24.1.09

Campanha pela adoção do Divinismo

DIVINISMO é a figura de linguagem da classe dos vícios que constitui do hábito, por vezes reflexo, de atribuir a instâncias divinas, superiores ou mesmo místicas, os acontecimentos do dia-a-dia.

Publiquei essa introdução na postagem sobre a igreja da Renascer que tragicamente desabou em São Paulo na semana passada. A Mais recente notícia que chocou o país foi a morte da modelo Mariana Bridi, vítima de uma infecção renal que agravou-se para um quadro generalizado que veio a matá-la na madrugada desse sábado. Uma fatalidade e uma grande perda sobretudo para a família que teve que segurar a imensa barra de acompanhar o modo como a filha definhou dia a dia, tendo as mãos e os pés amputados numa tentativa de salvar-lhe a vida.

Agnaldo Costa, pai da modelo, afirmou, durante o velório da filha, que a morte dela foi uma "decisão de Deus". "Nós perdemos a batalha, mas não a guerra. Deus foi mais forte que eu e, por isso, a escolha dele é levar a Mariana. Mas ela vai estar sempre em nossos corações", disse.

Sem no entanto querer ser hipócrita, entendo perfeitamente que tipo de dor esse pai está passando agora. Perder uma filha com tanto potencial, bela como poucas, de modo tão sofrido é um avassalador baque para qualquer um. Mas não compreendo como prosseguem com essa síndrome de Jó, mulher de malandro (créditos ao Rato da Ex-Evangélicos pelo jocoso apelido). Crentes insistem em continuar submissos às suas ilusões particulares, negar todo o esforço feito por médicos para manterem sua filha viva para no final arrematarem com um simplório e insosso "deus quis assim".

Por essas e muitas outras estou iniciando uma campanha para esse vício de linguagem ser adotado oficialmente pelas gramáticas responsáveis por gerir as regras gramaticais, morfosintáticas e de léxica no Brasil. É um fenômeno muito recorrente para ser ignorado e reflete bem o que meramente é esse barbarismo que é atribuir tudo o que acotece a deus e demais genéricos divino.

Quem tiver algum tipo de conhecimento acerca da maneira como essas decisões são tomadas pelo Ministério da Educação ou qualquer outro órgão que seja responsável pela inclusão de novas regras regentes da nossa língua portuguesa, deixem uma mensagem ou mandem um email para canecaorbital@gmail.com.

13 comentários:

Rodrigo Braga Alonso disse...

Por curiosidade, qual seria outro exemplo de "figura de linguagem da classe dos vícios"?

Anônimo disse...

MN, Vamos iniciar uma campanha por uma cadeira para você na Academia Brasileira de Letras por essa contribuição à Língua Portuguesa. E olha que reforma ortográfica nenhuma se provou tão útil.

Anônimo disse...

Quando dei a minha familia a notícia de que havia tirado nota máxima no TCC, já trataram logo de dar graças a deus. Na mesma hora, eu intervim e disse: "Graças a deus? Como assim? Que eu saiba, não foi deus que gastou a maior grana com livros e impressões, nem virou noites pesquisando e escrevendo, muito menos foi lá no auditório apresentar os resultados. Fui eu quem fiz tudo, eu é que mereço os créditos e as graças. Não por ser arrogante e metida, mas por mérito, afinal eu tenho o direito de 'me achar o máximo' pelo que eu consegui".

Eles ficaram mudos e mudaram de assunto. Mas não pediram desculpas pela ofensa. Deus devia ser processado por ferir propriedade intelectual.

Felipe disse...

@Rodrigo Pleonasmo vicioso:

Exemplo: "cale a boca"

Unknown disse...

Concordo com a Honey,

Rodrigo para ABL rsss.
Pode ter minha prenseça lobista nesta campanha.

Quanto à inclusão... Vamos pesquisar!
De algum modo as palavras e citações são inseridas na gramática. Vamos descobrir e declamar nossas opiniões.

DIVINISMO já na Gramática Brasileira!

-.-

Quando você citou dos pais da modelo sobre Deus, lembrei de um amigo meu, o André (dono do blog www.blogdoherege.blogspot.com), quando conversávamos sobre a 'mania' dos brasileiros de tudo alinhar a Deus. Ele brincou, inclusive, com as faixas de carros que vem com "Foi Deus quem me deu", e assim fez uma faixa para o vidro do dele:"Foi meu dinheiro que comprou!".

Nada tenho contra religões. Creio em um ser superior, mas sou agnóstica. Cada um dá o nome que quiser. Mas essa mania de achar que tudo é culpa ou vontade de Deus cansou já. Ninguém aqui terá culpa não?? Hipocrisia é f...

Ui... cansei...

Ariane Rocha disse...

Acredito que você deveria tentar buscar entender os motivos das pessoas se apegarem tanto a divindades nestes momentos difíceis!
O Povo já leva uma vida difícil, cheia de problemas que não podem resolver.
“Imagina o Pai desta modelo chegando à TV e falando:” minha filha morreu porque foi um tanto quanto relaxada com sua saúde, teve uma infecção que não cuidou direito e deu nisso, a infecção aumentou e ela morreu! "

Você não acha simples Rodrigo???

Eu não sou apegada a religiões, acredito no acaso... Mas isso não vem ao caso.
Só procuro entender a dor das pessoas e acreditar que para elas seria muito mais difícil se não houvesse um “deus" para quem elas pudessem atribuir suas Glórias e/ou Pesares.

Pense nisso.

Rodrigo Souza disse...

Ariane, conheço muito bem o motivo que faz do divinismo ser vírgula em quase qualquer frase de uma pessoa mediana ocidental: cultura herdada em modelo tradicional inquestionável.

Sim, simples assim.

Rodrigo Souza disse...

Esqueci de responder ao meu xará que encabeça os comentários do presente post, antigo debatedor meu por e-mail. Fico feliz que ainda volte aqui vez ou outra!

Eis uma lista simplificada de alguns deles: BARBARISMO, SOLECISMO, CACÓFATO, ECO, COLISÃO, HIATO, AMBIGÜIDADE, PRECIOSISMO, ARCAISMOS, PLEBEÍSMO e, claro, PLEONASMO/TAUTOLOGIA (alguém aí lembrou de Nós na Fita?)

Mais informações acerca de seu uso podem ser encontradas em qualquer boa gramática, mas aqui já tem um link que pode ajudar a elucidar os exemplso dados.

Obrigado mais uma vez pela leitura!

Rodrigo Braga Alonso disse...

Eu volto quando você atualiza, mas você só atualiza quando morre algum crente, aí fica foda. =P

Eu perguntei porque tinha dúvida se existia alguma regra assim tão ligada ao conteúdo e ao contexto quanto você propõe.
O problema é que uma mesma frase pode ser divinismo ou não dependendo do contexto, dependendo não do modo como nos comunicamos (como é o caso do arcaismo) mas da crença pessoal de duas pessoas que se comunicam bem.

Se um ateu diz "graças a deus" por mero costume, eu concordo que poderia ser um vício de linguagem, mas se um crente diz, não é vício de linguagem, ele está falando algo que pra ele é um fato. Ele pode estar errado, mas não é um vício de linguagem.

Claro, se uma máquina do tempo traz alguém do século XVII, o que ele disser não vai ser arcaísmo, mas é questionável se falamos exatamente a mesma língua.

Silvana Persan disse...

expressão que mais me incomoda: "graças a deus". não ligo para certos vícios de lingüagem, mas quando alguém fala "graças a deus", principalmente quando está se referindo a algo que eu (ou outra pessoa) me matei de dedicação para fazer bem feito, sinceramente me irrita.
acho que se as pessoas que dizem amar tanto a deus realmente o amassem, tirariam o seu da reta e assumiriam suas próprias responsabilidades.

bjs

Anônimo disse...

Rod, o divinismo cai dentro da definição de auxese, já que qualquer merdinha que acontece na vida do fulano é "graças a D'us", como se ele fosse a a única coisa com o qual a suposta divindade deveria se preocupar.

Anônimo disse...

@Rodrigo dos vícios:

Se um ateu diz "graças a deus" por mero costume, eu concordo que poderia ser um vício de linguagem, mas se um crente diz, não é vício de linguagem, ele está falando algo que pra ele é um fato. Ele pode estar errado, mas não é um vício de linguagem.

A língua não é algo do indivíduo, ela é social, uma realização da expressão linguística é pessoal, mas a forma como ela é interpretada é delimitada pelo espírito do tempo da sociedade em questão. Infelizmente, "graças a D'us" ainda é algo que a sociedade considera como uma expressão de bom gosto. E no caso de quem repete demais essa expressão, ela se torna um vício que se encaixa em mais de uma categoria de figuras de linguagem facilmente.

Rodrigo Souza disse...

Valeu a colaboração, Rafael!

Estou surpreso como esse assunto tem desenrolado com participação recorde de comentários (sim, 12 comentários para o Caneca Orbital é coisa pra cacete! hehehe)