14.11.07

Abóbora e ovos de chocolate na mesma gamela

Andando dia desses pela madruga do centrão carioca, dou de cara com vários desses cartazes colados pelas paredes da cidade.


Cortesia do Movimento Pela Valorização da Cultura, do Idioma e das Riquezas do Brasil (tenho certa antipatia por nomes que tentam explicar muita coisa, mas enfim...). A idéia básica poderia até me fazer dar o mindinho para o pessoal de lá quebrar, afinal, quem já trabalhou na Barra da Tijuca (alforreei-me de lá após quatro longos anos) sabe que é um lugar que para ser uma Miami só não falta o idioma.

Essas manifestações fortuitas na hora do orvalho me lembram sempre do pessoal dos diretórios acadêmicos da faculdade. Aliás, "comem na mesma gamela", já dizia minha finada vó Henriqueta. O DCE lá de onde estudei tinha um bandeirão enorme de Cuba em uma das paredes da saleta, bunker principal para distribuição de apitos e, mais recentemente, narizes de palhaço. Coisinhas de reacionários juvenis, assim como os estandartes, caras pintadas e gritos de ordem. Gente com saudade da ditadura, só pode. Só que esses cartazes antiamericanos, além do mau-gosto estético e da poluição visual que causa, são marcados também pela linguagem ignorante da dicotomização das opiniões, alheios ao fato de que a realidade é construída em tons de cinza. Do mesmo jeito que os religiosos e os partidários políticos extremistas (tanto canhotos quanto destros) enxergam o mundo, sob suas parelhas imaginárias que não lhes permitem o sadio hábito de perceber racionalmente.

À propósito, eu já disse que não gosto de Halloween? Nem de nenhuma dessas datas ritualísticas-comerciais que assolam o país, mas é gosto meu. Imagino o que professoras como a Tia Paula passam nessas épocas com seus queridinhos vestidos de vampirinho e bruxinhas. Já que citei a tal gamela como metáfora para duas ou mais coisas que se assemelham, a única diferença entre a sombria data americana e a Páscoa comemorada aqui são os doces, mas a dor de barriga por consumo em demasia de subprodutos culturais alienígenas é a mesma.

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