9.11.11

Sagan Day (09/11) #saganday

Nascia nessa data em Nova York Carl Edward Sagan. Além de astrônomo, foi uma das maiores forças de divulgação científica que o mundo já conheceu. Hoje Carl Sagan estaria completando 77 anos se não tivesse sucumbido aos 62 de grave câncer na medula óssea chamado mielodisplasia, depois de uma batalha de dois anos.

Apesar de não aparecer nos TT's (shame on you, worldwide...), como parte da festa a NASA e o SETI Institute prepararam uma trilha sonora especial, que pode ser baixada para relembrar sua obra máxima, o documentário Cosmos. Autor de duas dezenas de livros, entre eles sua obra máxima, Cosmos, adaptado para televisão e que deveria ser obrigatório ser assistido por jovens do Ensino Médio (monstruosidades como as pérolas do Enem seriam reduzidas, sem dúvida). Outros livros importantes foram Os Dragões do Éden, pelo qual recebeu o prêmio Pulitzer de Literatura (e que tenho a honra de ter um exemplar dado por alguém que eu gosto por demais, minha amiga Joyde), O Romance da Ciência, Pálido Ponto Azul e O Mundo Assombrado Pelos Demônios, que através do talento e da voz de Igor Cavalcanti pode ser apreciada e baixada gratuitamente em mp3 na forma de um audiobook.

Escreveu ainda o romance de ficção científica Contato, adaptado para o cinema em 1997 e protagonizado pela Jodie Foster. Sua última obra, Bilhões e Bilhões, foi organizada, compilada e publicada postumamente por sua esposa e colaboradora Ann Druyan. Bilhões e Bilhões é um compêndio de artigos inéditos escritos por Sagan, tendo o capítulo final, O Vale da Sombra, sido escrito por ele enquanto se encontrava no hospital.

Muitos me perguntam como é possível enfrentar a morte sem a certeza de uma vida posterior. Só posso dizer que isso não tem sido um problema. Com ressalvas quanto às "almas fracas", partilho da visão de um dos meus heróis, Albert Einstein:

Não consigo conceber um deus que recompense e puna as suas criaturas, nem que tenha uma vontade do tipo que experimentamos em nós mesmos. Não consigo nem quero conceber um indivíduo que sobreviva à sua morte física; que as almas fracas, por medo ou egoísmo absurdo, alimentam esses pensamentos. Eu me satisfaço com o mistério da eternidade da vida e com um vislumbre da maravilhosa estrutura do mundo real, junto com o esforço diligente de compreender uma parte, por menor que seja, da Razão que se manifesta na natureza.

#saganday

5.8.11

Orgulho para quem não tem do que se orgulhar

O orgulho hétero atual repousa apenas na implicância do "se eles podem, também posso", em alguns casos em prol da "moral e bons costumes". Vamos levar em consideração que o gay/lésbica, apenas por ser gay/lésbica, está submetido aos héteros em diversas escalas sociais, tem tolhidos os seus direitos básico até em cláusulas constitucionais. Em suma o gay/lésbica tem menos privilégios por o ser do jeito que ele ou ela são. Comparativamente falando, é como excluir alguém de importantes direitos sociais por uma característica qualquer, por exemplo, mulheres não podem votar (até 1893, Austrália), negros não podem frequentar o mesmo ambiente que brancos (até 1960-70 nos EUA), judeus são uma sub-raça e não merecem o mesmo que a raça pura ariana (até meados do séc. XX).

Numa comparação talvez exagerada, comparando a exaltação do hétero com a extrema direita européia, movimento político protecionista que vigorou durante meados do século XX em alguns países como a Alemanha e a Itália, tinha por função a manutenção do privilégio através do nacionalismo e o banimento daqueles que são considerados estrangeiros, diferentes, párias sociais, em alguns casos levando à aniquilação sistemática, no caso dos judeus.

Quando alguém brada que tem orgulho de ser hétero, brada também, conscientemente ou não, que tem orgulho de sua posição numérica superior, de seus privilégios segregários, de sua posição social elevada, pois é isso que ser hétero é em nossa sociedade. Ter mais privilégios que a contrapartida. É ter orgulho da dominância, muito diferente do caso gay, que é ter orgulho da perseverança e prosperar em terreno tão hostil como o ocidente de hoje. E quando falo prosperar refiro-me a alçadas tão simples para a orientação dominante, como buscar felicidade com alguém, expressar seu amor em públicomo como qualquer hétero sem ser incomodado com isso, poder ter qualquer profissão que seu talento permita sem ter que se ver tolhido desse direito, construir família, ter filhos, empreender para construir uma vida à dois.

Nada contra se orgulhar. É ótimo para a auto-estima, mas desde que de realizações, não de algo com o qual se nasce naturalmente. Qual tipo de dificuldade você enfrentou para ser hétero? Nenhuma. Qual medalha é merecida quando a vitória chega através de dopping? Nenhuma. Qual o valor de zerar um jogo jogando na mais baixa dificuldade? Nenhum.

Esse panorama social vexatório está mudando sim, sem dúvida (It's gets better![1] [2] [3]), mas ainda longe de ser apenas passado. E não cabe pedir tempo, que a sociedade vai mudar aos poucos. Nenhuma renovação/revolução social começa através de quem oprime, e sim de quem é oprimido. Nunca é de quem detém os privilégios, mas sim de quem os anseia.

A escravidão, condenada hoje, era prática comum no passado. Precisamos de milênios antes de notarem que submeter outro ser humano, negociar sua propriedade e sua liberdade era algo execrável. Para nossa vergonha como brasileiros fomos os últimos a abolir essa prática nas Américas. Foram necessários séculos de rebeliões como a de Spartacus, quilombos como os de Zumbi dos Palmares e luta para que isso acontecesse. Poderíamos dizer para alguém posto à ferros um confortável "dê um tempo"?

O feminismo tem mais de um século e ainda é hostilizado, vilipendiado e discriminado. Se as mulheres dependessem da "boa vontade" masculina em reconhecer a igualdade de gênero, estariam ainda nos servindo humildemente, sendo nossos objetos de prazer e ainda proibidas de frequentar os círculos de poder. Foram necessárias décadas de queima de sutiãs, de luta como a de Sakineh Ashtiani, Ameneh Bahrami, das milhares de meninas com o clitóris extirpado todos os anos para que isso acontecesse. Poderíamos dizer para alguém objetificado um confortável "dê um tempo"?

Esse início de milênio é o tempo da "rebelião" gay, de sua imposição de seu papel social e de seus direitos inalienáveis. Nunca eles tiveram tanta voz, tanta importância e tanta vontade de se emancipar. E não é tão recente, uma vez que homossexualidade simplesmente faz parte da natureza animal, quer gostemos disso ou não. Não há descrição de civilização alguma, de qualquer época, que não faça referência à existência de mulheres e homens homossexuais. Apesar dessa constatação, ainda hoje esse tipo de comportamento é chamado de antinatural, abominável. Não dá para dizer para alguém agredido por ser gay um confortável "dê um tempo"! Não quando muitos são humilhados, espancados, deformados e mortos todos os dias.

Se as pessoas ao menos entendessem o porquê do orgulho gay, não se precipitariam a aventar a possibilidade de um orgulho hétero. Assim como não proporiam uma marcha masculina porque há uma mais ruidosa e necessária pelas ruas. É tão descabido quanto ter orgulho de ser bípede.

Em suma: ser gay, ser mulher ou ser negro é jogar no VERY HARD. Sempre. E tenho uma certa vergonha de ter levado quase três décadas para finalmente compreender que passei a vida toda sendo um n00B.

28.6.11

Sua respiração. Agora.

Você se dá conta que está respirando manualmente, expirando o ar aquecido que você sente atrás do céu da sua boca.

Você se dá conta que cada vez que você engole escuta um pequeno ruído em seus ouvidos. O ar entra mais frio agora e você respira um pouco mais profundamente.

Você percebe seu nariz constantemente nas bordas inferiores de sua visão periférica. Move a cabeça para confirmar.

Você se dá conta que sua língua é incapaz de encontrar um lugar confortável dentro de sua boca. Engole de novo. Escuta o ruído. Abre um vazio na boca e deita a língua na saliva do fundo.

Você se dá conta que vive o tempo todo no piloto automático e não nota quando reage ao invés de pensar. Pare e reflita antes de falar outra merda preconceituosa sobre qualquer coisa.

Sua respiração. Agora.

19.6.11

"Quatro pernas bom, duas pernas ruim"

O que é o preconceito senão a pretensa cura para a própria baixa auto-estima? Diminui-se a importância do outro para que, em proporção, possa parecer maior, mais forte, mais privilegiado. Demoniza-se o diferente para que não haja pena em negar-lhes direitos, em solapar-lhes a liberdade. Compensam a própria impotência em se equiparar com os avatares que sua mente classifica como superiores através da subjugação do alheio, da criação e da manutenção de classes, de classificações, de ordenação e de prioridade. O preconceito contra mulheres, homoafetivos (se bem que Davi e Jônatas eram bem mais que amigos, a despeito dos malabarismos semânticos que tem que fazer para abafarem o caso. Leiam 2 Samuel 1:26), escravos (consequentemente no caso ocidental, historicamente extendido aos negros), todos eles encontram respaldo na Bíblia, cuja matriz é escandalosamente patriarcal, misógina e impositora. Desde seus rabiscos iniciais, inventaram regras cuja única pretensa qualidade é ter convenientemente sobrevivido ao tempo. Se foi inspirada, como alguns dizem, a musa dessa paródia de sabedoria é o medo.

Medo de não ser aceito, de não ser bom o bastante, perfeito o bastante. Medo de ser confrontado, daí doutrinam crianças, pois estas não tem ainda o bom-senso treinado para saber distinguir o certo do errado, para que possam espalhar a semente e sua corrente não seja esquecida. E repetem seu mantra "quatro pernas bom, duas pernas ruim", certo que suas vozes são um coro numeroso, balidas em uníssono. Nas palavras do Maldito: "Criou-se uma situação realmente trágica: ou o sujeito se submete ao idiota ou o idiota o extermina."