18.3.09

O arcebispo e a manipulação da palavra

Na Veja dessa semana saiu uma entrevista com Dom José Cardoso Sobrinho, arcebispo de Olinda e Recife, onde ele reitera tudo que fez e deixou de fazer no caso da menina estuprada pelo padrasto que passou por um aborto que lhe tirou os gêmeos que gestava. A entrevista é longa e pode ser lida na íntegra aqui.

Apenas parei para citar duas passagens rápidas que não pude deixar de colocar aqui. Opto por não comentar, somente assinalar, pois as palavras são claras o suficiente para que seu sentido seja captado por qualquer leitor mais crítico pouquinha coisa que a média. A entrevista toda é uma aula de Teoria dos Afetos, de manipulação de discurso de malabarismos sintáticos. De fazer Philippe Bretton lamber os beiços.

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Se o senhor ficasse frente a frente com a menina, o que diria a ela?
Eu diria: o que aconteceu já passou. Daqui para a frente, procure praticar a religião com os meninos da sua idade, ir para a igreja e aprender o catecismo. Seria tão bom se as criancinhas fossem como antigamente, quando nem tinham uso da razão mas já sabiam rezar o Pai-Nosso e a Ave-Maria.

Os adversários da Igreja são rápidos em reavivar os erros do passado, como a Inquisição e as perseguições religiosas, e projetá-los no presente. A Igreja raramente rebate. Isso significa que ela se desacostumou do embate de ideias?
Não. O que acontece é que a doutrina teológica diz que qualquer problema teológico, na história da Igreja, tem de ser escutado para ver quais são as opiniões. A diversidade de opiniões é permitida na Igreja. Agora, quando se trata de dogmas, a Igreja não pode admitir que se discorde. Quem não aceita esses dogmas está fora. E não adianta um católico dizer que, porque uma lei brasileira permite tal coisa, ele pode fazer essa coisa, como é o caso do divórcio, e ficar tranquilo. Fica não.

Que esquiva...

2 comentários:

Anônimo disse...

Mas esse bispo é um homem honesto. Ele está simplesmente sendo fiel aos próprios princípios que decidiu defender.

Como disse o Cardoso:

Coragem é admitir publicamente que o problema não é o homem, o problema são os PRINCÍPIOS defendidos pela Igreja Católica: Esses sim desumanos, medievais, bárbaros, sem-sentido e indignos de qualquer um que se diga civilizado.

Anônimo disse...

Somos um país de excomungados. Sabia que em 2007, última pesquisa do tipo do IBGE, se comparado com o ano de 1984 a taxa de divórcios foi 200% maior?

TRECHO INTERESSANTE:

Por que estupradores não são também automaticamente excomungados?
(...) O estupro é um pecado gravíssimo para a Igreja, assim como o homicídio. Agora, a Igreja diz que o aborto, isto é, o ato de tirar a vida de um inocente indefeso, é muito mais grave que o estupro, que o homicídio de um adulto. Qualquer pessoa inteligente é capaz de compreender isso.

O que é impossível para ele é entender as variáveis do caso. Qualquer pessoa sensata é capaz de compreender.

Mais adiante, falando de outro caso em que uma mulher procurou o médico em busca de um aborto:

(...)o médico era católico e disse à mulher que, já que ela não podia ter dois filhos, ele ia matar o primeiro e ela ficava com o segundo, o que estava na barriga. A mulher, na hora, despertou e não aceitou mais o aborto.

Quanto profissionalismo. Aliás, vou parar por aqui ou acabo reproduzindo a entrevista toda...