20.11.10

Pecunia non olet

As palavras com o tempo vão sendo dilapidadas pelo uso delas fora do contexto inicial. Há uma diferença entre PRECONCEITO e DISCRIMINAÇÃO, embora as duas sejam colocadas indiscriminadamente no discurso diário.

Preconceito é ter idéias errôneas, equivocadas ou falaciosas sobre alguma coisa. Geralmente é fruto ou de ignorância acerca do assunto ou da cultura onde foi criado e recai em alguma espécie de generalização. Preconceito é achar que todo negro é ladrão, todo gordo é assim porque é sem-vergonha e come demais, que todo gay é promíscuo, que todo ateu é amoral ou que todo religioso é um crédulo.

Discriminação pertence a uma camada posterior à do preconceito, que corporifica o sentimento. Discriminar é estigmatizar, diferenciar tratamento, empregar atitudes parciais e opositoras para com o objeto de seu estranhamento, tolhindo-lhe o acesso ao que quer que seja e fazendo oposição aos seus direitos. Agredir gays [1][2] como uma tentativa de evidenciar a própria masculinidade, é ofender nordestinos [2] em função da escolha política, é dar um salário inferior à mulheres que desempenham o mesmo cargo que homens, é desconfiar de empregados de origem humilde quando alguma coisa de valor some na casa.

Por outro lado, uma pessoa tem tanto direito de achar que uma mulher é inferior ao homem assim como achar que existe um papai-do-céu ciumento e possessivo que zela e ameaça com punição se não for amado intensamente. Ou achar que negros são menos inteligentes que brancos, que é o povo escolhido por esse mesmo papai-do-céu e por isso todos os outros povos gentios devem lhes servir. Isso é fantasia, tão inócua quanto um sonho ruim. O problema é levar o preconceito à cabo, acrescentando-o à agenda política, fazendo dele plataforma e levando junto todo o complexo de preconceitos que orbitam o campo gravitacional de uma ideologia tradicionalistae perversa desse calibre.

O reitor da presbiteriana Mackenzie não gosta de gays por causa de sua criação religiosa mas não comete discriminação, pois tenho certeza que aceita de muito bom grado as caras mensalidades que seus alunos "coloridos" pagam. Dinheiro pode não ter cheiro mas hipocrisia fede.

5 comentários:

Nathália C. Mello Vargas disse...

o mackenzie não tem fins lucrativos então acho que a associação nesse caso foi inválida

Rodrigo Souza disse...

Nathália,

O reitor da presbiteriana Mackenzie não gosta de gays por causa de sua criação religiosa mas não comete discriminação, pois tenho certeza que aceita de muito bom grado as caras mensalidades que seus alunos "coloridos" pagam. Dinheiro pode não ter cheiro mas hipocrisia fede.

Note que não faço alusão ao destino que é dado ao dinheiro cobrado em suas mensalidades, mas sim de que é cobrado erário em troca do ensino ministrado.

Blogotti disse...

Alunos "coloridos" seria também um preconceito? :)

Rodrigo Souza disse...

Não, creio que não. A expressão "coloridos" se popularizou no último BBB e acho que a Globo não recebeu represálias em função de ter agrupado os participantes em tribos-estanque. Pelo menos para os gays, foi uma forma de conquista de identidade para o movimento LGBT na grande mídia sem ter que depender da dramatização caricata das novelas ou da exploração noticiária padrão.

Augusto disse...

Gostei da frase, Dinheiro pode não ter cheiro mas hipocrisia fede.