15.3.08

Malleus Maleficarum

Em virtude de estar nos preparativos para iniciar meu projeto de mestrado, cujo assunto se dá em torno do filme Clube da Luta (David Fincher - 1999) e sua relação com as mulheres, tenho entrado em contato com alguns materiais que falam da opressão feminina ao longo da história. Embora não pretenda incluir a religião no escopo da minha futura tese, o tema é bastante comum dentro de praticamente todas as crenças e talvez valha citação à respeito, pelo menos aqui.

Trata-se de um dos textos anti-femininos que mais me repulsa, o Malleus Maleficarum (do latim Martelo das Feiticeiras). A obra foi baseada em uma bula emitida pelo então papa Inocêncio VIII e escrita por dois inquisidores ultra-radicais alemães (que certamente não gostavam de mulher) e publicada em 1486 (algumas fontes falam em 1487) e usado durante 250 anos, inclusive pelos protestantes. Os autores desse manual de caça Às bruxas, Heinrich Kramer e Jakob Sprenger, além de repetir e ampliar preconceitos e falácias sexistas de Santo [sic] Agostinho com pérolas do tipo

"Mulheres não deveriam ser educadas ou ensinadas de nenhum modo. Deveriam, na verdade, ser segregadas já que são causa de horrendas e involuntárias ereções em santos homens" (!)

Escoltando essas tragicômicas teorias, o livro trazia intruções detalhadas sobre métodos de tortura para se obterem confissões, tão desumanas, tão cruéis, tão sádicas que nem vale menção ou referência aqui. Procurem por si mesmos se interessar. Minha intenção aqui é de relatar coisas do calibre de

"Quando uma mulher pensa sozinha, ela pensa maldades"

"Se uma mulher se atreve a curar sem ter estudado, ela é uma bruxa e deve morrer"

"A mulher é uma mentirosa por natureza (...) ela é uma inimiga insidiosa e secreta"

"Elas são mais fracas de espírito e corpo (...) as mulheres são, intelectualmente, como crianças (...) as mulheres têm memória mais fraca e é um vício natural nelas não serem disciplinadas mas obedecerem a seus próprios impulsos sem noção do que é apropriado"

"E convém observar que houve uma falha na formação da primeira mulher, por ter sido ela criada a partir de uma costela recurva, ou seja, uma costela do peito, cuja curvatura é, por assim dizer, contrária à retidão do homem. E como, em virtude dessa falha, a mulher é animal imperfeito, sempre decepciona e mente"

"Ninguém causa maior dano à fé católica do que as parteiras"

Aqui cabe um comentário. As parteiras, seja por erudição ou empiricismo, conheciam métodos de parto que minimizavam as dores das futuras mães, comum entre celtas e outros povos considerados pagãos. Esse procedimento contrariava o que está escrito em Gênesis 3:16, quando supostamente o bondoso deus amaldiçoa o gênero condenando-o a dar à luz com dores típicas do parto (Certamente achavam que se não doesse, o diabo estaria agindo...).

Será que a ICAR vai acrescentar um décimo quarto mandamento contra a anestesia perineal?

2 comentários:

Paulo Bacalhau disse...

Mulher: mesmo as ruins são boas!!!
Desigualdade social é pecado?? Só podem estar de brincadeira!!!!! Quero parte dos bens da igreja.
Vou fazer como George Carlin, vou adorar o Sol

Anônimo disse...

É uma pena os pensamentos aí mencionados terem acontecido. Quantos talentos naquela época não foram desperdiçados, quantas mulheres não morreram injustamente? Afinal, nós mulheres somos a melhor parte desse mundo cheio de dores e temores!!!! rs Ainda bem que eu vivo no século vinte e um.