Propaganda ateísta nas ruas de Londres
Alguns ônibus de Londres (infelizmente não incluem os charmosos ônibus vermelhos de dois andares) poderão circular a partir de janeiro de 2009 com adesivos nas laterais com slogans de cunho cético, a fim de incentivar as pessoas a pensar um pouco sobre a própria condição humana e religiosa.
A campanha é da BHA — British Humanist Association (Associação Humanista Britânica) e conta com o apoio de Richad Dawkins, um dos maiores nomes entre ateus mundiais e autor de Deus, um Delírio. Todo o budget utilizado para a veiculação foi levantado através de doações e o volume pretendido é de dois grupos de 30 ônibus por duas bi-semanas. Como o orçamento suplantou as espectativas, especula-se o uso de mídia interna nos mesmos ônibus. Até o momento não consegui apurar qual agência publicitária intermediou as negociações de mídia ou se teve alguma participação no desenvolvimento da arte da campanha, mas ficarei atento ao assunto e posto aqui o que descobrir. Ao que tudo indica há uma centralização bem recente (as atividades começaram há uma semana!) na Inglaterra chamada Atheist Campaign que luta para levar à grande mídia suas idéias. Que essa seja a primeira de muitas inserções!
There's probably no God. Now stop worrying and enjoy your life (Provavelmente não existe um deus. Pare de se preocupar e aproveite a vida — tradução livre), é o slogan da campanha seguido da assinatura com a logo da BHA. "Nós vemos tantos pôsteres divulgando a salvação através de Jesus ou nos ameaçando com condenação eterna, que eu tenho certeza que essa campanha será vista como um sopro de ar fresco", disse Hanne Stinson, presidente da BHA. "[Nosso objetivo é] promover o ateísmo na Grã-Bretanha, encorajar mais ateístas a assumirem publicamente a sua posição e elevar o astral das pessoas a caminho do trabalho".
Acho a iniciativa legal e apoio o "atrevimento" de divulgar nosso modo de pensar, mas acredito que esse ato será seguido de espasmos concussivos de intransigência cristã. Poderia apostar o que quisesse que tão logo a capanha esteja na praça, logo será alvo de pixações e depredação do material veiculado, o que será ao mesmo tempo uma pena e um sintoma do preconceito religioso que habita naqueles que se dizem amar ao próximo. É bem verdade que talvez eu morda a língua por se tratar dos ingleses, mas ainda me pergunto o que aconteceria se o mesmo se desse no Brasil ou na proto-teocrática América?
A notícia na íntegra pode ser lida no portal G1. E dou crédito ao Francisco da Ateus & Agnósticos por tê-la postado hoje.
14 comentários:
Achei interessante que a frase começa com a palavra provavelmente.
Se é uma propaganda ateísta, pq foi usado um termo que passa um sentimento de incerteza?
Os motivos, na minha opinião, são:
- evitar afirmações dogmáticas. O que se pretende é tranquilizar as pessoas e não doutriná-las.
- ninguém pode afirmar que deuses não existem, mas podemos dizer com certeza que não há provas da existência deles.
Espero ter esclarecido ;)
Renato, é uma questão de honestidade intelectual. Em geral trabalhamos com a hipótese que deus não existe pois não foi mostrada nenhuma prova substancial de que estamos errados. Se aparecerem, ótimo. Mas em milênios de história humana isso nunca foi obtido.
Para mais informações dê uma olhada no vídeo da postagem abaixo, Voltando às Origens, e o link para a parte 2 da minha série Porque sou Ateu.
Obrigado pela visita!
Umm... Então(sem ironia), eu, sendo teísta, também posso usar de honestidade intelectual. Veja, eu trabalho com a hipótese que Deus existe, pq ninguém conseguiu provar o contrário. Se um dia conseguirem, legal, eu me torno um de vcs.
E, por analogia, eu poderia arriscar uma frase de campanha teísta:
Provavelmente Deus existe. É hora de se preocupar e aproveitar a vida da "maneira certa".
É... acho que não nasci p/ a publicidade. rss
Pontos de vista.
Bem que poderia ter organizações atéias desse tipo aqui no Brasil. Ou sou eu que sou mal informada?
(Ah, sim! Adoraria uma camiseta com essa frase!)
Sobre a dúvida do Renato, penso que a intenção é tranquilizar as pessoas e ao mesmo tempo fazê-las pensar.
Acreditar ou não em deuses é uma escolha. Interferir nessa escolha vai de encontro à liberdade tão cara aos ateístas...
Mas acontece, Renato, que provar a inexistência de algo, além de ser um trabalho impossível por variáveis infinitas, não é exatamente honestidade intelectual quando proposto.
Existe uma coisa em argumentação lógica que se chama Ônus da Prova, que cabe sempre a quem afirma algo. Ou seja: se eu o acuso de assassinato cabe a mim encontrar provas que o incrimine, e não o contrário: fazer você correr atrás de provas que o livrem a cara.
Pense nessa situação e compare com o que você me propôs ainda agora e veja se não soa autárquico, mandatório, arbitrário. Algo como "posso afirmar o que quiser, ele que corra atrás das provas para me refutar". Se teístas dizem que deus existe, cabe a estes provar a existência divina, se quiserem. Mas não estranhe se cada vez mais e mais pessoas olharem para essa hipótese com estranheza. Muitas cansam de apenas acreditar e passam a querer saber.
Provavelmente Deus existe. É hora de se preocupar e aproveitar a vida da "maneira certa".
Renato,
qual deus? Acreditar no deus errado te condenaria ao inferno do outro deus.
Melhor não arriscar uma frase do tipo.
Amadeus, se para você, Deus não existe, que diferença faz se nós queimaremos no inferno, de um outro deus?
Renato Kistner
Se existir outro deus pode fazer toda a diferença, sim.
E se esse outro deus condenar ao inferno justamente aqueles que escolhem para si uma crença infundada, injustificada.
E se orações, de quaisquer tipo, deixam o verdadeiro deus enfurecido, o que o faz condenar tais pessoas ao inferno?
As possibilidades são infinitas, e escolher um deus qualquer como verdadeiro é um tiro no escuro.
É verdade Edmilson. Por isso que, em relação a Deus, vivo pela fé.
Anônimo, se você com isso quis dizer que acredita em deus, e isso seria um "justificativa", então acho que você não entendeu. As possibilidades são infinitas.
Deus, se existir, pode ter ojeriza a fé, a tal ponto de condenar ao sofrimento eterno qualquer um que utilizar tal palavra referindo-se a crença nele. Nesse caso, você pode ser condenado. Talvez já tenha sido.
Claro que isso é estúpido, já que tudo isso não tem um pingo de embasamento, além de ser muito mais provável que deus não exista, dada a sua persistente ausência ou, se existir, simplesmente não se importe conosco (pelo mesmo motivo anterior), o que, convenhamos, explica os péssimos "resultados" da "criação".
Mas isso soa bem familiar, afinal todas as religiões também são estúpidas, exceto, é claro, a de quem estiver falando (seja quem for). Como de costume.
Anônimo e Renato, acho que o que o Edmilson quer dizer é que a fé é uma coisa pessoal, íntima, com características muito particulares mesmo entre membros de mesma religião, doutrina, denominação e templo.
Portanto o que não deve haver é uma posição de "minha verdade é única", pois a mesma cria atritos entre teístias e ateus, já que é um exercício de soberba dogmática (por mais que isso seja praticamente pleonasmo em se tratando de crenças...). A verdade é condicionada por evidências que a suportem e podem muito bem ser transitórias, à medida que nossa compreensão da natureza das coisas evolui.
O que mais cria dissabores entre os ateus, e nesse caso sou um deles, é essa crença pessoal ser empurrada dentro de uma sociedade para benefício de poucos em detrimento do livre arbítrio de muitos. Ser usada como matéria prima de dominação político-social, doutrinação infantil e outras mazelas que vocês não notam (ou não querem notar) tão absortos em sua fé que estão.
Procurem entender que realmente tanto faz se você crê em Allah, Javé, Kardecismo, Odin, Exu, Pomba-Gira, Amon-Ra, Jesus etc. É realmente a mesma coisa, pelo menos para nós. O que realmente revolta e incomoda é todo o sofrimento, guerras, mortes e perseguições que TODOS os grupos dogmáticos já fizeram à humanidade ao longo do tempo tomando como base apenas a diferença entre um fé e outra.
Provavelmente Deus existe. É hora de se preocupar e aproveitar a vida da "maneira certa".
Talvez você não tenha mesmo tino para publicidade, Renato. (risos) Se Deus existe, por qual razão devo me preocupar com o desconhecido se ele estará aqui para me precaver?
Adorei a proposta da campanha publicitária e sua natureza. Acredito mesmo que ela objetiva muito mais as indagações que conduzir ao que julgamos ser verdadeiro. Acho que a frase não poderia ser taxativa. Por isso o "provavelmente". Detestamos quandos os crentes (que crêem) nos empurram suas verdades e acho que todos temos direito à réplica e respeito pelo que escolhemos para nós.
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