13.4.10

Tem horas que o silêncio cínico é a melhor defesa

Se soubesse disso, talvez o Vaticano não estivesse em um perrengue tão grande...

A pedofilia é uma parafilia, um desvio comportamental que não é aceita em nossa sociedade ocidental, o mesmo não pode ser dito em outras culturas orientais que incentivam o casamento desde muito tenra idade. Não vou me aprofundar aqui sobre variantes do tema como excitação por figuras infantis, lolitas, violência sexual etc. Vou me ater somente ao fato da afeição eroto-sexual de um adulto por uma criança.

A homossexualidade é uma característica humana também muito comum em diversos grupos animais que de alguma forma, faz parte tanto de de nossa herança genética quanto de nossa bagagem cultural, sendo que, pelo menos do meu ponto de vista, a primeira tem precedência sobre a segunda. É muito mais comum que a massa supõe e nem de longe portadora de perversões que a maioria acredita e abomina, segundo estudos do Núcleo de Opinião Pública (NOP), realizada pela Fundação Perseu Abramo em parceria com a alemã Rosa Luxemburg Stiftung.

Vamos da parte que a ICAR está atolada em uma onda de denúncias de pedofilia, onde um relato encoraja outro a sair do armário da opressão, da vergonha, da humilhação e juntos fazem uma tempestade que tem deixado Bento XVI em saias justas e curtinhas. Parte do dano à imagem da igreja católica tem partido da explosão de munição em seus próprios paióis, como a última coletiva do Secretário de Estado do Vaticano em visita ao Chile, cardeal Tarcisio Bertone, onde afirmou que é o homossexualismo e não o celibato o maior vilão dos crescentes casos de escândalos de pedofilia que tem assolado a Europa e os EUA.

A ocupação de pároco é selecionada por gênero, uma vez que só homens são ordenados como padre. E mesmo com a brecha dentro do Redemptionis Sacramentum (Cap.II, §47) do Vaticano permitindo meninas e mulheres na função de coroinha, elas são uma diminuta fatia na função de assistência. A bem da verdade, elas sempre foram abolidas com máxima repulsa e terminantemente dos serviços, como as palavras do predecessor titular do então Ratzinger, Papa Bento XIV:

"Pope Gelasius in his ninth letter (chap. 26) to the bishops of Lucania condemned the evil practice which had been introduced of women serving the priest at the celebration of Mass. Since this abuse had spread to the Greeks, Innocent IV strictly forbade it in his letter to the bishop of Tusculum: "Women should not dare to serve at the altar; they should be altogether refused this ministry." We too have forbidden this practice in the same words in Our oft-repeated constitution Etsi Pastoralis, sect. 6, no. 21."

É, então, muito recentemente que meninas passaram a ser toleradas dentro das fileiras católicas, mesmo assim apenas como assistentes. Portanto, justificar a pedofilia com base no comportamento homossexual é leviano, uma vez que a própria estrutura hierárquica católica sempre beneficiou homens e meninos dividindo a escura sacristia lá atrás. Portanto, é um erro (para não falarmos em mau-caratismo) a conclusão de que só gays são pedófilos. É como concluir que todos os homens são potencialmente estupradores apenas por terem um pênis balançando entre as pernas.

Mas já que falamos em práticas paroquiais, não custa lembrar que, assim como coloquei em uma postagem anterior, dados de um estudo chamado John Jay Study, encabeçado pelo John Jay College of Criminal Justice of the City University of New York que desde 1950 mapeia e cataloga as acusações feitas contra padres que abusaram de menores de 18 anos. Os números mostram que os casos de pedofilia dentro da igreja são de ordem tal que superam a incidência na sociedade secular. No mínimo quatro vezes mais crianças são estupradas ou levadas a ter relações sexuais com adultos dentro de uma igreja católica do que fora dela.

"Só nos EUA, único lugar com estatísticas concretas sobre padres que cometeram abusos sexuais [com menores], 4.392 sacerdotes católicos foram denunciados por esse tipo de crime entre 1950 e 2002. Isso dá 4% do total de pessoas que exerceram o sacerdócio no país nesse período. Um número alto, ainda mais tendo-se em mente que menos de 1% da população pode ser classificada como pedófila."


Só pra lembrar e para não dizerem que é um herege/maldito ateu falando, Cláudio Hummes, cardeal prefeito da Congregação para o Clero do Vaticano, reconheceu em entrevista ao jornal espanhol El Periódico Extremadura que casos de pedofilia afetam 4% dos padres católicos, o que representaria cerca de 20 mil sacerdotes em todo o mundo. Um exército sistematizado de 20 mil homens que desfrutam da proteção de uma megainstituição que preza por demais por sua imagem e poder, que usa sua fortuna para esconder da mídia seu protetotado, que na grande maioria dos casos é reincidente e confiante na imunidade garantida pelo alto clero.

Cabe então aqui versar sobre as estatísticas demográficas [1] [2] de gays e lésbicas. Nos Estados Unidos, 4% da população votante se declara homoafetiva (se levarmos em conta que o processo democrático por lá é facultativo e que é um país extremamente religioso, praticamente com alvará assinado para ser uma teocracia, esse número pode ser muito maior, posto que muitos ainda devem estar trancados dentro de seus respectivos armários), assim como entre 6% e 20% na Europa, respectivamente para os bretões e noruegueses, esses últimos muito mais próximos do número que eu estimaria com chance menor de errar. De posse desses dados bem preliminares, já dá pra ter uma idéia de onde podemos chegar. Pra começar, não dá pra afirmar a partir deles que a população é homogênea numericamente e equidistribuída em seus nichos. Por exemplo, que menos de 1% dos 4% que se assumem gays nos EUA são pedófilos. Da mesma forma que o contrário também não pode, daí a declaração do cardeal Tarcisio Bertone é falaciosa, como de hábito; no mínimo desinformada e preconceituosa. Como controle de danos é uma prática comum nos arredores da Praça São Pedro, parece que a ICAR prefere ser chamada de reduto de homofóbicos do que antro de pedófilos.

Nenhum comentário: