5.5.07

Caneca Orbital?

O estranho nome desse blog é devido a uma metáfora bem-humorada de Bertrand Russell. Este pensador, matemático e filósofo inglês costumava dizer que não há nenhuma evidência concreta da existência de deuses, e que afirmar o contrário era o mesmo que dizer que há um bule de chá em órbita do Sol, entre a Terra e Marte, mas ninguém pode detectá-la. Tanto divindades quanto a tal peça de porcelana voadora são hipóteses impossíveis de serem provadas, dada as condições fantásticas inerentes a ambas. Como o dragão na garagem de Sagan, só que com apenas uma asa. Nas palavras do próprio Russel

Muitos indivíduos ortodoxos dão a entender que é papel dos céticos refutar os dogmas apresentados – em vez de os dogmáticos terem de prová-los. Essa idéia, obviamente, é um erro. De minha parte, poderia sugerir que entre a Terra e Marte há um pote de chá chinês girando em torno do Sol em uma órbita elíptica, e ninguém seria capaz de refutar minha asserção, tendo em vista que teria o cuidado de acrescentar que o pote de chá é pequeno demais para ser observado mesmo pelos nossos telescópios mais poderosos. Mas se afirmasse que, devido à minha asserção não poder ser refutada, seria uma presunção intolerável da razão humana duvidar dela, com razão pensariam que estou falando uma tolice. Entretanto, se a existência de tal pote de chá fosse afirmada em livros antigos, ensinada como a verdade sagrada todo domingo e instilada nas mentes das crianças na escola, a hesitação de crer em sua existência seria sinal de excentricidade.

Além de algumas perfumarias mais pessoais, os (poucos) leitores vão encontrar aqui reflexões e ensaios curtos sobre religião, esse conceito criado na aurora da nossa existência pouco mais que simiesca nessa terra, buscando desesperadamente uma explicação corfortadora para um sem-número de fenômenos que ocorriam à nossa volta, que sempre viveu da ignorância e do medo, aquele que Petrônio já conhecia como nossa pedra fundamental. Esse conceito sobreviveu ao tempo na mente medrosa que esses mesmos deuses inventados pudessem nos castigar por não acreditarmos nas suas palavras inventadas por nós mesmos.

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