25.6.08

The Deep

Enquanto termino a continuação da minha postagem sobre "meu" ateísmo e batalho para terminar de corrigir pilhas de provas e trabalhos, deixo uma dica para quem gosta de biologia, evolucionismo e acha que perdeu em algum lugar a capacidade de se assombrar e maravilhar com a variedade de formas de vida que existem no nosso planeta.


The Deep: The Extraordinary Creatures of the Abyss, é um livro de fotografias da jornalista e diretora de documentários Claire Nouvian, que percorre o mundo há mais de dez anos para filmar séries sobre animais. Vejam a galeria de fotos, que é sensacional!

Sua paixão pela fauna submarina e pelo mergulho, levou-a a especializar-se neste domínio. Participou na escrita e realização do filme Microcéan, escreveu Océanoutes, um documentário sobre a conquista das profundezas e realizou um documentário científico, Expédition dans les Abysses, sobre a reciclagem das carcaças das baleias no fundo dos mares. Em Outubro de 2005 foi correspondente da missão oceanográfica do Instituto de Investigação Harbor Branch, no Golfo do Maine. Recebeu vários prémios como escritora e realizadora de vários filmes.

Simplesmente PRECISO comprar esse livro, que infelizmente não foi traduzido para o português. Vou ter que morrer em uma grana na Amazon...

1.6.08

#2 - ORIGENS

Voltando mais uma vez à definição enciclopédica da palavra ateu que consta na Larousse: "Aquele que nega a existência de qualquer divindade". Para começo de conversa, além de conter o erro ético de empregar adjetivos pejorativos como se fosse verdade absoluta, a definição peca pela imprecisão do termo negar. O fato de alguém ser ateu não necessariamente implica em uma negação da existência de instâncias divinas que atuam no mundo. O correto seria dizer que o ateu nega credibilidade à idéia da existência de deuses pelo fato dela não conter nem sombra de consistência que a faça parar de pé. É um exercício de fé e não de razão acreditar em deuses.

Suponha que um homem que você nunca viu na vida lhe aborda na rua educadamente e propõe o seguinte negócio.

"Amanhã nesse mesmo horário você me empresta 10 mil reais, ok? Dou-lhe minha palavra que será devolvido em uma semana no máximo com uma boa gratificação, evidentemente! O que me diz? Temos um acordo?".

Evidentemente que nem a pessoa mais estúpida do planeta engoliria essa história e é perfeitamente normal se questionar quanto aos termos da proposta: Que garantias ele dá para que você confie nele? Porque ele está fazendo essa proposta tão informalmente? Como confiar em um estranho uma soma tão alta? Note que você não o está acusando de ser desonesto, apenas que ele não goza junto à você de credibilidade. Talvez ele seja realmente um investidor honesto e disposto a compartilhar com você um bom lucro instantâneo. De qualquer forma cabe à ele provar isso a você, ou então nada feito. Procedimento semelhante é empregado por ateus ao negar credibilidade ao conceito de divindades. Que aqueles que crêem provem que estão certos, se puderem. À essa imputação de dever provar os advogados chamam de ônus da prova, que nada mais é que uma ferramenta de lógica argumentativa. Resumidamente é usada para definir quem é a pessoa responsável por sustentar uma afirmação ou conceito, no caso aquela que o faz primeiro. Uma definição simples e sem jargões de advocacia pode ser encontrada aqui.

Em 6 mil anos de história humana nenhuma migalha de prova foi oferecida como forma de defender a existência de deuses. Nada mesmo. Todas as experiências sobrenaturais alegadas como verídicas acabam por terra quando submetidas a uma análise mais cuidadosa. Vida após a morte, milagres, intervenções, curas e visões nunca passaram realmente de uma fantasia, no caso dos mais criativos, de ingenuidade por parte dos crédulos e má-fé daqueles que usam o conceito do divino para fins próprios.

Como deixei de acreditar há muito em bicho-papão e Papai Noel (tampouco tive amigos imaginários, só reais), não cabe a um adulto sadio e inteligente dar mais crédito às historietas religiosas do que uma mera manifestação cultural. Além do mais, como saber qual das milhares de crenças existentes no mundo aquela que é a verdadeira? Pode-se até concluir que a condição religiosa é mais um acaso do que uma opção em si. As chances alguém nascido no Brasil seguir algum dos ramos do cristianismo ocidental por influência dos pais, escola e outros stakeholders sociais é bem grande. Agora, tivesse você nascido no Afeganistão, suas certezas seriam outras, seus dogmas seriam tais que certamente entrariam em conflito com sua "verdade" atual.

Se a religião é uma besteira sem sentido e assincrônica em nossa moderna concepção de realidade, o que sobra para compreender o mundo em que vivemos?

Ciência, das mais variadas áreas e escopos, abrangendo um espectro imenso e praticamente total da condição humana. Aí você me pergunta "o que faz a ciência ser correta? Porque ela merece crédito?" Por causa do Método Científico; a lógica aplicada à pesquisa acadêmica. A partir da observação de determinada fenomenologia, o pesquisador elabora uma hipótese e passa a tentar quantificar, mensurar, anotar tentativas, experimentar e comparar até chegar a alguma conclusão. É um trabalho tão complexo e estruturado que mesmo quando uma hipótese se mostra errada, ela ajuda a ciência a caminhar, uma vez que evita que todo o processo se repita desaguando nos mesmos resultados negativos, desperdiçando recursos. Tais resultados são publicados detalhadamente em revistas e periódicos, estando disponíveis para qualquer cientista no mundo aproveitar ou contestar os resultados obtidos através do peer review. Nesse último caso, haverá intensa pesquisa até que as provas apareçam e levem o conhecimento a um novo patamar mais evoluído. Pode acontecer que talvez não consiga provar o contrário, o que acaba por validar ainda mais as teorias envolvidas.

Se você acredita em deus, é grande a probabilidade de que você ache que sou um herege, já que não respeito a religião (no máximo aceito o direito de credo de alguém, mas nunca o objeto de sua crença). Se você buscar a origem do termo heresia verá que ela descende de uma palavra grega que significa escolha. Tomar determinada mitologia como sendo parte da realidade pode até servir muito bem para aquelas pessoas que não tem um compromisso muito sério com a racionalidade. Não que isso tenha alguma coisa a ver com opção mas com imposição, afinal a grande maioria dos crentes está preso à uma rede de valores socio-culturais que nos é imposta desde muito cedo. Uma tradição ingrata perpetrada geração após geração.

- - -