4.4.10

Mulher de malandro

O que é um católico senão aquela mulher enganada pelo marido e que insiste em sua santidade, não querendo ver o canalha que ele é? Que leva na cara de vez em quando mas ao invés de rebelar-se e denunciá-lo, calca dentro de si a certeza de que aquilo foi só porque ele é a cabeça da casa, e que é direito dele aplicar corretivos pois ele pode, ele é o homem, ele é representande do divino na terra. Que prefere conviver com o facínora que a agride, que a tolhe e que limita seu potencial pois desconhece a vida sem seu homem, que a parasita e se aproveita de seu trabalho. Desconhece que existe um vida fora daquela casa de horrores antiquada, dissoluta em seus valores há muito defasados, retrógrada em suas maneiras, débil em seus rituais decadentes, que exige respeito sem no entanto dar-se ao respeito. E que sempre escuta desculpas esfarrapadas, que acredita que ele vai se regenerar, apenas para uma semana depois estar novamente no lixo boêmio que desafia até as leis da sociedade. Infindas desculpas, intermináveis historinhas que só a mais crédula criatura poderia exercer a falta de dignidade de fingir que acredita na sua regeneração. O eterno marido nunca se cansa de arranjar seus cúmplices para justificar seus atos. Tem em seus comparsas o álibi perfeito para todo tipo de comportamento inadequado. Sabe que a ignorância da sua propriedade não tem fim e que é mansa, dócil e aceita qualquer coisa em seus terminais. O que é um católico senão a pobre coitada que mesmo com o rosto ainda dolorido pela surra, submete-se aos seus caprichos, oferecendo seu espírito à sodomia santificada da negação da realidade.

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