8.4.08

#1 - DEFINIÇÃO

ATEU adj. e s.m. (Do grego atheus, sem Deus.) Que ou o que nega a existência de qualquer divindade; ímpio. (LAROUSSE, pág.499)

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Fica claro para qualquer um que interprete razoavelmente textos de ensino médio que ateu é, portanto, um adjetivo e substantivo masculinos formado pelo prefixo grego a, significando "ausência" e o radical teu, derivado do grego theós, significando "deus"; sinônimo também de impiedoso, desumano e cruel!

Não costumo ler dicionários ou enciclopédias nas horas vagas, mas faço uso deles com freqüência e não me lembro de nenhum verbete em nenhuma publicação do tipo fazer um juízo de valor acerca de seu significado. Mas não vou me ater a isso agora. Haverá espaço nas próximas partes dessa série de postagens (ORIGENS, EVOLUÇÃO e MORAL) quando vou discorrer o quanto essa afirmação é preconceituosa e incorreta. Por hora vou me concentrar na definição básica do termo e algumas implicações anedóticas práticas.

Sim, ateu é aquele que não acredita em instâncias sobrenaturais superiores. Agora, por que não acreditamos nisso? Bem, isso sim é bastante complexo de responder. Para falar a verdade, há tantos tipos de ateus quanto há ateus, pois nenhum de nós segue alguma doutrina específica ou filosofia de vida comum. Geralmente a ruptura com a religião ocorre em momentos diversos e sob condições diversas, tornando impossível uma categorização.

Quanto ao tema a maioria tende a ser cética, requerindo provas para que se possa afirmar que um deus exista. Chame isso de coerência contra a credulidade, algo que nos acostumamos a ter sempre à mão e que nos protege no dia-a-dia mas que por motivos de tradição e autoridade autoimposta pelos credos e crenças, não é aplicada aos mesmos. Tentam assim tornar-se imunes à críticas. Mas após milênios de história humana e centenas de civizações ao longo da linha temporal nada que tenha sobrevivido ao crivo impiedoso da ciência sobrou, de modo que a questão ainda é a mesma: ainda é muito mais fácil e reconfortante ficar à sombra de um mito do que cavar sob o sol em busca da verdade.

Há aqueles que por não terem suficiente desenvolvimento intelectual não podem posicionar-se quanto ao conceito de divindades. Soou arrogante? Talvez, pelo menos até você admitir que ninguém nasceu acreditando em alguma coisa, certo? Crianças não têm maturidade para decidir-se sobre tais assuntos, mas são adestráveis o suficiente para aprender sem questionar qualquer tipo de conteúdo. De fato são atéias até que ensinadas a observar certas tradições de sua comunidade, normalmente o dogma de seus pais. Culturas isoladas que não desenvolveram a abstração ao nível da adoração metafísica também são exemplo de que é possível viver todo um ciclo vital sem crer em deus. Há uma historinha interessante da escritora norte-americana Annie Dillard que ilustra bem essa situação

Esquimó:
"Se eu não soubesse nada sobre Deus e pecado, eu iria para o inferno?

Missionário:
"Não, não se você não soubesse"

Esquimó:
"Então por que você me disse?"


Há até aqueles "ímpios" que rejeitam a idéia de todos os outros deuses já criados pelo homem... menos o próprio! Pense comigo: se você é um cristão (com ou sem Papa) acredita na existência de Jesus Cristo de Nazaré, messias de Jeová e mártir dos judeus, o deus vivo dos antigos hebreus e essênios(?). Automaticamente acha que todas as outras manifestações religiosas no mundo não passam de um monte de mentiras, correto? Se esse é seu caso então há muitíssimas diferenças dogmáticas entre você e os seguidores de Tezcatilpoca, Allah, Odin, Zeus, Júpiter, Amon-Rá, Dagda, Marte, Cronos, Vesta, Aa, En-Mersi, Assur, Atena, Mami, Nin-azu, Qarradu e etcéteras mas há uma grande semelhança: de um vasto universo de divindades criadas pelo homem à sua imagem e semelhança cujo número certamente anda na casa das milhares, você acredita em pelo menos um. Como de minha parte não vejo motivo para acreditar em nenhum, estatisticamente falando a diferença tende a zero.

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4.4.08

Por que me tornei ateu?

Quando comecei a escrever o Caneca Orbital a proposta inicial era ser apenas um blog despretencioso sobre ateísmo. Queria citar bons autores da área sempre que possível, noticiar discussões que foram surgindo na comunidade Ateus & Agnósticos e exemplificar situações que deixam clara como a religião organizada é uma forma nada sutil de dominação ideológica e até com bastante freqüência, política.

Vez ou outra compartilho algumas nuances pessoais que, ao meu ver, não desvirtuam muito o tema da comunidade. Nessas pílulas particulares não cheguei a tecer muito profundamente o modo como cheguei às minha conclusões. Se o fiz, foi de forma sutil e, de qualquer forma, espalhado por trinta e poucas postagens. Como um bate-papo informal, onde a conversa vai vagando por assuntos vários, passando longe às vezes da seriedade que o assunto exige.

Ligado à essa vontade de me abrir, o aumento quantitativo de visitantes ao longo do tempo me fez pensar qualitativamente em quem anda lendo meu conteúdo. Entre esses novos (ainda poucos) visitantes há amigos próximos, amigos de profissão, amigos de monitor e amigos de sala, meus alunos. Sobretudo esses últimos despertam uma importância e responsabilidade maiores, já que sou de certa forma um formador de opinião deles. E para tanto sinto necessidade de responder sob o meu ponto de vista cada umas das quatro perguntas básicas abaixo, uma por postagem, ao longo das próximas semanas:

DEFINIÇÃO
O que é ser um ateu?

ORIGENS
O que envolve o não acreditar no sobrenatural e encarar a realidade buscando apenas na matéria fatos para explicá-la?

EVOLUÇÃO
Desde que me descobri ateu, o que mudou na minha conduta, postura, ética e modo como me relaciono com as pessoas?

MORAL
Como posso esperar que respeitem alguém que pensa de forma radicalmente diferente da grande maioria, se a única referência da minha maneira particular de ver a vida é uma palavrinha escrita no meu perfil do orkut e que raríssimos sabem realmente o significado?