limites e merecedor de punição máxima quem estupra, mas tem que padecer de um cinismo sem tamanho dizer, fatalmente acreditar, e mais ainda seguir passivamente um posicionamento desumano como esse.

Um ser desses que não procria nem acasala, só entende de um mundo onde só homens detém o poder e cabe às mulheres apenas o papel de uma unidade reprodutora, é capaz de dizer um impropério desse quilate sem nem ao menos se envergonhar da comparação estúpida. Mas, como disse a Paula, desse tipo de gentinha, oriundos da mesma gamela que os bolsonaros e demais conservadores, espera-se isso mesmo. Surpresa mesmo é um discurso religioso que não mascare ódio aberto com uma carranca de amor irrestrito.

11.6.11

A base da pirâmide

Não sei se já aconteceu e eu não assisti, mas como dito pelo Roney Belhassof pelo twitter, alguma emissora brasileira teria coragem de fazer um teste como esse em seu horário nobre?

Existe um ponto (geralmente de ebulição) onde a liberdade de comunicação da mídia é uma liberdade concedida pela parcela mais conservadora da audiência. E essa liberdade concedida é diretamente ligada à opinião masculina predominante, uma vez que o beijo gay feminino gera menos asco à opinião pública (somado ao fato que é uma fantasia bastante comum no imaginário da maioria dos homens) que o beijo gay masculino, como pode ser visto no vídeo. Ou seja: a homofobia é um tijolo secundário da pirâmide dos preconceitos sustentada pela base monolítica do machismo.

Interessante constatar que ambos os movimentos, pró-homoafetivo e feminista, são percebidos de forma diferente hoje. O primeiro é muito mais aceito por uma parcela mais esclarecida da população que o segundo, que é vilipendiado dos muito ricos aos muito pobres, uma vez que é um traço sedimentar muito mais antigo que o próprio dinheiro. Na verdade é mais antigo que nossa civilização, uma vez que compartilhamos ascendência com símios de sociedade extremamente patriarcais, com registro de dominação e violência contra suas fêmeas, outros machos e o que quer que entre em seu território. A dominação masculina sobre a figura feminina une todos os estratos de uma sociedade com uma cola mais firme que qualquer modelo econômico ou polítco já criado e extremamente difícil de se dissolver.

5.6.11

As bolhas no meu sangue


"O nitrogênio residual é o nitrogênio remanescente no corpo após um mergulho, cujo tempo de demora para ser eliminado depende do tempo de mergulho e da profundidade atingida. (...) Caso a eliminação do nitrogênio residual seja deficiente (...) pode ocorrer a geração de bolhas de nitrogênio que não conseguem ser eliminadas do corpo humano, ficando retidas em tecidos ou na circulação sanguínea. Esta ocorrência é chamada de doença descompressiva." — Wikipedia.


Quando passo pelo aquário que decora o hall de um dos prédios da faculdade onde dou aula, sempre paro um minuto para olhar os peixinhos levando sua vida encaixotada. Eles, assim como nós, estão sempre alheios a um detalhe que só nos damos conta raramente: ambos, eu e os peixinhos, estamos mergulhados em um fluido, ele no líquido e eu no gasoso. E nem nos damos conta disso, a não ser nesses momentos reflexivos.

Peixes não costumam se aventurar muito do lado de fora de seu ambiente (alguns, sorte nossa, desconhecem essa regra...), mas nós humanos desenvolvemos um sem número de técnicas, ciências, equipamentos, máquinas e veículos que nos fazem ir lá onde os peixes vivem, mesmo nas profundidades mais abissais junto de seus parentes mais bizarros. O problema de ir tão fundo (e para humanos, qualquer 10m já configura uma atmosfera extra de pressão sobre nossos frágeis corpos) nem é vencer a profundidade, mas voltar dela.

Não sei quanto falta. Talvez nunca chegue a respirar ar limpo e puro de novo. Mas a pressão incômoda das tradições, da religião, da misoginia, principalmente do cáustico e silencioso machismo, talvez a substância mais resiliente da tabela periódica dos preconceitos, vai ficando cada vez mais para baixo. Já consigo ver o bruxulear da luz clara do sol atravessando a ondulante linha d'água. Tenho algumas bolhas no sangue, mas vão ser reabsorvidas ao longo da subida. Se ainda estou consciente que ainda estou imerso no frio oceano cultural que fui mergulhado quando criança, é com orgulho que vejo que estou hoje mais perto da superfície que estava ontem.

19.4.11

Especial Semana Santa - CARTA AOS GAÚCHOS

CAPÍTULO I

1 Estas são as palavras que O SENHOR falou a Sargento.

2 Há de fazer um banquete para muitos, ó servo do carvão Saci. Tu tomarás para si uma parte de carne de boi maturada, e a peça não poderá pesar mais do que 200 dracmas de prata, poias assim O SENHOR viu que era bom e não alcatra.

3 E tomarás também para si um porco. E esse porco deverá ser sacrificado e suas víceras retiradas, limpas, cozidas e purificadas. E a carne deverá ser temperada e colocada dentro das víceras do porco. E faleilo-ás antes da carne para que o fogo se alimente da gordura santa e não se apague, pois assim ordena O SENHOR.

4 E de galinha e frango tomarás seus membros e seus miúdos e porás também no fogo, para que tua glória e sabor sejam preservados. Acautelai para que não demore muito, ordena O SENHOR, para que tenra e santificada permaneça sua santa refeição.

5 Na sexta edificarás o MEU nome. E também no sábado executarás o rito. E no domingo serás santo entre os santos, pois em ti recai o júbilo sagrado.

6 Em qualquer dia que não falte na geladeira fermentado de cevada, o pão líquido sagrado. E sairás de lá ébrio, pois assim ordena O SENHOR, mas manterás a compostura pois tu és foda. E se servirás primeiro àquele que se assenta à direita do altar de tijolos, que queima a face sobre as brasas do altar, pois dele é a glória de servir em SEU nome.

7 E edificarei a grelha, e subirás o perfume de gordura, que é boa aos sentidos DO SENHOR. E virarás de tempos em tempos, e espetarás, e testarás a consistência, e provarás um naco a cada quatro, pois tu és sacerdote do fogo, e és tu que estás sempre a alimentá-lo.

8 E imolarás a carne e o pão de alho. E não deixarás que o fogo a queime, pois tu controlarás a salmoura que tempera e sossega a brasa. E louvará MEU nome em teu altar. E não comerás da mesa do almoço senão carne de toda ave, e de todo suíno e de todo boi e de tudo aquilo que se banhar nas chamas do altar.

9 E ferirás a carne com lâmina afiada, em pedaços sangrentos para aqueles que gostam de sangrento, e ao ponto àqueles que gostam ao ponto e quem gostar de assaz assada que se vire, pois tu não comerás carne ressequida, assim intima o SUPREMO SENHOR DOS EXÉRCITOS.

10 Acém.

11.4.11

A forma mais abjeta de proselitismo religioso

Eis que um tal de Fabio Barros chegou na minha página com a seguinte ode à Desgramática:

"o cara qu abril fogo na escola em realengo era um maniaco relegioso ok tudo bem, ele nao era cristao seguia uma linha de pensamentos terrorista dos muçulmanos, com a visao religiosa dele ele matou 13 e feriu alguns, mas pergunto os cientistas que fizeram a bomba atomica que exteminou as duas cidades japonesas na segunda guerra mundial, eram ateus ceticos nao mataram mais? com o ceticismo deles do que o maniaco que atirou na escola com a visao relegiosa dele?" [sic]

Pra começar, culpar os cientistas do Projeto Manhattan pelas mortes em Hiroshima e Nagasaki é o mesmo que acusar a Smith & Wesson por fabricar os revólveres que o Wellington usou para fazer o que fez. Não confunda o agente causador com as ferramentas. No caso japonês, quem apertou o gatilho foi o governo americano, muito protestante até então.

Ao contrário que alguns jornalistas andaram falando por aí, tampouco foi a religião dele a causadora da calamidade. Foi a sociopatia que ele desenvolveu, causada sabe-se lá pelo que, nunca saberemos. Ele encontrou acolhida naquele sincretismo maluco que alimentou seu ódio pelas mulheres (sim, embora sejam crianças, a maioria era do sexo feminino), que mistura preces a Maomé, versículos da Bíblia e suras do Corão. Em seus estudos ele teve exemplos suficientes de como agir para punir aqueles que eu sua mente doentia achava que mereciam morrer. Se a religião teve algum papel nisso, foi a de dar subsídios de ação e abertura de precedentes para fazer o que fez, o que é pior, sem sentir culpa e até com a sensação heróica de martírio.

Aproveitando a deixa, já que o assunto é proselitismo religioso, a coisa mais abjeta, imoral e nojenta que pude ler nesses dias de sofrimento para dezenas de famílias, centenas de familiares e milhões de brasileiros foi publicada em vários blogs assembleianos que um garoto sobreviveu ao massacre pois orou a Deus e o assassino poupou-o. Além do fato do assassino estar visando desde o início as meninas (só posso imaginar que os garotos mortos foram infelizmente pegos no tiroteio visado), há a explícita cantata de vitória por parte daqueles que foram afortunados de escapar à tragédia. Delegar a própria fé foi de uma imundície de caráter que só entre esse tipo de pessoa é comum encontrar, a mesquinharia e o egoísmo orgulhoso de pisar sobre os sentimentos e a infelicidade de quem foi vítima da fatalidade. Um ego do tamanho do planeta por achar que o próprio umbigo abençoado e dos outros não é.

Só dei esse mundo de atenção para o cara que foi lá comentar na minha página pois quero deixar bastante claro o quanto eu desprezo esse tipo de atitude proselitista, solipsista e vergonhosa, onde tenta-se desesperadamente justificar o ato através de uma visão polarizada, curta, pequena, indigna e tacanha como que foi levantada. Junto com qualquer idéia de tradição, essa é uma visão escrota que merece ser combatida todos os dias.

12.2.11

Das certezas e incertezas

Depois de passar em breve revista vários tópicos e galerias de comentários em diversos blogs e fórums, percebi um padrão comportamental bem interessante.

Religiosos são os primeiros a levantar a bandeira da ciência quando lhes favorece e a desacredita quando não os favorece. A história da urna de ossos com a inscrição "Tiago, filho de José, irmão de Jesus" é levantada com frequência como evidência da existência de Jesus, assim como a complexidade irredutível tenta se agarrar nas lacunas para promover o design inteligente. À propósito, ambas desmontadas aqui e aqui. Ainda no terreno da hipocrisia, cristãos creem no literalismo da Bíblia quando lhes convém, mas resguardam-se atrás da cautelosa contextualização e da interpretação covarde nas partes mais escabrosas do livro. Leia a 7, 34 e a 47 dessa pequena lista de erros criacionistas para melhor entender.

Mas o pior é que "o lado de cá" da balança, ateus e agnósticos, se apegam com excesso de zelo em rotulações, quando ambos apenas são variações do ângulo pelo qual se foca o ceticismo em relação à crença religiosa. Quando religiosos não fazem distinção entre ambos fazem melhor do que ateus e agnósticos discutem qual dos dois pontos de vista é superior ao outro.

Já que falo em prontidão contra o equívoco, o ceticismo da grande maioria é seletivo. Aposto que tem muito ateu que se diz cético mas que acredita em determinados partidos políticos e vota com a manada nas eleições sem nem ao menos se interessar em fazer uma análise lúcida do momento. Da mesma forma muito religiosos que acreditam em coisas que nem em Salt Lake City recebem algum crédito, mas devem ser hiper-criteriosos ao comprar um carro usado e raramente fazem mau negócio após uma inspeção minuciosa. Pro nosso bem espero que não existam pessoas 100% céticas nem 100% crédulas (se tais existem, são chatos intragáveis e idiotas completos, nessa ordem), apenas céticas onde aprenderam a ser.

Conclusão: ambos, religiosos e não-religiosos conseguem ser escrotamente arrogantes em suas certezas. As dúvidas geram debates, mas certezas batem boca como ninguém.

11.1.11

No seu devido lugar


O universo é alheio ao que acreditamos, ao que deixamos de acreditar, ao nosso sofrimento e a tudo o mais que acontece em nosso pálido ponto azul, já dizia o eterno Carl Sagan. O que a humanidade faz ou deixa de fazer não muda nada o rumo físico que a matéria cósmica toma. Muito se especula se o mundo seria diferente se não houvessem céticos no mundo ou se a religião não tivesse sido inventada. Certamente podemos afirmar que uma humanidade 100% cética ou uma 100% crédula resultaria em um registro histórico radicalmente diferente do atual, mas isso não faria de forma alguma diferença para uma supernova que se expande e engole mundos inteiros, poeira orgânica, detritos, partículas, água e mínimos traços de matéria que preenchem o que chamamos de vácuo ou para as estrelas que nascem do detrito da explosão de outras estrelas que nasceram de outras e de outras e de outras.

Achar que fazemos alguma diferença nessa equação só porque uma quantidade de pessoas com complexo de superioridade astronômica, carência solipsista irrecuperável, megalomania fantástica napoleônica e um senso de importância em escala messiânica, tem a impressão de que tudo foi feito por uma entidade mágica que, aliás, curiosamente se assemelha a ela própria em todas as suas características mundanas, boas e más, para agradá-las em toda a sua insignificância é se hipervalorizar em uma escala maior que tudo. É a prepotência gerada pela ignorância de achar que o próprio umbigo tem força gravitacional de um buraco negro que certamente faz essa gentinha achar que tem alguma importância frente ao universo.

Uma pena que não enxerguem seu verdadeiro lugar em ser aproximadamente 1/7.000.000.000 de uma espécie orgânica aparentemente solitária num raio de trilhões de anos-luz, talvez muito mais, infinitamente mais, vivendo em um amontoado de ferro e rocha submetidos à atração da massa de uma estrela de significância mínima na periferia de uma galáxia menor. Sinto-me muito bem apenas por ter a consciência disso, o que é mais que a maioria esmagadora de toda forma de vida que já existiu ou existirá conseguirá fazer. E mesmo esse feito durará um período de tempo que é uma fração infinitesimal em relação ao tempo que toda matéria existe. Mesmo que eu me esforce muito para disseminar esse conceito, nossa existência cessará muito antes de nossa espécie ter feito alguma diferença significativa nos arredores do nosso sistema planetário.

Como poderia me contentar com devoção religiosa insípida depois de experimentar isso?

2.1.11

3meia5 - 365 dias. 365 autores diferentes

2011 começa com um presente legal. Fui escalado para contribuir com uma das trezentas e sessenta e cinco postagens programadas para 2011 no blog 3meia5 (clique no banner acima para ir pra lá), uma iniciativa do Ivan Niero que chupou do The3six5 a idéia sensacional de ampliar a experiência para nós falantes do português PT-BR. Manda um email pro cara (nieroivan@gmail.com) e seja responsável por 1/365 desse projeto. Se não me engano tem pouco mais de 30 ou 40 datas livres ainda. Go! Go! Go!