#1 - DEFINIÇÃO
ATEU adj. e s.m. (Do grego atheus, sem Deus.) Que ou o que nega a existência de qualquer divindade; ímpio. (LAROUSSE, pág.499)
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Fica claro para qualquer um que interprete razoavelmente textos de ensino médio que ateu é, portanto, um adjetivo e substantivo masculinos formado pelo prefixo grego a, significando "ausência" e o radical teu, derivado do grego theós, significando "deus"; sinônimo também de impiedoso, desumano e cruel!
Não costumo ler dicionários ou enciclopédias nas horas vagas, mas faço uso deles com freqüência e não me lembro de nenhum verbete em nenhuma publicação do tipo fazer um juízo de valor acerca de seu significado. Mas não vou me ater a isso agora. Haverá espaço nas próximas partes dessa série de postagens (ORIGENS, EVOLUÇÃO e MORAL) quando vou discorrer o quanto essa afirmação é preconceituosa e incorreta. Por hora vou me concentrar na definição básica do termo e algumas implicações anedóticas práticas.
Sim, ateu é aquele que não acredita em instâncias sobrenaturais superiores. Agora, por que não acreditamos nisso? Bem, isso sim é bastante complexo de responder. Para falar a verdade, há tantos tipos de ateus quanto há ateus, pois nenhum de nós segue alguma doutrina específica ou filosofia de vida comum. Geralmente a ruptura com a religião ocorre em momentos diversos e sob condições diversas, tornando impossível uma categorização.
Quanto ao tema a maioria tende a ser cética, requerindo provas para que se possa afirmar que um deus exista. Chame isso de coerência contra a credulidade, algo que nos acostumamos a ter sempre à mão e que nos protege no dia-a-dia mas que por motivos de tradição e autoridade autoimposta pelos credos e crenças, não é aplicada aos mesmos. Tentam assim tornar-se imunes à críticas. Mas após milênios de história humana e centenas de civizações ao longo da linha temporal nada que tenha sobrevivido ao crivo impiedoso da ciência sobrou, de modo que a questão ainda é a mesma: ainda é muito mais fácil e reconfortante ficar à sombra de um mito do que cavar sob o sol em busca da verdade.
Há aqueles que por não terem suficiente desenvolvimento intelectual não podem posicionar-se quanto ao conceito de divindades. Soou arrogante? Talvez, pelo menos até você admitir que ninguém nasceu acreditando em alguma coisa, certo? Crianças não têm maturidade para decidir-se sobre tais assuntos, mas são adestráveis o suficiente para aprender sem questionar qualquer tipo de conteúdo. De fato são atéias até que ensinadas a observar certas tradições de sua comunidade, normalmente o dogma de seus pais. Culturas isoladas que não desenvolveram a abstração ao nível da adoração metafísica também são exemplo de que é possível viver todo um ciclo vital sem crer em deus. Há uma historinha interessante da escritora norte-americana Annie Dillard que ilustra bem essa situação
Esquimó:
"Se eu não soubesse nada sobre Deus e pecado, eu iria para o inferno?
Missionário:
"Não, não se você não soubesse"
Esquimó:
"Então por que você me disse?"
Há até aqueles "ímpios" que rejeitam a idéia de todos os outros deuses já criados pelo homem... menos o próprio! Pense comigo: se você é um cristão (com ou sem Papa) acredita na existência de Jesus Cristo de Nazaré, messias de Jeová e mártir dos judeus, o deus vivo dos antigos hebreus e essênios(?). Automaticamente acha que todas as outras manifestações religiosas no mundo não passam de um monte de mentiras, correto? Se esse é seu caso então há muitíssimas diferenças dogmáticas entre você e os seguidores de Tezcatilpoca, Allah, Odin, Zeus, Júpiter, Amon-Rá, Dagda, Marte, Cronos, Vesta, Aa, En-Mersi, Assur, Atena, Mami, Nin-azu, Qarradu e etcéteras mas há uma grande semelhança: de um vasto universo de divindades criadas pelo homem à sua imagem e semelhança cujo número certamente anda na casa das milhares, você acredita em pelo menos um. Como de minha parte não vejo motivo para acreditar em nenhum, estatisticamente falando a diferença tende a zero.
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