22.3.08

Soberania da Intolerância [2]


Na Nigéria e na lusófona Angola, certamente isso se repete em outros países do continente africano, um fenômeno de barbarismo e ignorância tem chamado atenção desde o ano 2000. Pastores evangélicos locais estão ajudando a criar uma terrível campanha de violência contra jovens membros de sua vizinhança. Crianças e até mesmo bebês são acusados de serem praticantes de magia negra e, portanto, passíveis de serem agredidos, abandonados e assassinados enquanto os líderes religiosos enriquecem por meio do medo dos pais e do povo local. Mesmo havendo uma concorrência muito grande entre as centenas de denominações evangélicas na área, o mercado é lucrativo para aqueles que se aproveitam da ignorância bovina daqueles que crêem no seu dogma.

A motivação parece ser tão casuística quanto desmedida, pois basta que ocorra um divórcio, doença, acidente ou perda de emprego para que tais medidas logo encontrem acolhida no seio dessas igrejas como sendo obras de bruxaria, prática que faz parte não só do credo como também da própria cultura africana e que os cristãos fazem questão de erradicar, usando para isso os métodos mais sádicos e cruéis possíveis, que faria corar de vergonha virginal qualquer inquisidor espanhol mais sanguinário.

Aplicação de jindungo (uma espécie de pimenta), perfume e até petróleo nos olhos da criança, óleo de palma nos ouvidos, cortes na pele, queimaduras de fogo, ácido ou água quente, supositórios de ervas, eméticos por via oral e anal. O exorcismo não sai barato, já que a família tem que pagar ao pastor de três a quatro meses de salário para que o demônio/feitiçaria seja expulso do corpo da pobre criança. Outras são postas em regime de trabalho forçado nas lavras do pastor por períodos de cerca de seis meses. Muitas vezes a criança acaba não resistindo aos maus-tratos e acaba morrendo. As que conseguem escapar à fúria estúpida dos religiosos acaba morando na rua, agravando o quadro social de miséria e abandono que já é bem grande em todo o continente.

Leia aqui a reportagem do caso Nigeriano do jornal inglês The Observer. Na mesma página da reportagem há um vídeo que mostra detalhes do ocorrido, mas uma versão legendada pelo Cristiano *o|-<( da comunidade Ateus e Agnósticos faz o grande serviço de divulgar essas atrocidades e torná-las mais acessível aos que não falam inglês. Procurando saber mais sobre o assunto acabei achando também outra matéria, essa da agência angolana AngoNotícias, que relata casos semelhantes também ocorridos em Angola.

Embora profundamente revoltado, não vejo novidade nessas atrocidades em nome do cristianismo. Suas raizes profundas que também levam seiva conspurcada para o judaísmo e o islamismo, estão mergulhadas em pouco mais de dois milênios de guerras e sangue inocente. Seu mártir, que supostamente fora torturado antes de ser morto, dizia-se filho de uma divindade arcaica que serviu de pretesto sobrenatural para matanças tão torpes e cruéis como as que estão sendo feitas na Nigéria e em Angola. Crianças sempre pagaram com a vida por adultos fanáticos e suas alucinações bárbaras e primitivas.

17.3.08

Soberania da Intolerância

Domingo passado (16/03) saiu uma reportagem interessante no jornal carioca Extra sobre como algumas igrejas neopentecostais sediadas em favelas no Rio de Janeiro estão se aliando a traficantes em uma estranha simbiose de fé. Os traficantes membros dessas igrejas estão coagindo, ameaçando e expulsando freqüentadores de terreiros de culto afro presentes nas comunidades. Em troca, as igrejas prometem bênçãos, salvação eterna e perdão dos (muitos!) pecados cometidos pelas suas ovelhas negras.

O jornal apressou-se a deixar claro que são igrejas independentes. Evidentemente as últimas ações da IURD tentando um golpe sincronizado de censura através de ações judiciais ainda estão muito frescas na memóra do meio jornalístico. Já nessa segunda-feira (17/03) o caso deverá parar nas mãos do secretário de segurança pública do estado, José Mariano Beltrame, solicitada pelos praticantes do espiritismo ameaçados pela agressividade imposta pelos auto-denominados "Bandidos de Cristo", cujos fuzis são abençoados em cultos nessas igrejas.

Embora já tenha ido uma vez a um terreiro em dia de festa de Ogum (São Jorge, para quem não conhece), não faço parte do credo e tampouco defendo as práticas da umbanda e candomblé. Em determinadas situações elas conseguem prestar mais deserviço à ordem pública do que as igrejas, quando das vezes em que alguns de seus adeptos poluem as ruas com oferendas diversas a seus santos e entidades primitivas. Mesmo assim é reservado à eles, segundo a Lei VI do Artigo 5º. da Constituição, o direito de praticar seus rituais do mesmo modo que as igrejas cristãs-judaicas-islâmicas (só pra ficar nos exemplos maiores), afinal, apesar da bagunça, isso aqui ainda é uma democracia laica, não é?

A questão vai além de seus desdobramentos sociais. Ser religioso monoteísta em uma sociedade moderna imersa em um mundo globalizado é equilibrar-se em um delicado muro que separa crenças e dogmas em uma circense e hipócrita demonstração de tolerância. Pelo menos para ser politicamente correto, a maioria tenta ver condescentemente o outro como uma espécie de ignorante que não conhece a verdade e está involuntariamente do lado errado da cerca. Quando não há vontade de respeitar a diferença, enxerga-se um adversário de fé, um inimigo que acredita e cultua aquilo que os respectivos dogmas chamam de diabo, espíritos malignos, encostos, "coisa do mundo" etc.

Já seria um problema bastante complicado se apenas fossem palavras soltas em livros de fés primitivas e sem importância. Mas suas lideranças reforçam o sentimento de diferenciação de seu rebanho, como é o caso do atual pontífice da ICAR, Joseph Ratzinger, que insiste em deixar bastante claro seu narcisismo dogmático ao recentemente publicar bulas que afirmas a ICAR como sendo "verdadeira e única depositária da fé cristã".

No fundo, no fundo, nem é tão novidade assim. Quantas matanças, desterros e injustiças contra praticantes de outros credos que não a da religião dominante já não foram levadas à cabo em nome de deus ao longo da história? A história apenas se retepete, agora bem mais perto de nós.

15.3.08

Malleus Maleficarum

Em virtude de estar nos preparativos para iniciar meu projeto de mestrado, cujo assunto se dá em torno do filme Clube da Luta (David Fincher - 1999) e sua relação com as mulheres, tenho entrado em contato com alguns materiais que falam da opressão feminina ao longo da história. Embora não pretenda incluir a religião no escopo da minha futura tese, o tema é bastante comum dentro de praticamente todas as crenças e talvez valha citação à respeito, pelo menos aqui.

Trata-se de um dos textos anti-femininos que mais me repulsa, o Malleus Maleficarum (do latim Martelo das Feiticeiras). A obra foi baseada em uma bula emitida pelo então papa Inocêncio VIII e escrita por dois inquisidores ultra-radicais alemães (que certamente não gostavam de mulher) e publicada em 1486 (algumas fontes falam em 1487) e usado durante 250 anos, inclusive pelos protestantes. Os autores desse manual de caça Às bruxas, Heinrich Kramer e Jakob Sprenger, além de repetir e ampliar preconceitos e falácias sexistas de Santo [sic] Agostinho com pérolas do tipo

"Mulheres não deveriam ser educadas ou ensinadas de nenhum modo. Deveriam, na verdade, ser segregadas já que são causa de horrendas e involuntárias ereções em santos homens" (!)

Escoltando essas tragicômicas teorias, o livro trazia intruções detalhadas sobre métodos de tortura para se obterem confissões, tão desumanas, tão cruéis, tão sádicas que nem vale menção ou referência aqui. Procurem por si mesmos se interessar. Minha intenção aqui é de relatar coisas do calibre de

"Quando uma mulher pensa sozinha, ela pensa maldades"

"Se uma mulher se atreve a curar sem ter estudado, ela é uma bruxa e deve morrer"

"A mulher é uma mentirosa por natureza (...) ela é uma inimiga insidiosa e secreta"

"Elas são mais fracas de espírito e corpo (...) as mulheres são, intelectualmente, como crianças (...) as mulheres têm memória mais fraca e é um vício natural nelas não serem disciplinadas mas obedecerem a seus próprios impulsos sem noção do que é apropriado"

"E convém observar que houve uma falha na formação da primeira mulher, por ter sido ela criada a partir de uma costela recurva, ou seja, uma costela do peito, cuja curvatura é, por assim dizer, contrária à retidão do homem. E como, em virtude dessa falha, a mulher é animal imperfeito, sempre decepciona e mente"

"Ninguém causa maior dano à fé católica do que as parteiras"

Aqui cabe um comentário. As parteiras, seja por erudição ou empiricismo, conheciam métodos de parto que minimizavam as dores das futuras mães, comum entre celtas e outros povos considerados pagãos. Esse procedimento contrariava o que está escrito em Gênesis 3:16, quando supostamente o bondoso deus amaldiçoa o gênero condenando-o a dar à luz com dores típicas do parto (Certamente achavam que se não doesse, o diabo estaria agindo...).

Será que a ICAR vai acrescentar um décimo quarto mandamento contra a anestesia perineal?

11.3.08

George Carlin

Tenho estado um pouco travado para postar alguma coisa mais recente aqui no blog. Revirando meus vídeos favoritos do YouTube lembrei dessa pérola do humor ácido que é a esquete sobre religião do comediente americano George Carlin. Não é material novo mas, além de engraçadíssimo e espirituoso, certas verdades valem a pena serem revistas!


"Bullshit!"