30.3.10

Culminando no trono do rei

Essa semana vai passar um monte de filmes na televisão onde pegam um judeu pra Cristo (obrigado @ODarwin). Que segundo a visão do Mel Gibson sangra mais que os Cavaleiros do Zodíaco, em seu filme-sarapatel. Minha mãe chorou. Minha tia chorou. E eu, bem, tive particular apreciação pelo filme, principalmente por Maria Madalena. Ah, Madá...

Enquanto isso, a tradição manda que a massa consuma doces ovóides de chocolate escamoteados por leporinos (ou laparinos, nunca sei ao certo), culminando (e essa palavra é importante, vale ressaltar), nos festejos da ressurreição do rei-dos-reis, apropriadamente celebrada em um belo trono de louça, com aquela percepção de que de um dia pro outro você se tornou um Bubaloo: com recheio líquido.

28.3.10

Cético

É mera coincidência linguística "ético" estar inserido na palavra "cético". Mesmo não sendo proposital, a analogia resultante não deixa de encerrar a verdade: que só a justaposição de idéia faz o intelecto humano progredir, ao contrário da estagnação promovida pelos dogmas monolíticos de eras distantes. A credulidade cega é a maior brecha para um estado de dissolução da cultura racional, do método científico que suporta nosso mundo em troca de uma fé niilista e arrogante apegada a conceitos tão misóginos, anti-modernos e de uma malevolência e interesses secundários de poder terreno oculta em camadas e mais camadas de hipocrisia e ilusão. Esse é o pior que a humanidade pode fazer para si mesma, e nesse sentido nunca nossa espécie esteve tão adiantada com a própria extinção.

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Postagem número 100.

21.3.10

Criação em extinção das telonas brasileiras

Entrou em cartaz no Brasil nessa sexta passada, dia 19 de março, o filme Criação conta a história do cientista Charles Darwin (Paul Bettany) e os dramas por trás do desenvolvimento da Teoria da Evolução, que nessa obra foi relegada a mero pano de fundo para os dramas e conflitos familiares vividos pelo naturalista britânico após a morte de sua filha.


Esse plot pode ser encontrado facilmente em qualquer bom site sobre cinema. Mas uma coisa que me chamou a atenção foi o tamanho diminuto do circuito nacional. Fazendo uma busca básica no Google, dentro das sete maiores metrópoles brasileiras, o filme está em cartaz apenas em 9 salas! 6 em São Paulo e 3 no Rio de Janeiro. Salvador, Brasília, Fortaleza, Belo Horizonte e Curitiba não tem nenhuma sala exibindo Criação.

O que me levou a teorizar conspiratoriamente: será que os setores religiosos estão com tanto medo da divulgação em escala de massa do filme que os exibidores foram bastante modestos com a distribuidora, pelo menos não sofreu o mesmo que nos EUA, cujo filme nem foi exibido pois nenhuma distribuidora* quis se arriscar ao prejuízo de exibi-lo para a neo-teocracia americana, pois seria considerado "too controversial for religious America".

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22.03.2010 09h48

Atualizando o post: graças ao Rodrigo do Sblargh, dei uma fuçada e descobri que a Newmarket Films, a mesma que distribuiu o também polêmico A Paixão de Cristo, adiquiriu no apagar das luzes os direitos de distribuir Creation nos EUA. [1] [2] [3] [4]

19.3.10

Pentecostal (uma dessas aí) faz sessão de descarrego para emagrecer

Quando eu acho que já vi de tudo que se possa imaginar em termos de gente babaca, iludida e seus parasitas naturais aproveitadores, salafrários e demais adjetivos que não cabem aqui enumerar, dou lá uma lida fortuita no Papo de Gordo e vejo ISSO.

O que vem escrito na frente dos templos? Exorcismo do Exú-Pançudo? Vendem barrinha de cereal abençoada? Sai adiposo desse corpo que não te pertence? Deixe Jesus entrar e a gordura sair? Sibutramina santa de Israel?

Sério. Parei de me indignar. Pra quem gosta de merda é uma boa dieta.

8.3.10

Evolução, falácias e resposta ao Gustavo

Bem, Gustavo, como você não deixou email ou blog para uma réplica (típico), sou obrigado a colocá-la aqui mesmo no Caneca Orbital em forma de postagem. Certo que não voltará para lê-la, mesmo assim minha educação exige que seja feito assim. E de quebra gero conteúdo para meu blog. Grato antecipadamente pelo seu ato. Segue abaixo o seu comentário à postagem #2 - ORIGENS.

É meu grande amigo acreditar que o homem com todos os seus órgãos e sistemas mais complexos como a própria ciência diz, veias, artérias, vasos, pele, etc... A natureza com todo o seu ecosistema e todos os animais com suas particularidades, vegetais e suas funções todas muito bem distribuidas é acreditar que uma grande enciclopédia toda recortada em seus volumes foi jogada de cima de um alto edifício e ao chegar no chão estava perfeitamente em ordem por volumes,páginas,capítulos,e sem faltar qualer coisa, e assim é acreditar que tudo surgiu de uma grande explosão, o do nada o homem apareceu, o universo e suas galácias, os sistemas solares existentes... Só o Todo Poderoso podia assim o fazer, que Jesus te abençoe e que Ele possa se revelar a ti com propriedade!!!

A princípio, parece que estou lidando com alguém que é leigo em ciência. Não que eu não seja também, pois minha formação foi para a área de publicidade, mas sempre me interessei pelo assunto, sempre gostei de estudar e, principalmente, passei a duvidar desde que ganhei minha primeira porção de maturidade, lá pelos 15 anos. Vou listar primeiro o disgnóstico a partir do seu texto e em seguida teço considerações a respeito:

1) Você não tem instrumentação básica para falar sobre ciência mesmo em níveis elementares. Daí confundir complexidade com perfeição.

2) Apega-se a falácias para justificar seus pontos de vista, mas não se sinta isolado. Nada é mais tipicamente religioso do que isso.

Agora posso dar início à parte que me cabe:

1) Em primeiro lugar, recomendo você a driblar o que seu clérigo certamente falou para você e estudar sobre evolução das espécies através da seleção natural. Nela há todo tipo de argumento científico, ou seja, com provas reais que podem ser comprovadas por outros estudos de áreas distintas (acostume-se com esse raciocónio se pretende fazer do comentário crítico em blogs céticos uma constante), que acumulam-se a fazem da evolução das espécies um fato.

Em termos bem gerais, evolução por seleção natural são os milhares de acúmulos de sutis modificações que o genótipo de uma espécie acumula através de uma escala temporal muito mais extensa que uma vida humana pode acompanhar in loco. Essas mutações podem ou não beneficiar um indivíduo. E beneficiar significa não ser trucidado e morto e, como recompensa, sobreviver para se reproduzir e passar essas modificações pra sua prole. E isso vale para coisas tão simples como uma pelagem que facilite a camuflagem até coisas muitíssimo complexas como um olho ou uma asa. Clique no link acima para dados muito mais concretos direto dos senhores do CetNet. Em tempo, não, não somos perfeitos.

2) Quanto a falácias, bem você usa uma das mais manjadas, que nada mais é que a variação do Ferro-Velho e do Boing747. Torno a dizer, típico. Mas vou ser didático. Assim se você ler isso e decidir voltar aqui para uma conversa, vai evitar de passar vexame por ignorar uma regra de argumentação. Vejamos o que um dicionário comum fala sobre falácia (é Wikipédia, eu sei. Mas por hora vai servir isso mesmo):

Uma falácia é um argumento logicamente inconsistente, sem fundamento, inválido ou falho na capacidade de provar eficazmente o que alega. Argumentos que se destinam à persuasão podem parecer convincentes para grande parte do público apesar de conterem falácias, mas não deixam de ser falsos por causa disso. Reconhecer as falácias é por vezes difícil. Os argumentos falaciosos podem ter validade emocional, íntima, psicológica ou emotiva, mas não validade lógica.

Percebe? Seu argumento tem um certo verniz que pode convencer ao incauto ou ao menos preparado, mas realmente não convence tampouco abala quem sabe um pouquinho mais. Inicialmente, claro que perdoado pelo seu desconhecimento de rudimentos científicos, compara uma estrutura inicial complexa (a enciclopédia antes da queda) é dividida e embaralhada (queda) e por fim encontra restauração na mesma ordem inicial (enciclopédia pós queda).

Não querendo perder mais tempo aqui do que o merecido, basta comparar que a estrtutura inicial da vida foi feita com blocos muito simples e que foram desenvolvendo complexidade a medida que o tempo em escala geológica (muito, muito fora de nossa compreensão empírica permite) e não a uma enciclopédia completa. Esse mesmo tempo muito grande é comparado a uma queda de um prédio, desconsiderando que o tempo real é da ordem de milhões de vezes mais dilatado que a comparação.

Voltando então à falácia, você praticou é uma das muitas faces do que é chamado de reductio ad absurdum, comparando e diminuindo os processos naturais que regem a evolução das espécies por seleção natural a um mero farfalhar de folhas soltas de uma enciclopédia. E meu caro Gustavo, se ao invés de atirá-la do décimo andar você se dignasse a lê-la, certamente não falaria tantas besteiras por aí.

6.3.10

Calvin & Haroldo [1]

Uma grande pena Bill Waterson ter parado com as tirinhas do Calvin para ter se dedicado a pintura. Lembro de todo domingo de manhã no Globinho, quando meu pai colocava o jornal da mesa e desmontava-o, separando imediatamente meu jornalzinho. Eram pérolas semanais de sarcasmo, ceticismo, lucidez e inteligência que infelizmente não tinha cabeça na época pra sorver.

1.3.10

O Universo em escala

Um dos maiores problemas para a divulgação científica, sobretudo dentro do campo da física, é a compreensão das escalas fora do nosso universo palpável e visível. Coisas muito grandes ou muito pequenas, na esfera do além planetário e do mundo microscópio, são geralmente incompreensíveis para a pessoa comum que não tem nenhuma base melhor do que fora aprendido no ensino médio.

A proposta dessa ferramenta é libertar do imagético as elocubrações enigmática acerca da matéria e trazer para o mundo compreensível, visível, real. O que nos leva a concluir que essa mesma matéria de que somos feitos, "poeira de estrelas" como dizia Carl Sagan, pelo menos nas mais aceitas teorias atuais, é tão ínfima, efêmera, quase que inexistente de tão pouca massa, que dá pra se concluir que somos feitos de maior parte... de quase nada.


Dê play e deslize a barra para a esquerda para encolher a escala e a direita para aumentá-la. E boa viagem!

Créditos para o Jovem Nerd, de onde eu vi primeiro essa ferramenta, que por sua vez catou lá no O Velho. A postagem original foi no excelente portal Newgrounds. Vale a pena dar uma olhada direto na página original onde é possível ampliar a janela e ver mais detalhes.