30.1.08

Meu Nome não é Johnny

Assisti semana passada o filme Meu Nome não é Johnny, do diretor Mauro Lima (Brasil, 2007), e dentre os vários atributos da história, uma citação me chamou atenção logo em uma das tomadas iniciais do filme, a que mostra o cartão de natal que João Estrella, protagonista do longa interpretado por Selton Mello, recebe da juíza que julgou seu caso. A frase da escritora belga Marguerite Yourcenar

"O verdadeiro lugar de nascimento é aquele em que lançamos pela primeira vez um olhar inteligente sobre nós mesmos"

me fez pensar sobre as várias vezes que lancei olhadelas fortuitas sobre minha condição não-religiosa. Aliás, como é recorrente entre os críticos do ateísmo, que parecem enxergar na maioria de nós uma soberba e uma indisfarçável sensação de superioridade e inteligência, achei melhor abrir essa ressalva aqui antes de prosseguir. Quando me refiro a um olhar inteligente, refiro-me principalmente a um olhar crítico e lúcido, com discernimento, nesse caso, sobre a real natureza da religião sobre a vida, desprovido de explicações metafísicas para nossa origem ou propósito no mundo.

Meu verdadeiro lugar de nascimento, segundo o pensamento de mademoiselle Yourcenar, foi a varanda da minha casa, quando tinha 15 anos. Lembro-me de quando comecei a estranhar as coisas que me eram ensinadas, especificamente quando minha mãe me proibia de jogar RPG por ser "jogo do demônio" ou algo assim, pelo simples fato de que é assunto recorrente em aventuras de fantasia a menção a demônios, dragões, elfos, vampiros, feiticeiros e demais seres do imaginário rpgístico. Um dia sugeri fazer um RPG com temática bíblica, já que parecia que o que era "demoníaco" para os cristãos era o tema, e não o jogo. Cheguei a esboçar regras para ser um hebreu do velho testamento ou mesmo um soldado romano nas histórias contemporâneas à lenda de Jesus. Qual não foi minha surpresa quando ela proibiu de ligar assuntos da bíblia ao RPG! Não havia motivo, já que o assunto proibido havia sido extirpado, não é? Foi quando comecei a questionar o porque de tais arbitrariedades, quando pela primeira vez lancei um olhar inteligente sobre minha vida.

Do rarefeito universo de meus leitores, imagino que poucos sabem que já fui evangélico, criado desde o nascimento na Igreja Congregacional Campograndense, uma denominação cristã que guarda várias semelhanças dogmáticas com os batistas. Minha bíblia que uso para consultas esporádicas ainda é a mesma que ganhei quando recém-nascido (antes que vejam nisso um apego sentimentalóide sobre o livro, apresso-me a dizer que apenas não gosto de jogá-los fora). A frase de Marguerite, embora inspiradora, não é de todo verdade, não para aqueles que levam o ceticismo a um patamar mais íntimo do que simplesmente ausência de credulidade passiva.

Na verdade nós nascemos e várias vezes durante a vida, pois aqueles comprometidos com a verdade sabem que no fundo ela varia conforme as provas e evidências são descobertas. Nasci de novo quando percebi que a religião não é responsável pela manutenção da moral do mundo. Nasci de novo quando vi que a religião não passa de uma muleta que vicia o caminhar ao invés de ajudar a curar um aleijão. Nasci de novo quando constatei que a hipocrisia do pensamento cristão é plenamente nociva para a sociedade, doutrinando crianças em tenra idade, incapazes de se defender ou esboçar criticidade. Esses pequenos e propensos natimortos intelectuais, acatam como verdades imutáveis toneladas de lorotas de uma crença rudimentar e tosca, escritas em um livro cujos alicerces são a xenofobia, a subvalorização da mulher, a escravidão e o derramamento de sangue inocente pela espada daqueles que hoje se dizem seguidores de um deus de amor.

20.1.08

Bolachas de Chopp

Tenho uma coleção de bolachas de chopp. Na verdade, não chega a ser uma coleção de verdade, já que não estou catalogando nada ou sequer acondicionando cuidadosamente os disquinhos de forma a preservá-los da ação do tempo. Também não estou comprando edições limitadas de cervejarias famosas nem ao menos guardando relíquias como a bolacha da Brahma que o Noel Rosa tomou sua última cerveja no Feitiço da Vila em 1935 et coetera. Na verdade prego elas em um quadro de cortiça na minha parede e tem ficado bem legal, o que deve soar herético para um verdadeiro colecionador mas, como já disse, sou um embuste.

Então, meninos e meninas, quando estiverem em um bar e cair uma bolachinha na mesa, lembrem-se de mim. Se possível, escrevam alguma coisa nela e envie por carta comum mesmo, assim vou ter uma lembrança sua em um canto da casa que eu gosto muito, mais ou menos como um depoimento de orkut, só que com mais estilo! Prometo que retribuo o favor. Desde já, obrigado!

8.1.08

Que decepção, Chuck!

Após ter sido transformado em lenda por facts na internet criados por internautas saudosistas e adoradores de porradarias B da telona, o risível ator de filmes de ação Chuck Norris coleciona furadas religiosas a dar com pau. Sua terceira bola fora foi fazer parte do comício do candidato republicano à presidência dos Estados Unidos Mike Huckabee em Iowa. Huckabee, para quem não sabe, é pastor batista e ex-governador do Arkansas, um cristão conservador de 52 anos que disse, durante um debate em maio de 2007, não acreditar na teoria da evolução.


No blog Godless Liberator pode-se acompanhar as duas primeiras gafes do barbudo bom de briga: quando defende a Bíblia na TV e ganha (ao meu ver em pleito apertadíssimo...) o Bad Faith Awards como o maior inimigo da razão do ano, após escrever em sua coluna semanal no site cristão conservador WorldNetDaily que se fosse eleito presidente dos EUA mandaria "tatuar uma bandeira americana com as palavras 'In God we trust' na testa de cada ateu".

Tsc! E eu gostava(!) de Walker Texas Ranger quando era pequeno...